Esta decisão da organização europeia, que se traduzirá na definição de um plano financeiro especial de apoio à recuperação do imóvel, pode, segundo Guilherme d’Oliveira Martins, ser atribuída à “qualidade intrínseca da candidatura apresentada e à importância histórica da cidade de Setúbal”.

Guilherme d’Oliveira Martins, que falava numa conferência de imprensa realizada na sede do CNC, em Lisboa, em que participaram também a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, e Hugo O’Neill, presidente da Associação Portuguesa das Casas Antigas e proponente da candidatura do Convento de Jesus à Europa Nostra, garantiu que estas instituições vão fazer todos os esforços necessários para assegurar a recuperação total do monumento setubalense.

“Não vamos parar”, assegurou o presidente do CNC, até porque, acrescentou, com a distinção concedida pela Europa Nostra, de que o Centro Nacional de Cultura é parceiro, este projeto de recuperação “deixou de ser invisível”.

Oliveira Martins destacou a importância do envolvimento do Instituto do Banco Europeu de Investimento neste processo. “É extraordinariamente importante”, pois constitui um apoio fundamental “para ver como se mobilizam os recursos” necessários à conclusão do processo de reabilitação do monumento que a Câmara Municipal de Setúbal já iniciou.

Maria das Dores Meira, que esteve também em Atenas, Grécia, no Congresso da Europa Nostra em que o monumento setubalense foi considerado um dos mais ameaçados, agradeceu o empenho que o CNC, através do seu presidente, colocou e todo o trabalho que representou a candidatura apresentada pela Associação Nacional de Casas Antigas, sem a qual “não teria sido possível dar nova visibilidade à necessidade de recuperação do convento”.

Neste momento, recordou a autarca, está em curso uma “parte reduzida” da obra necessária à total requalificação do monumento. “Estamos a intervir na estrutura do edifício, numa obra que custa cerca de três milhões de euros, mas fica a faltar toda a restante obra projetada pelo arquiteto Carrilho da Graça, que tornará possível a reinstalação do Museu da Cidade no convento.”

O presidente da Associação Portuguesa das Casas Antigas manifestou a sua surpresa com a escolha do Convento de Jesus pela Europa Nostra. “Foi uma grande surpresa para mim, precisamente no ano em que foi lançado o programa dos sete monumentos mais ameaçados da Europa.”

Hugo O’Neill recordou que Setúbal era a capital efetiva de Portugal quando o convento foi construído. Era nesta cidade que “vivia D. João II e foi aqui que se consolidou o poder da Coroa”. A partir de Setúbal “todo o Portugal moderno começou a ser construído; aqui se concebeu a viagem de Vasco da Gama à Índia” e o Tratado de Tordesilhas foi ratificado no Convento de Jesus, documento fundamental na definição de fronteiras geopolíticas tal como as conhecemos hoje.

A obra neste momento em curso no Convento de Jesus representa um investimento global de três milhões e 200 mil euros e é comparticipada por fundos comunitários com uma taxa de 65 por cento através do PORLisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.

A Autarquia chamou a si a liderança deste processo após receber, por protocolo, a posição de beneficiário da candidatura que pertencia ao IGESPAR, por este instituto da administração central, atualmente integrado na Direção-Geral do Património Cultural, alegar incapacidade orçamental.

As intervenções, iniciadas no final de dezembro, centram-se na ala poente do primeiro piso, que vai ser recuperado para reabertura ao público, acolhendo o acervo do Museu de Setúbal, incluindo a Galeria de Pintura Quinhentista.

A obra na ala poente envolve a reabilitação e o reforço de todas as infraestruturas, a substituição integral de pavimentos e revestimentos das paredes, a remodelação do sistema elétrico e a instalação de redes de comunicação e de um sistema de climatização.

O Convento de Jesus, situado no interstício das muralhas quatrocentistas e seiscentistas, é a principal referência patrimonial de Setúbal, beneficiando de classificação como Monumento Nacional desde 1910.

Fundado em 1490, acolhe, desde o início da década de 60 do século XX, as instalações do Museu de Setúbal, acervo com diversas coleções artísticas, arqueológicas, históricas e documentais de elevado valor, nalguns casos com dimensão internacional.