PORTAL DA GAFARIA

Monumento Nacional
Finais séc. XV ou início séc. XVI

Pórtico da antiga gafaria de Nossa Senhora da Saúde, que se erguera em terrenos posteriormente designados por Horta do Rio ou, ainda, por Horta sem Portas.

Note-se o robusto lintel, em calcário, no qual se aprecia um despojado arco polilobado. O arco central, em carena, enquadra um escudete muito erodido. Sobre os arcos decorativos, lê-se, em caractéres góticos, a inscrição latina, tirada dos textos bíblicos (primeiro capítulo, versículo segundo do Livro do Eclesiastes): “Vanitas vanitatum et omnia vanitas” (Vaidade das vaidades é tudo vaidade). A inscrição é reveladora da atitude perante a morte inscrita na consciência coletiva da sociedade medieval. Morte que múltiplos flagelos tornavam uma realidade constantemente presente no quotidiano dos homens e das mulheres de então.

A gafaria foi construída em data indeterminada, entre os séculos XIII e XV, para além (ainda que não muito afastada) do perímetro do burgo setubalense.

O escudete que figura no lintel apresenta as armas dos Costa, o que permite datar a construção do período de 1482 a 1484, quando Nuno da Costa, juiz de fora com presença e atividade documentada em Setúbal, ordenou, não sem oposição, que os doentes de peste fossem expulsos da vila. Fê-lo em face da epidemia que grassava no país desde 1480 e que continuaria a fustigá-lo por mais dezassete anos.

A gafaria de Setúbal estaria já abandonada em 1504, quando a infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel I (1469-1521), mandou erguer, em Cacilhas, a gafaria de São Lázaro. A esta deviam recolher-se os gafos de Setúbal, entre outros provenientes de localidades do sul do Tejo.