NL Arquivo | Rua Jão Vaz

A mestria das obras de João Vaz, pintor ilustre setubalense, resultam na duplicação das homenagens a ele prestadas ao nível da toponímia local aparecendo o seu nome associado não apenas a uma, mas a duas artérias no concelho sadino


Chamadas ambas as vias de Rua João Vaz, localiza-se o primeiro topónimo no Bairro da Conceição, onde o registo mais antigo que consta em arquivo é datado de março de 1972, enquanto que o arruamento mais recente fica localizado na zona da Brejoeira, em Azeitão, estando registado na ata 04/1993, de 25 de fevereiro de 1993, da Câmara Municipal de Setúbal.

Quanto à personalidade que destacamos, nascido em Setúbal a 9 de março de 1859, sabe-se que foi companheiro dos irmãos Columbano, José Malhoa ou Silva Porto, no que se convenciona chamar de Grupo do Leão, ou seja, uma tertúlia de artistas que se reunia na cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, durante a década de 80 do século XIX, e da qual resultaria o êxito do naturalismo em Portugal.

É apontado por João Francisco Envia, na obra “Setubalenses de Mérito”, que teria começado a atividade artística como pintor decorador, resultando deste período o embelezamento dos principais teatros de Évora, Alcácer do Sal e até do então Teatro D. Amélia, que é atualmente o Fórum Municipal Luísa Todi. Isto entre outros trabalhos decorativos feitos em salas de faculdades, museus, passos perdidos, igrejas, entre outros locais, tudo à medida em que ia crescendo como um nome incontornável da arte, tanto em Portugal como além-fronteiras.

Entre os trabalhos e missões mais conhecidos encontramos, no ano de 1900, a direção da decoração do pavilhão português na Grande Exposição Universal de Paris ou a Exposição Nacional do Brasil, em 1908. É igualmente no Brasil que se destaca em múltiplas exposições temáticas que decorreram em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Apaixonado pelas águas espelhadas como tema de pintura preferido recai sobre o Rio Sado a feitura de algumas das suas obras mais iconográficas e que mostram diversos tipos de embarcações em vários cenários proporcionados, entre os quais águas calmas ou encrespadas, salinas ou praias. Entre as obras mais notáveis contam-se as pinturas na igreja e no Convento de Jesus em Setúbal, o Coro da Igreja da Madre de Deus, em Lisboa, ou os quadros “Barcos no Tejo”, “A praia”, “Povoação à beira do rio” ou “Marinha”. Foi igualmente autor de selos de correio e colaborador em revistas sobre arte.

Com incontáveis prémios obtidos ao longo da sua carreira e que vão desde o melhor professor de desenho, diretor artístico em variadas instituições ou um medalhado de honra pela Academia Real de Belas-Artes, tudo num rol quase inesgotável de menções dadas nacional e internacionalmente, calhou-lhe ainda ser merecedor de homenagens e honrarias atribuídas no município sadino e que o viu nascer.

Além dos topónimos em destaque, foi agraciado pela autarquia com a edificação de um busto de grande tamanho que decora o Largo do Carmo. Pelos seus pares, nomeadamente pela mão do mestre Luciano dos Santos, adquire a imortalidade e o estatuto de setubalense ilustre ao figurar no Tríptico de Luciano, patente no Salão Nobre dos Paços do Concelho, concretamente no painel dedicado aos artistas.

Tendo João Vaz falecido a 15 de fevereiro de 1931 isto fez com que o jornal “O Setubalense” o homenageasse na edição do seguinte, de dia 18, como um “insigne pintor, setubalense ilustre” e “um dos mais lídimos e distintos representantes de artistas notáveis”, realizando-se um ano após a sua morte uma exposição promovida pela Sociedade Nacional de Belas-Artes e pelos familiares do pintor onde foram exibidas mais de cem obras do autor enaltecendo-se a sua arte sobretudo como emotiva e lírica.

Rua João Vaz em Setúbal
Rua João Vaz em Azeitão