As sondagens arqueológicas de diagnóstico em sítios identificados na área da Serra do Risco, local da propriedade da Casa do Calhariz onde se realizou a cerimónia de assinatura do protocolo, constituem uma das missões desenvolvidas por uma equipa de trabalho da FBAL, que integra o Centro de Investigação e Estudo em Belas-Artes/Secção Francisco de Holanda.

Lapa da Nazaré, Povoado da Idade do Bronze do Risco/Marmitas, Povoado Neolítico final/calcolítico dos Prados, Povoado Neolítico antigo da Roça do Casal do Meio e Lapa da Cova são os locais a estudar por uma equipa de arqueólogos e espeleólogos com o objetivo de recolher elementos científicos para a elaboração de conteúdos museológicos do Parque Arqueológico dda Arrábida.

O protocolo prevê também a obtenção de dados para o estudo de impacte ambiental e a organização da informação espacial reunida em formato digital numa base de dados georreferenciada.

José Luís Gonçalves, diretor da FBAL, salientou todo o trabalho efetuado, desde há quatro anos, com a elaboração da Carta Arqueológica de Sesimbra, permitindo identificar o património cultural, além do natural, como o Povoado do Bronze no Risco, um brinco de ouro e um santuário fenício na Lapa da Cova, e placas de madeira com escritos árabes, de há mais de mil anos, nas “grutas das janelas”, na Azoia.

Estas descobertas vão permitir desenvolver o Parque Arqueológico da Arrábida como polo de atração turística, aliado à preservação da paisagem e à criação de postos de trabalho.

O professor da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa referiu a importância da “sinergia positiva na região em época de crise” na concretização deste “projeto pioneiro e inovador”.

Uma cooperação que envolve as câmaras municipais de Setúbal e de Sesimbra, que atribuem um subsídio de 45 mil euros cada, valor disponibilizado em parcelas anuais de 15 mil euros, até 2013, ano em que finda o protocolo.

Além deste valor a atribuir pelas duas autarquias, no total de 90 mil euros, destinado a alimentação, alojamento, aquisição de serviços e equipamentos e meios logísticos, Setúbal e Sesimbra comprometem-se a prestar apoio na disponibilização de materiais arqueológicos, bem como de bibliografia que possuam em acervo.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, sublinhou que este protocolo é um “passo importante e decisivo para a criação do futuro Parque Arqueológico da Arrábida”, com todas as valências lúdicas, culturais, turísticas e ambientais, bem como para a elaboração da Carta Arqueológica de Setúbal.

A autarca salientou que, com a criação deste parque pré-histórico, fica garantida uma consciência pública para a importância do património que é a Serra da Arrábida e da sua salvaguarda.

“Esta região, riquíssima do ponto de vista natural, gastronómico e cultural, afirma-se cada vez mais como um polo de atração e de interesse com vista a um horizonte sustentável”, acentuou.

A recriação de povoados pré-históricos e o desenvolvimento de ateliers de tecnologias desses períodos, como o talhar a pedra, o fogo, a cerâmica e a tecelagem, são algumas valências apresentadas, que vão permitir um melhor entendimento da ocupação humana ao longo dos tempos.

Outras ideias estão a ser pensadas, como a de permitir ao próprio visitante ser incluído no processo de construção de cabanas.

Até à concretização do parque/museu, a equipa de investigadores continua com o trabalho científico e de arqueologia experimental, como a recriação em maquetas, que puderam ser vistas numa visita pelos elementos já recolhidos ao longo dos últimos quatro anos.

O espólio, que se vai reunindo na Casa do Calhariz para armazenamento, limpeza, inventariação, estudo e interpretação, uma das cláusulas do protocolo, foi visitado na cerimónia.

Cacos de ânforas de vinho transportadas pelos fenícios, que no final dos rituais tinham de ser destruídas, e que agora esperam a reconstituição, foram mostrados, além de ossos, dentes, tecidos e colares de contas.