Américo Ribeiro

No âmbito das comemorações do Dia Internacional da Fotografia, celebrado mundialmente a 19 de agosto, é feito um balanço deste primeiro ano em que o espólio fotográfico de Américo Ribeiro se tornou mundialmente consultável a partir da internet.


O projeto municipal Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro (AFAR), sedeado e promovido pela Casa Bocage, visa essencialmente dar a conhecer a história local a partir dos registos fotográficos de Américo Ribeiro, notoriamente apelidado como “o fotógrafo de Setúbal”, resultando isto da fortíssima da sua ligação à terra que o viu nascer a 1 de janeiro de 1906. É através das lentes deste renomado fotógrafo que se foram registando praticamente todos os aspetos da vida social local num período temporal que vai desde os anos 30 até ao início dos 80 do século passado. Neste fundo documental podemos visualizar praticamente tudo o que de relevante se foi passando em Setúbal, evento a evento, ou data a data, ou ainda, ter-se uma visão de conjunto que pertite igualmente permitir acompanhar-se a evolução da própria a cidade ao longo dos tempos. Esta fonte primária de informação é largamente solicitada pela comunidade académica, para os mais diferenciados estudos, bem como suscita a curiosidade de qualquer utilizador em ver sempre mais.

Tal como indica a atual responsável pelo AFAR, Patrícia Simões, no balanço feito sobre a passagem do primeiro ano desde que as fotografias devidamente digitalizadas e tratadas passaram a poder ser visionadas a partir de plataformas digitais integradas em páginas próprias do Município de Setúbal. O ponto de situação atual é que, “sendo este um projeto em movimento”, refere a técnica municipal, dos cerca de 142 mil registos estão totalmente tratados, à data, 10.620 documentos, não se vislumbrando no ponto atual dos trabalhos a data da conclusão permanente. É que além dos fotogramas está ainda incluído no espólio equipamentos fotográficos, recortes de jornais e documentos pessoais, entre outros materiais, que compõem não só a obra mas igualmente a vida de Américo Ribeiro.

O primeiro aniversário do lançamento do espólio em plataformas digitais é celebrado agora, a par das comemorações do Dia Mundial da Fotografia, e tal como aconteceu aquando no início do processo de disponibilização online, na mesma data, a 19 de agosto do ano passado. Foi nesta altura em que as fotografias começaram a ficar alojadas e acessíveis a todos, podendo ser consultado na página principal da internet do Município de Setúbal, em https://www.mun-setubal.pt/, mas igualmente, e em parceria com o Arquivo Municipal, no sítio próprio deste serviço, em http://xarq.mun-setubal.pt/x-arqweb/, onde se replica o respetivo conteúdo. Nestas plataformas podemos visualizar quase todos os cenários possíveis da vida social setubalense, mostrando-se datas comemorativas, ou eventos que vão desde os mais imponentes ou incontornáveis, tal como as visitas de chefes de Estado nacionais ou estrangeiros ou inaugurações, mas é também possível ver encontros populares, coleções de animais de companhia, ementas de casamentos ou batizados, retratos das profissões tradicionais locais, ou mesmo bilhetes para espetáculos. Tudo isto num variadíssimo e surpreendente espólio que conta mais e ilustra melhor a alma setubalense. Prova-se assim e facilmente a máxima de Fred R. Barnard ao enunciar que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Aqui há provas concretas disso.

Quanto à historicidade deste projeto começou-se pela aquisição pelo município do espólio de Américo Ribeiro aos seus familiares, em 1982, o que numa primeira fase incluiu “os espécimes fotográficos como nitratos ou negativos, ou mesmo as provas”, ou seja, as fotografias em si mesmas, tal como refere Patrícia Simões. Depois, em 1994, foi adquirido o restante espólio, desta vez a incidir sobre máquinas fotográficas e equipamentos diversos como ampliadores ou flashes, recordando-se ainda que o início do AFAR aconteceu pela mão de Bruno Ferro, o técnico que produziu a primeira digitalização, em 2007. Quanto ao processo a preservação digital ocorre sempre em ambiente controlado em termos de condições climáticas e socorre-se das mais corretas técnicas de limpeza e preservação, podendo isto apenas ser realizadas por profissionais habilitados.

As comemorações do AFAR igualmente incluem este ano, de 30 de julho a 10 de setembro, a exposição “Fotografias que contam histórias – A vida em Setúbal captada por Américo Ribeiro”, que pode ser visitada na Casa Bocage de terça a sexta-feira, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, e aos sábados das 15h00 às 19h00, sempre com entrada gratuita. Nesta exposição é possível verificar-se a variedade dos trabalhos deste autor, que passa por se mostrar figuras ímpares da vida local, nacional e até internacional, bem como edifícios ou paisagens icónicas, festividades ou as já referidas profissões locais. Esta multiplicidade que a fotografia confere dá conta de que se pode imortalizar o grandioso e o quotidiano, num passo que ajudou a abrir caminho ao documentário e ao fotojornalismo.

Quanto à data da efeméride, mundialmente celebrada a 19 de agosto, esta está associada aos primeiros passos dados na fotografia, homenageando-se em concreto a invenção do daguerreótipo, um processo desenvolvido pelo francês Louis Daguerre, em 1837, que pela primeira vez permitiu conseguir-se capturar e eternizar-se o que se tem à frente dos olhos. Embora a Academia Francesa de Ciências já tivesse anunciado a invenção do daguerreótipo é somente em 19 de agosto de 1839 que o governo francês reconheceu e considerou a invenção de Daguerre como “um presente para o mundo”.