O escritor Domingos Lobo referenciou, em particular, “Até Amanhã, Camaradas” e “Cinco Dias, Cinco Noites”, assinados por Manuel Tiago, pseudónimo literário de Álvaro Cunhal, para os considerar “dois livros fundamentais”.

No colóquio “Álvaro Cunhal escritor”, do ciclo “Álvaro Cunhal e as Artes”, Domingos Lobo salientou que escrever sobre experiências vividas nem sempre resulta em livros de qualidade, mas considerou que aquelas duas obras o conseguiram em pleno.

No caso de “Cinco Dias, Cinco Noites”, Domingos Lobo apontou a ligação ao realismo norte-americano, mais do que, como se poderia esperar, às correntes neorrealistas portuguesa e europeia.

Manuel Augusto Araújo, assessor de cultura na Câmara Municipal de Setúbal, juntou àqueles dois livros a versão portuguesa que Álvaro Cunhal fez de “Rei Lear”, de Shakespeare.

“Não se trata de uma mera tradução. É escrever o livro como se ele tivesse sido escrito em português. O que Álvaro Cunhal fez com o ‘Rei Lear’ é o que Aquilino Ribeiro fez com o Cervantes [D. Quixote e Novelas], assinalou.

Manuel Augusto Araújo, em resposta a uma questão do público, defendeu que o facto de os livros terem sido escritos por Álvaro Cunhal não lhes confere um valor ou uma atenção adicional. “São bons, independentemente de terem sido escritos pelo secretário-geral do PCP, que, é preciso realçar, por força da atividade política, a principal, não teve muito tempo para aperfeiçoar a escrita.”

O ciclo “Álvaro Cunhal e as Artes”, inclui um conjunto de encontros em torno do livro “A Arte, o Artista e a Sociedade”, nomeadamente uma conferência por Manuel Augusto Araújo, dia 17, às 16h00, na Sala José Afonso da Casa da Cultura.

Os três restantes colóquios sobre o ensaio escrito por Álvaro Cunhal, à mesma hora e no mesmo local, decorrem nos dias 24 e 30 de novembro e 1 de dezembro, com leituras de textos do livro por atores convidados e discussão aberta com coordenação e moderação de Manuel Augusto Araújo.

O ciclo culmina no dia 8 de dezembro, também às 16h00, com a exibição de uma entrevista conduzida pela jornalista Clara Ferreira Alves a Álvaro Cunhal, feita na RTP2, a propósito da obra “A Arte, o Artista e a Sociedade”, seguindo-se um debate.

“Álvaro Cunhal e as Artes” é um dos dois ciclos de colóquios dinamizados no âmbito de um programa promovido em Setúbal pela Câmara Municipal, com a colaboração da Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal.

Exposições, teatro, cinema e palestras foram algumas das atividades realizadas, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal e na Casa da Cultura, num programa de evocação do líder histórico do PCP, falecido em 2005, aos 91 anos.