A Arrábida é “um espaço percecionado como património valioso a proteger e a valorizar”, sublinhou o vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, na abertura do seminário sobre os valores naturais do Parque Natural da Arrábida, que contou com a participação de investigadores e professores da Universidade Nova de Lisboa.

O autarca, ao realçar a revisão em curso do POPNA – Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida como “um processo que a Câmara Municipal há muito ambicionava”, frisou que este deve ser realizado com o “contributo da comunidade científica mas, acima de tudo, com o envolvimento ativo e empenhado das populações, das associações e da sociedade civil”.

O processo de avaliação e revisão do POPNA, assinalou, dá a “oportunidade de encetar uma reflexão mais intensa sobre a Arrábida, na qual é necessário que toda a sociedade se manifeste para encontrar soluções mais adequadas e equilibradas que garantam a estima deste valioso património natural e a proteção da natureza”.

A importância da realização do seminário foi também evidenciada por Maria de Jesus Fernandes, diretora do Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo. “É importante que exista um envolvimento de toda a comunidade para que possamos articular todos os contributos na fase de elaboração do regulamento.”

A responsável recordou que o POPNA celebra dez anos e que, desde a sua implementação, foi “contestado por autarquias, populações e associações”.

O seminário prosseguiu com apresentações técnicas, período que começou com a intervenção “A excecionalidade do Património Geológico da Arrábida”, dinamizada por José Carlos Kullberg, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que apontou aspetos ignorados na candidatura da Arrábida a Património Mundial Misto da UNESCO.

“A discordância do Portinho da Arrábida como testemunho da primeira fase de inversão tectónica da Margem Ocidental Ibérica, a soleira magnética da Foz da Fonte, o afloramento da falha sin-sedimentar da Figueirinha, os conglomerados do Alto da Califórnia e a brecha da Arrábida” são exemplos apontados por José Carlos Kullberg como “fenómenos universais excecionais”, com extrema relevância do ponto de vista científico e patrimonial.

Seguiu-se uma alocução por Carlos Pereira da Silva, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que, ao discursar sobre “Perceções dos utilizadores das Praias do PNA”, adiantou alguns dados estatísticos das praias da Figueirinha, dos Coelhos e do Portinho da Arrábida, referentes a 2014.

“Um dos aspetos mais alarmantes é o facto de 80 por cento das pessoas se deslocarem para as praias em viatura própria”, revelou, enquanto 38 por cento dos inquiridos indicaram desconhecimento da existência do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha.

De frisar, ainda, que a maioria dos banhistas aponta como aspeto positivo a beleza natural das praias e como negativo o grande volume de tráfego e as dificuldades de estacionamento. “Este facto deve e tem de ser levado em conta”, frisou Carlos Pereira da Silva.

Relativamente a esta preocupação, André Martins deu conta de que “a Autarquia não é responsável e não tem jurisdição sobre a praia e a estrada, que é nacional”, e recordou que já foram realizados esforços junto da Estradas de Portugal no sentido de uma gestão repartida.

Carlos Pereira da Silva salientou que a Arrábida “é uma área com uma crescente procura de atividades recreativas” por diversos fatores, nomeadamente “a oferta e as atividades de observação da fauna e da flora”.

“A evolução do edificado em três áreas do PNA 1967-2012” foi o título da última intervenção, a cargo de Teresa Santos, igualmente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que fez um balanço sobre a Arrábida, os Picheleiros e a Serra da Azoia.

O seminário, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que incluiu um período de debate, foi complementado por uma exposição de posters científicos, patente até dia 31 na galeria da Casa da Baía, com trabalhos de investigação realizados recentemente na Arrábida.