NL Arquivo | Ruas com história

A bondade, a generosidade e o altruísmo são as características mais marcantes associadas a Maria Emília Barradas, figura setubalense de mérito que inaugura esta rubrica dedicada aos topónimos do concelho, num trabalho que recorre à documentação do extenso acervo do Arquivo Municipal de Setúbal.


Quanto a esta figura feminina de monta, homenageada com um topónimo atribuído pela Câmara Municipal na reunião ordinária de 14 de agosto de 2001, na Urbanização Vinha da Sardinha, em Oleiros, em Azeitão, o que se destaca na sua vida e obra foi o de ser uma notável defensora dos mais desfavorecidos e em cenários de pobreza extrema e sistémica.

No entanto, importa destacar que não teve ela própria uma vida que se possa considerar como fácil, muito pelo contrário. Apesar do título de fidalga e de beneficiar de uma vida desafogada financeiramente é, contudo, por uma sucessão de tragédias familiares, que se depara com as maiores dificuldades emocionais possíveis, nomeadamente pela morte, quer do marido, José Sérgio Capeto Barradas, que desempenhou o cargo de Presidente do Município, quer pela morte prematura dos seus três filhos e da nora, esta casada com o também ilustre setubalense Acácio Barradas.

Nem aqui o tom de tragédia ou de pesar passa ao lado pois é o próprio que igualmente sucumbe, desta vez ao tifo, e já estava quebrantado pela perda da esposa, não conseguindo assim superar a doença que o leva à sepultura. É a partir deste acontecimento particular que é fundado o Asilo Acácio Barradas, a 8 de outubro de 1889, em sua memória, visando apoiar idosas desvalidas.

É pela reação a tantas adversidades que assolaram de forma tão grave a sua família e a sua existência que se dá a notoriedade em Maria Emília Barradas, que passa a dedicar a vida em prol dos que menos têm. É com devoção e paixão que se dedica à causa de todos os que padeciam de falta de comida e alojamento e que, de outra forma, sem a sua ajuda e intervenção, jamais se poderiam sustentar minimamente.

Deixou como testamento propriedades e avultadas somas de dinheiro a alguns familiares, mas nunca se deixou de preocupar com o futuro de indigentes e dos que mais sofriam com a pobreza, contemplando-se, entre outras ajudas, fundos para o Asilo da Infância Desvalida, a Escola da Vila de Fronteira e também ao já destacado Asilo Acácio Barradas.

Tendo falecido em 11 de fevereiro de 1899, o seu funeral terá sido um dos mais participados a que se assistiu no burgo setubalense, segundo destacam as crónicas da altura, contando-se entre os participantes no enterro figuras de topo como Manuel Maria Portela, Groot Pombo ou Fran Paxeco, entre outros, assim como todas as crianças do Asilo da Infância Desvalida que sempre apoiou.

É apontado por João Francisco Envia, na obra “Setubalenses de Mérito”, como efetivo que Maria Emília Barradas “jamais deixou de praticar o bem, pois nunca um pobre bateu à sua porta sem ser bem acolhido”.