A exposição, composta por 15 painéis temáticos e algumas das obras literárias de Álvaro Cunhal, como o “Até Amanhã, Camaradas” e o “Cinco Dias, Cinco Noites”, retrata de uma forma sintética o percurso pessoal, político, cultural e artístico do líder histórico do Partido Comunista Português.

“Esta é a imagem de Álvaro Cunhal nas suas diversas facetas”, salientou Manuel Augusto Araújo, assessor para a cultura na Câmara Municipal de Setúbal, numa primeira abordagem aos conteúdos da exposição, que mostra momentos da infância, da chegada a Lisboa, a militância no Partido e a luta antifascista.

“A luta política fê-lo prescindir de ser um artista. Contudo, era uma pessoa de vasta cultura, de uma humanidade tremenda e de uma profunda ligação ao mundo do trabalho e ao povo”, realçou Manuel Augusto Araújo. “Álvaro Cunhal foi, sem dúvida, um grande pensador.”

A mesma ideia foi partilhada por Manuel Rodrigues, da Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. “É um homem que vale a pena recordar e um exemplo de que os políticos não são todos iguais. Marcou a história no século XX e a passagem para o século XXI.”

A exposição biográfica, com fotografias de Álvaro Cunhal em diversos contextos, documentos da clandestinidade e livros, está patente até 31 de dezembro na Biblioteca Municipal de Setúbal, podendo ser visitada de segunda a sexta-feira das 09h00 às 19h00 e aos sábados das 14h00 às 19h00.

Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra, a 10 de novembro de 1913, e faleceu em Lisboa, a 13 de junho de 2005. Filho de Avelino Cunhal, conhecido advogado de Seia, e de Mercedes Barreirinhas Cunhal, foi, além de destacado dirigente comunista, escritor, artista plástico, intelectual e ensaísta.

Aderiu ao Partido Comunista Português em 1931, com apenas 17 anos. Em 1934 foi eleito representante dos estudantes no Senado da Universidade de Lisboa. No ano seguinte é eleito secretário-geral da Federação das Juventudes Comunistas e, em 1936, integra, pela primeira vez, o Comité Central do PCP.

Em 1960 evade-se, com outros presos políticos, todos destacados quadros do PCP, da prisão de Peniche, onde estava encarcerado desde 1949, numa operação marcada por minucioso planeamento e grande ousadia. Em 1961 é eleito secretário-geral do PCP, cargo que ocupa até 1992.

Apesar das difíceis condições dos cárceres do regime salazarista, o antigo líder do PCP consegue dedicar-se à pintura, ao estudo e à leitura e é neste período que faz uma das mais conhecidas traduções e ilustrações da obra “Rei Lear”, de Shakespeare.

Foi ministro sem pasta nos primeiro, segundo, terceiro e quarto governos provisórios depois do 25 de Abril, deputado na Assembleia da República entre 1975 e 1992 e membro do Conselho de Estado entre 1982 e 1992.

A inauguração da exposição biográfica deu início a um programa a dinamizar até ao final do ano de celebração dos 100 anos do líder histórico do PCP, completados a 10 de novembro, promovido pela Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal, com organização local da Câmara Municipal de Setúbal.

“É um orgulho para a Autarquia poder contribuir para a divulgação de uma figura ímpar e marcante da história de Portugal, partilhando a vida e a obra de um homem com uma capacidade multidisciplinar”, realçou o vice-presidente da Câmara Municipal, André Martins.

O autarca recordou que o Município decidiu atribuir, no início de agosto, “o nome de Álvaro Cunhal a uma nova avenida da cidade”, no troço anteriormente ocupado pela EN 10 entre o Alto da Guerra e atual cruzamento da A12 com a Avenida Antero de Quental.

Exposições, colóquios, cinema e teatro são algumas das iniciativas que integram o programa comemorativo que a Câmara Municipal de Setúbal dinamiza até ao final do ano na Casa da Cultura e na Biblioteca Pública Municipal.

Antes desta exposição, foi inaugurada outra, a 27 de setembro, patente na Casa da Cultura até 8 de outubro, com desenhos que Álvaro Cunhal fez nas cadeias do Aljube e de Peniche.