NL Arquivo | Rua Gomes Cardim

Nesta rubrica própria que dá a conhecer personalidades ou eventos que motivam a atribuição de designações às placas toponímicas do concelho destacamos a vida e obra do ilustre setubalense João Gomes Cardim, músico de excelência, internacionalmente reconhecido e premiado


Situada no coração do Bairro da Conceição, a Rua Gomes Cardim passou a chamar-se assim pela deliberação camarária de 3 de janeiro de 1957, vindo a substituir o até então topónimo de Rua Praia da Saúde.

Presta homenagem a uma das maiores figuras setubalenses no campo da música. É tal a sua importância, que figura no painel dos artistas no Tríptico de Luciano dos Santos, obra que embeleza o Salão Nobre dos Paços do Concelho e que coloca em destaque alguns dos nomes maiores de todos os tempos do concelho sadino.

Nascido a 11 de setembro de 1832, na freguesia de São Sebastião, Gomes Cardim desde muito cedo demonstrou a vocação musical, iniciando a vida artística como cantor de igreja, sendo já entusiasticamente aplaudido apenas com a idade de 11 anos pelo modo como era capaz de interpretar as mais difíceis obras de música sacra.

A fase da rebeldia, tal como aponta João Francisco Enviar na obra “Setubalenses de Mérito”, acontece ao querer ultrapassar a vontade dos pais, que lhe apontavam a via eclesiástica, ao optar pela música sacra e pelo teatro ligeiro.

Tendo passado primeiro pelo Liceu Nacional de Lisboa para estudar, viria a acabar no Seminário Patriarcal de Santarém, onde acumulou a tarefa de estudante com o trabalho de professor de música.

Abandona o seminário e ruma ao Brasil, onde acumula funções de trabalhador do comércio com a composição musical para teatro, sendo, neste último papel, que o torna mundialmente famoso. Entre as mais importantes obras deste autor setubalense destacam-se os hinos que compôs para celebrar datas festivas brasileiras.

Aquando da guerra do Brasil com o Paraguai, compôs uma marcha militar chamada de “Os Bravos do Paisandu”, a qual foi tocada no Rio de Janeiro na presença do imperador D. Pedro II. Igualmente para celebrar uma vitória neste mesmo conflito, compôs um te-deum, um hino cristão, executado na presença do Duque de Caxia.

De regresso a Portugal, dirigiu orquestras em Lisboa e no Porto e escreveu partituras para o teatro ligeiro, entre as quais as peças “Harpa de Deus”, “Joana do Arco” e “Os Argonaustas”. Finalmente retornou ao Brasil enquanto comendador da Ordem de Sant’Iago, onde viria a falecer com 86 anos de idade, a 30 de abril de 1918.

Rua Gomes Cardim em Setúbal