Fórum de Saúde - quinto debate prévio

A importância dos recursos da comunidade enquanto determinantes da saúde foi destacada no dia 18 de março no quinto debate em formato digital preparatório da primeira edição do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si”.


Em mais uma sessão do ciclo organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, o vereador com o pelouro da Saúde, Ricardo Oliveira, lançou o desafio aos convidados para falarem sobre várias temáticas relacionadas com “Recursos da Comunidade enquanto Determinantes da Saúde”.

Com moderação do presidente do Conselho Sub-Regional da Ordem dos Médicos de Setúbal, Daniel Travancinha, cinco oradores partilharam experiências sobre a forma como a rede de cuidados de saúde primários e hospitalares, a alimentação, a escola, a Medicina Familiar e a Medicina do Trabalho e o movimento associativo podem contribuir para promoção da saúde humana, a nível físico e mental.

“Serviços de Saúde – a rede de cuidados de saúde primários e hospitalares” foi o tema abordado pela diretora do Departamento de Contratualização da ARS-LVT, Margarida Rato, que salientou a importância do trabalho em parceria e da integração de cuidados de saúde.

“Tendo em conta que o utente é sempre o centro do sistema, deve ser criada uma estrutura comum, uma rede parceria entre cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares para gerir as respostas às necessidades específicas dos utentes.”

Só assim, de acordo com Margarida Rato, é possível “tirar os utentes dos hospitais e colocá-los no lugar certo para serem tratados”, o que poderá ser em casa do próprio utente, no âmbito dos projetos hospitalização domiciliária que existem, por exemplo, no Centro Hospitalar de Setúbal.

A especialista sublinha que a pandemia de Covid-19 colocou em evidência a importância das parcerias entre instituições de saúde, proteção civil e municípios que “uniram esforços e trabalham para o bem comum que é salvar vidas”.

Margarida Rato defende por isso que a integração de cuidados de saúde “é uma oportunidade de mudança no paradigma da atuação na área da saúde”, com impacte nas organizações, nas necessidades e preferências dos doentes e no Serviço Nacional de Saúde.

Já Vera Azevedo, nutricionista da Câmara Municipal de Setúbal, destacou o papel da educação enquanto promotora de educação alimentar e deu a conhecer o trabalho desenvolvido pela autarquia junto dos mais de cinco mil alunos do ensino pré-escolar e 1.º ciclo das escolas da rede pública do concelho.

“A alimentação é fator determinante em todas as fases do ciclo de vida e a escola é um local de excelência para aquisição de hábitos. Uma alimentação saudável e equilibrada aliada a atividade física regular é essencial para prevenir doenças.”

Nesse sentido, a autarquia possui uma equipa de técnicos que investigam o comportamento alimentar das crianças, desenvolvem ações de educação alimentar, supervisionam o processamento dos alimentos que são fornecidos às crianças nas escolas e avaliam as normas de segurança higiossanitárias.

A Câmara Municipal de Setúbal lança, anualmente, um concurso público para a prestação do serviço de refeições escolares que “define no caderno de encargos todas as especificações que devem ser cumpridas para garantir uma boa oferta alimentar”.

Os técnicos municipais procedem depois a visitas regulares às escolas, sem marcação prévia, para supervisionar o trabalho da empresa, designadamente se estão a ser cumpridos critérios como as normas de segurança alimentar, as condições de salubridade e a resposta a necessidades de saúde especiais.

Tendo em conta que “a escola tem um papel fundamental na literacia em alimentação”, a autarquia dinamiza regularmente, com meios próprios ou em parceria, ações de educação alimentar junto dos alunos para promover a aquisição de hábitos alimentares saudáveis.

O Regime Escolar, que consiste na distribuição de frutas e hortícolas nas escolas duas vezes por semana, e o Heróis da Fruta, projeto dinamizado pela APCOI – Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil para promoção do consumo de fruta, são alguns exemplos.

Vera Azevedo destacou ainda as várias ações desenvolvidas pela autarquia no âmbito do Programa Municipal de Complemento da Ação Educativa, como “Os Amigos da Sopa” e um conjunto de workshops sobre pequeno-almoço e lanche saudáveis.

A importância da medicina do trabalho na saúde foi o tema abordado neste quinto webinar preparatório do Fórum de Saúde por Mário Moura, médico de Medicina Familiar e de Medicina do Trabalho.

O especialista defende que as empresas devem apostar na prevenção através de medidas, que podem passar pela utilização de capacete e amortecedores de ruídos, nos locais de trabalho onde são necessários, ou pela “promoção de simples exercícios físicos que podem ajudar a prevenir doenças profissionais como as tendinites”.

No entanto, alerta que “nem todas as empresas veem com bons olhos a medicina do trabalho, embora um trabalhador com saúde e bem-estar seja mais produtivo”.

