Caros Munícipes, Caras Munícipes,
Hoje, como há 250 anos, quando nascia Bocage, impõe-se a ideia de mudança contida na liberdade com que o poeta contaminou muitos dos poemas que nos legou.
Dois séculos e meio depois do nascimento de Manuel Maria, a mudança que advogou nos seus escritos, a frontalidade, o talento e a inteligência com que confrontou poderes abusivos e conquistados com base em falsas promessas mantêm a mesma validade.
Talento e inteligência que depositou também em versos como aquele em que apela aos “Lusos heróis” para que se ergam “dentre o pó” e salvem de “pardais castiços as searas de arroz” arduamente ganhas pelos portugueses com esforço e luta.
O luso herói perante quem o poeta queria que, “de pavor ante vós no chão se deite tanto fusco rajá, tanto nababo, E as vossas ordens, trémulo, respeite”.
Era de nós que ele falava, lusos heróis que continuam a resistir aos que nunca desistem do esbulho das nossas “searas”.
Era da nossa liberdade, da nossa vida, do nosso direito de querer viver melhor que ele falava.
As comemorações dos 250 anos de Bocage que iniciámos em 15 de setembro e de que damos conta nesta edição do Jornal Municipal são, mais do que mera comemoração de efeméride redonda, algo que a cidade deve ao seu poeta maior.
Ao longo de um ano o poeta volta a estar ainda mais presente nas ruas da cidade onde nasceu, da cidade que verteu nas linhas límpidas da escrita que nos legou.
Para cumprirmos este dever de manter o poeta nas nossas memórias e nas memórias daqueles que, nas novas gerações, continuarão a sentir o dever de homenagear o homem que viveu livre e sempre deixou essa liberdade expressa nas palavras, baseámo-nos numa simples ideia: Bocage é da cidade e de quem a habita.
Queremos que a cidade, os setubalenses e todos os que fazem desta a sua terra se apropriem do poeta, que o sintam como seu, que o conheçam melhor, o declamem, falem dele, se alegrem e entristeçam com o que escreveu e sejam capazes de ler a atualidade das palavras que compôs há dois séculos.
Este é o nosso dever.
O dever de manter vivas as mais ricas vozes que a cidade fez nascer.
Maria das Dores Meira
Presidente da Câmara Municipal de Setúbal