O rio Sado voltou a ser decisivo para a elite mundial da natação em águas abertas, que, em ano de qualificação olímpica, com um total de 109 nadadores em prova a partir do Parque Urbano de Albarquel em representação recorde de 52 países, competiram na FINA Marathon Swimming Olympic Qualification Tournament – Setúbal 2016.

A equipa nacional não conseguiu, ao contrário de 2012, apurar qualquer nadador para os Jogos Olímpicos, este ano no Rio de Janeiro, Brasil. Vânia Neves, a melhor atleta lusa em prova, com um 16.º lugar, ficou apenas a uma posição de garantir um lugar olímpico mas pode ainda vir a ser repescada.

A questão está relacionada com a nadadora neozelandesa Charlotte Webby, 31.ª classificada em Setúbal e apurada via vaga continental (Oceania), que não terá conseguido reunir os critérios mínimos exigidos pela federação da Nova Zelândia. A decisão só deverá ser conhecida perto do início da competição olímpica.

“Até sair a start list para o Rio de Janeiro, vou tentar não pensar muito nisso. Dá-me alguma esperança e desperta alguma ansiedade mas vou procurar gerir os sentimentos”, afirmou Vânia Neves, 25 anos, que terminou os dez quilómetros da prova setubalense com o tempo de 1h57m27s.

A nadadora sublinhou que, apesar de ter falhado, para já, o apuramento olímpico, o balanço da prova realizada em Setúbal é positivo. “Atingi muitos dos meus objetivos. Foi uma prova imprevisível e terminei com o sentimento de dever cumprido. Competir em Portugal é bom mas cria uma pressão diferente.”

Já Angélica André, 22 anos, terminou no 19.º lugar, com o tempo de 1h57m56s. “Comecei bem a prova. Na quinta volta senti-me bem e acelerei, mas na última comecei a sentir o cansaço nos braços, tentei reagir, mas quebrei. Não estou desiludida e vou continuar a trabalhar.”

Na competição masculina, a equipa portuguesa também não teve melhor sorte. Rafael Gil, no 28.º lugar, completou a maratona aquática com o tempo de 1h54m13s, enquanto o compatriota Vasco Gaspar, que terminou no 36.º posto da classificação geral, registou 1h54m30s.

“A prova foi muito dura mas dei tudo o que tinha. Falhei dois abastecimentos e paguei a fatura”, revelou Vasco Gaspar. O atleta, de 26 anos, apesar de ter sempre a possibilidade olímpica em mente, admitiu outras braçadas. “Terminei o curso de medicina este ano e não é fácil conciliar treinos às cinco da manhã com os estudos.”

Rafael Gil, 20 anos, também realçou a dureza da prova, sobretudo “ao nível do contacto físico, com muito trabalho de equipa para defesa de nadadores”. Acrescentou que, apesar de ter treinado muito para “estar no melhor” em Setúbal, a presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 era “o sonho” e que o Rio de Janeiro era um “grande sonho”.

A FINA Marathon Swimming Olympic Qualification Tournament – Setúbal 2016, uma organização conjunta da Câmara Municipal de Setúbal, da Federação Internacional de Natação e da Federação Portuguesa de Natação, apurou os últimos trinta atletas da modalidade, 15 homens e 15 mulheres, para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Nas provas de dia 11, femininos, e de dia 12, masculinos, com 61 homens e 48 mulheres, foram qualificados diretamente, em cada categoria, os dez nadadores com os melhores tempos e cinco através da vaga continental, uma por continente independentemente do resultado verificado na prova.

Em masculinos, o chinês Lijun Zu foi o grande vencedor da prova, ao terminar ao sprint os dez quilómetros em 1h52m18s. O atleta marcou presença pela segunda vez em Setúbal depois de em 2012, ao alcançar o 23.º lugar, não ter conseguido o apuramento olímpico para Londres.

O nadador asiático, sempre muito discreto ao longo da prova, atacou nos metros finais. “Segui o grupo, poupei energias e depois arranquei”, revelou o atleta. A estratégia valeu-lhe o triunfo, um prémio que considera justo até porque compete nas águas abertas há cerca de dez anos. Em Setúbal, adiantou, “as condições estavam perfeitas”.

Além do chinês Lijun Zu, subiram ao pódio instalado no Parque Urbano de Albarquel dois dos nadadores favoritos à vitória, o alemão Christian Reichert, em segundo, com o tempo de 1h52m20s, e o equatoriano Ivan Enderica, que completou a maratona aquática em 1h52m22s.

Foram ainda qualificados diretamente para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 Evgenii Drattcev (4.º), da Rússia, Oussama Mellouli (5.º), Tunísia, atual campeão olímpico, Richard Nagy (6.º), Eslováquia, Jarrod Poort (7.º), Austrália, Yasunari Hirai (8.º), Japão, Chad Ho (9.º), África do Sul, e Ventsislav Aydarski (10.º), Bulgária.