Outro desafio consiste na sensibilização do próprio trabalhador para a importância de “seguir regras e cumprir exigências que são importantes para a manutenção do seu bem-estar físico e mental”. “A Medicina do Trabalho contribuiu, forçosamente, para a melhoria da comunidade”, conclui Mário Moura.

Já o presidente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, Augusto Flor, destacou o papel do movimento associativo e solidário através do desenvolvimento de um conjunto de ações e projetos que promovem a saúde física e mental e mental da população.

O responsável sublinha que o movimento associativo popular é constituído por cerca de 33 mil coletividades em todo o país, que envolvem, regularmente, mais de três milhões de pessoas em atividades físicas, recreativas e culturais.

“Temos uma capacidade instalada no terreno e barata, à base de muito voluntariado, que deveria ser mais bem aproveitada”, defende.

A Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto dinamizou, por exemplo, o projeto “Agita Portugal – Pela sua Saúde Mexa-se”, que durante dez anos envolveu milhares de pessoas na prática regular de caminhadas.

“Foi com este projeto que começou o movimento que levou à transformação de certas zonas das cidades em circuitos pedonais destinados à prática de caminhadas. Foi, igualmente, um incentivo para milhares de pessoas começarem a fazer caminhadas.”

Atualmente, a confederação tem em curso o projeto “Desporto para Todos”, em parceria com o Instituto Português do Desporto e da Juventude, que será “um novo impulso à atividade física como promotora da saúde física e mental”.

Augusto Flor deixou alguns “números para reflexão”, lamentando que “apenas 20 por cento dos portugueses tenham uma atividade física regular e que as 62 federações desportivas do país tenham apenas 400 mil inscritos”.

A temática da escola enquanto determinante de saúde também esteve análise pelo psicólogo educacional José Miguel Oliveira para quem as escolas “devem ser o primeiro lar da saúde mental e funcionar como espaços de liberdade para se aprender a ser e a estar, de aprendizagem e de socialização e promotores de saúde mental”.

O especialista sublinhou que “nem todas as famílias conseguem proporcionar uma saúde mental equilibrada” e, por isso, a escola deve assumir esse papel e “ser um laboratório de formação de pessoas que, no futuro, sejam capazes de participar ativamente na sociedade”.

No entanto, José Miguel Oliveira lamenta que muitas vezes tal não aconteça e que as escolas acabem por ser espaços de castração e de desperdício de saúde e de potencial humano”, por exemplo em questões como a identidade de género, ao “limitar o que é considerado ‘normal’ e aceite”.

No final do encontro, houve lugar a perguntas via chat dos participantes inscritos.

Antes deste webinar, o ciclo de debates preparatórios do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si” contou com quatro sessões em fevereiro, nos dias 2, com o tema “Estado de Saúde e Promoção de Estilos de Vida Saudáveis”, 8, sobre a “Comunicação em Saúde”, 18, com a análise das “Desigualdades no Acesso à Saúde”, e 25, com a abordagem do tema “Território e Planeamento Urbano: O potencial Salutogénico do Património Natural e Construído”.

O próximo está agendado para dia 25 de março, também a partir das 16h00, com o tema “Participação – Experiências de Cidadania Ativa promotora da Saúde Física e Mental”.

As inscrições para participação devem ser feitas pelo preenchimento de um formulário online disponível no link https://bit.ly/39FEP1f . Posteriormente, os inscritos recebem os dados de acesso à participação no webinar e, no decorrer da sessão, podem colocar questões por chat aos oradores convidados.

Todos os interessados podem assistir às sessões do Fórum de Saúde em direto no canal de Youtube e na página de Facebook do município de Setúbal, sem necessidade de inscrição.

O Fórum de Saúde, que procura também celebrar, em Setúbal, o Dia Mundial da Saúde, assinalado anualmente a 7 de abril, pretende criar um espaço de reflexão e partilha de conhecimento nesta área da sociedade.

A primeira edição, a realizar no dia 8 de abril, conta com duas sessões específicas destinadas a debater o Perfil de Saúde e o Plano de Desenvolvimento de Saúde do Município de Setúbal, ambos em elaboração.

A comissão organizadora do evento é composta, além da Câmara Municipal, pelo ACES Arrábida – Agrupamento dos Centros de Saúde da Arrábida, pela Associação da Indústria da Península de Setúbal, pela Associação Nacional de Farmácias, pelo Centro Hospitalar de Setúbal, pela Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas e pelo Hospital da Luz Setúbal.

O Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas, o Instituto Politécnico de Setúbal e as juntas de freguesia do concelho, bem como personalidades ligadas à comunidade educativa, ao movimento associativo popular, às instituições particulares de solidariedade social e à Comissão Municipal de Proteção Civil também fazem parte da comissão organizadora.

 

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