Setúbal acolhe o primeiro espaço de informação do projeto Ponto de Transição, da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do combate à pobreza energética

O primeiro ponto de transição do país no âmbito de um projeto de combate à pobreza energética desenvolvido pela Fundação Calouste Gulbenkian foi inaugurado a 17 de fevereiro no Mercado 2 de Abril.


“É com grande satisfação que Setúbal tem a felicidade de ser a primeira cidade do país a receber este projeto. É um complemento ao trabalho que a autarquia tem vindo a desenvolver para fazer face aos desafios ambientais”, sublinhou a vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal e vereadora com o pelouro do Ambiente, Carla Guerreiro.

O Ponto de Transição, com a fase-piloto a decorrer até 30 de junho, inclui três frentes de ações, destinadas a dotar a população de informação e ferramentas adequadas que permitam contribuir para que o país proceda a uma transição energética mais justa e eficiente e se alcance um maior conforto térmico nas habitações.

Setúbal é a primeira cidade a receber o projeto, desenvolvido pela Fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia de São Sebastião e em parceria com a ENA – Agência e Ambiente da Arrábida, o Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Nova de Lisboa e a RNAE – Associação das Agências de Energia e Ambiente.

Para a vice-presidente Carla Guerreiro, o espaço de informação que entrou hoje em funcionamento num contentor reutilizado, instalado no Mercado 2 de Abril, será “fundamental para ajudar os setubalenses a combater a pobreza energética, reforçando a literacia energética e ambiental”.

O Ponto de Transição é um projeto idealizado pelo Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável da Fundação Calouste Gulbenkian, que, revelou o diretor do programa, Luís Jerónimo, visa dar uma “resposta inovadora e de proximidade no combate à pobreza energética”.

A prioridade, acrescenta, é “assegurar que ninguém fica para trás na transição energética” e “promover o envolvimento de todos os cidadãos no caminho para a descarbonização”.

No espaço de informação inaugurado no dia 17 no Mercado 2 de Abril, uma equipa de técnicos da ENA vai prestar esclarecimentos à população sobre formas de melhorar o conforto térmico e aumentar a eficiência energética das habitações, além de indicar estratégias para a redução de despesas com eletricidade e gás e aconselhar sobre financiamentos existentes, auxiliando na submissão das respetivas candidaturas.

Entre as ações previstas, o Ponto de Transição vai facilitar avaliações energéticas gratuitas das habitações e identificar oportunidades de melhoria.

“Queremos auxiliar as pessoas a melhorar o conforto e as condições energéticas das habitações”, frisou Orlando Paraíba, diretor técnico da ENA.

Os técnicos vão contar com uma Bolsa de Agentes de Transição, constituída por um grupo de munícipes selecionados com o envolvimento dos moradores do território da Bela Vista abrangido pelo programa municipal Nosso Bairro, Nossa Cidade.

Estes agentes recebem formação em conceitos básicos sobre energia, contabilidade energética, tipos de equipamentos consumidores de energia nas residências e boas práticas na utilização de energia, para que depois possam “visitar as casas dos munícipes e identificar oportunidades de melhoria das condições energéticas”, explica Orlando Paraíba.

O espaço de informação instalado no Mercado 2 de Abril funciona nos dias úteis, em diferentes horários. Às segundas-feiras está aberto das 10h00 às 14h00, às terças, das 15h00 às 19h00, e às quartas, das 10h00 às 14h00 e das 15h00 às 19h00.

Às quintas-feiras a equipa está disponível ao público entre as 10h00 e as 14h00, sendo que, às sextas-feiras, o horário incide no período das 15h00 às 19h00.

Os munícipes podem, igualmente, solicitar informações pelo contacto telefónico 925 260 049 ou pelo endereço de correio eletrónico contacto@ponto-de-transicao.pt .

O Ponto de Transição tem o objetivo de abranger o território nacional, podendo ser replicado noutras cidades do país após a fase-piloto em Setúbal.

O projeto surge como uma resposta da Fundação Calouste Gulbenkian aos dados que indicam que Portugal é o quarto país da União Europeia com mais população a reportar incapacidade para aquecer a casa no inverno, cerca de 1,9 milhões de portugueses, e o segundo a viver em habitações desconfortáveis no verão, com 3,7 milhões de portugueses a sofrer com o calor, em casa.

Acresce que muitas habitações apresentam problemas de infiltrações, humidade ou má qualidade do ar interior.

Em 2020, estima-se que um quinto dos portugueses se encontrava em risco de pobreza ou exclusão social, estatística que contrasta com outros indicadores, como a de o país apresentar, no primeiro semestre de 2021, um preço de eletricidade 12 por cento superior à média europeia, subindo para 41 por cento o comparativo referente ao custo do gás.

Outra referência reporta que 68 por cento das habitações portuguesas certificadas têm baixo desempenho energético, sendo que este contexto deficitário tem repercussões para lá do bem-estar dos cidadãos, com o país a apresentar indicativos que requerem atenção ao nível da saúde, ao registar taxas de excesso de mortalidade no inverno muito superiores a países do Norte da Europa.