Ao grupo juntam-se outros cinco atletas apurados via vaga continental. Mark Papp, da Hungria, ficou com a vaga da Europa, Erwin Maldonado, da Venezuela, com a americana, Kane Radford, da Nova Zelândia, com a oceânica, Vitaliy Khudyakov, do Casaquistão, com a asiática, e Marwan Elamrawy, Egito, com a africana.

Nas mulheres, a vitória sorriu também à China, com a nadadora Xin Xin a ser mais forte, com 1h55m12s. O triunfo foi decidido até à derradeira passagem pelo funil da meta e com uma margem muito pequena, já que a distância para a segunda atleta foi de apenas um segundo.

“Não tínhamos uma tática especial. As coisas aconteceram naturalmente e estou muito contente com o desfecho do evento”, declarou Xin Xin. A temperatura da água, que em ambos os dias rondou os 19 graus, foi uma dificuldade para a nadadora. “Senti um pouco de frio.” Para o Rio de Janeiro, o objetivo é “melhorar o ranking”.

A britânica Keri-Anne Payne, em segundo lugar, ficou a um escasso segundo do triunfo absoluto, ao terminar os dez quilómetros da prova com 1h55m13s. Em terceiro, e também com o apuramento concluído, ficou a equatoriana Samantha Arevalo, com o tempo de 1h55m16s.

Apuradas diretamente para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 foram também Chelsea Gubecka (4.ª), da Austrália, Yumi Kida (5.ª), Japão, Michelle Weber (6.ª), África do Sul, Joanna Zachoszcz (7.ª), Polónia, Paola Perez (8.ª), Venezuela, Spela Perse (9.ª), Eslovénia, e Jana Pechanova (10.ª), República Checa.

Para a competição olímpica a realizar a 15 e 16 de agosto, na Praia da Copacabana, apuraram-se ainda pelas vagas continentais Erika Villaecija, de Espanha, pela Europa, Stephanie Horner, Canadá, América, Heidi Gan, Malásia, Ásia, Charlotte Webby, Nova Zelândia, Oceania, e Reem Kaseem, Egito, África.

Num Parque Urbano de Albarquel multicultural, atletas e staff das equipas em representação recorde de 52 países partilharam momentos de emoção desportiva, com alegrias e tristezas, mas também de convívio e de confraternização e troca de experiências nas águas abertas.

O público correspondeu e também compareceu em força neste espaço de lazer da cidade de Setúbal. Em passeio, num piquenique na relva à sombra, tudo serviu de pretexto para ver alguns dos melhores nadadores do mundo, sobretudo a partir de um ecrã gigante instalado no parque.

A realização deste evento é motivo de orgulho para a presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, que destacou a importância desportiva da competição, realizada num ano que Setúbal é Cidade Europeia do Desporto, e a atração turística que a mesma gera para a região.

A autarca sublinhou que a natação em águas abertas é já “uma das marcas desportivas da cidade e uma prova que a cada ano que passa surge com uma organização mais apurada, resultado de parceria profícua” entre as várias entidades envolvidas na dinamização da prova.

As águas abertas, que se mantêm no Sado até 2020, com etapas da Taça do Mundo desta disciplina da natação, constituem um dos eventos desportivos âncora de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016, que “promove e dignifica o desporto, promove estilos de vida mais saudáveis e torna a cidade mais humana e participada”

Maria das Dores Meira, apesar de lamentar o facto de este ano “nenhum atleta português ter conseguido o apuramento olímpico”, destacou a relevância da prova, o único evento realizado em Portugal que classificou atletas diretamente para os Jogos Olímpicos e a uma escala mundial, com nadadores de vários continentes.

Já o presidente da Federação Portuguesa de Natação, António José Silva, fez um balanço “excecional” da organização da prova, que recebeu também elogios da Federação Internacional de Natação e das delegações dos 52 países que marcaram presença em Setúbal.

Apesar de no campo desportivo as coisas não terem corrido de feição para os atletas portugueses, António José Silva mostrou-se confiante para o futuro. “O Rafael Gil tem uma margem de progressão enorme e na prova feminina tivemos uma nadadora a um lugar da qualificação direta, o que é incrível.”

O presidente da Federação Portuguesa de Natação afirmou ainda estar na expectativa quanto a uma eventual qualificação de Vânia Neves, que terminou no 16.º lugar. “A atleta da Nova Zelândia poderá renunciar, qualificando a nadadora portuguesa. É, ainda, no entanto e neste momento, apenas uma expectativa.”

O primeiro momento de qualificação olímpica desta modalidade decorreu em 2015, em Kazan, Rússia, durante a realização do 16.º Campeonato do Mundo de Natação em Águas Abertas. Na altura, foram apurados diretamente um total de vinte atletas, dez homens e dez mulheres.

A FINA Marathon Swimming Olympic Qualification Tournament – Setúbal 2016 contou com um total de 109 nadadores em prova a partir do Parque Urbano de Albarquel em representação recorde de 52 países. Da mais de uma centena de atletas, trinta carimbaram no Sado a presença nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.