NL Arquivo | Rua Aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral

Na toponímia setubalense encontramos imortalizada a viagem épica realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, ocorrida há 100 anos com a chegada ao Brasil, a 17 de junho de 1922, assinalando-se a realização da primeira travessia do Atlântico Sul por via aérea, de Lisboa ao Rio de Janeiro. O Município presta homenagem a este feito com a atribuição dos nomes destes aviadores a uma rua


A viagem mundialmente reconhecida e celebrada teve início em Lisboa, pelas 07h00 do dia 30 de março, tendo estes aviadores descolado rumo ao Brasil num hidroavião especialmente preparado para o périplo.

Partiram a bordo de um monomotor Fairey III, feito em madeira e lona para ser mais leve, equipado com motor Rolls-Royce e batizado de “Lusitânia”, sendo este o primeiro dos três aviões utilizados na travessia. Tanto este como o segundo, o “Pátria-Portugal”, repousam no fundo do Atlântico, tendo a viagem sido finalizada no “Santa Cruz”, um hidroavião que ainda hoje existe e pode ser visitado no Museu da Marinha, em Lisboa.

Toda a viagem decorreu como uma saga, plena de perigos e dificuldades, para as quais tiveram que socorrer-se de soluções engenhosas e à custa de muito improviso, de um modo que nos faz lembrar dos heróis das narrativas gregas clássicas, em histórias de superação de desafios atribulados lançados pelos deuses do Monte Olimpo.

O percurso iniciado em Lisboa passou pelas ilhas Canárias e também por Cabo Verde, seguindo pelo Atlântico aberto, de que não faltam episódios plenos de ação, protagonizados pelo piloto Sacadura Cabral e pelo navegador Gago Coutinho.

Pode-se afirmar que quase tudo lhes aconteceu, desde ventos agrestes ou tempestades, mas também avarias diversas, ou mesmo, e tal como já referido, desastres de tal monta que resultariam na perda total do avião em que seguiam a dado momento, chegando até ao racionamento de combustível e mantimentos.

Tal como é descrito pela National Geographic, no formato online, na madrugada de 11 de maio os dois aviadores portugueses ficaram perdidos no Atlântico Sul, a algumas milhas das rotas habituais de navegação, presos a um engenho que não fora construído para sobreviver às vagas e que lentamente vai metendo água rumo ao afundamento. “De quando em vez, tubarões vêm espreitar os estranhos ‘peixes’ à deriva nesta madrugada”, refere a publicação, num episódio em que podiam ter perdido a vida.

Por ironia, aponta igualmente esta publicação, entre livros e cartas de navegação, transportavam com eles a edição de “Os Lusíadas” de 1670, destinada ao Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, e que tinha sido salvo por Luís de Camões num naufrágio. Além da capacidade de improviso, sempre posta à prova, Gago Coutinho contribuiu de modo decisivo para a engenharia ao ser o inventor de um sextante melhorado que permitia a medição da altura dos astros, resultando isto em algo que revolucionaria a navegação aérea da época no planeta inteiro.

No final da viagem, que os levaria a percorrer 4.527 milhas náuticas, ou seja, 8.484 quilómetros, feita num total de 62 horas e 26 minutos, foram recebidos como heróis no Rio de Janeiro, tanto pelas populações, bem como por dignitários locais e estrangeiros, tudo para assinalar um feito que fez correr tinta pelo mundo inteiro.

Quanto ao topónimo, este foi atribuído pela Câmara Municipal de Setúbal para celebrar um dos maiores feitos protagonizados por portugueses e com repercussões mundiais, localizando-se a Rua Aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral numa das zonas adjacentes à baixa setubalense, concretamente no Bairro Salgado.

Rua Aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral