O encontro, promovido pelo Observatório Sénior, de que faz parte a Câmara Municipal, a Universidade Sénior de Setúbal (UNISETI) e o Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), teve como propósito a troca de experiências e o debate de estratégias para o envelhecimento dos cidadãos com mais qualidade de vida e, em simultâneo, maior protagonismo nos diferentes quadrantes sociais.

Maria João Quintela, do Observatório do Envelhecimento e da Natalidade, uma das palestrantes convidadas para o período da manhã do encontro, realizado no Auditório Municipal Charlot, foi peremtória: “Estar vivo é muito trabalhoso, não há volta a dar. Dá trabalho todos os dias. Simplesmente não se pode ser inativo.”

Na intervenção intitulada “Envelhecimento Ativo: Repensar o futuro, promover ganhos de saúde, de vida, de autonomia…”, Maria João Quintela sublinhou que, paradoxalmente “às respostas homogeneizantes” das políticas sociais para os idosos, “a verdade é que não há duas pessoas com 65 anos que sejam iguais”, alertando para o erro que considera comum na atualidade de se tratar os seniores de forma padronizada e impessoal.

Joaquina Madeira, coordenadora do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, no âmbito do qual se realizou o seminário, frisou na sessão de abertura que o atual envelhecimento da sociedade é uma mudança que “não pode ser vista como um problema”, defendendo que “o verdadeiro problema é mudar a sociedade”.

Para a responsável, as alterações sociais são uma constante na evolução humana. “Agora, assistimos à criação de uma ‘nova’ idade. Até há bem pouco tempo não existia a ‘adolescência’, numa altura em que se deixava de ser criança para se ser adulto, entrando-se logo no mercado de trabalho”, constatou.

Joaquina Madeira frisou ainda que “perante as alterações não somos proativos, mas antes reativos. E isso é um problema crítico”, acrescentando que “a forma como temos tratado os velhos não é de uma sociedade humanista e democrata”.

O presidente do IPS, Armando Pires, recordou na sessão abertura a notícia recentemente divulgada na comunicação social, baseada em resultados dos Censos de 2011, de que, entre outros indicadores alarmantes, a idade média da população portuguesa aumentou três anos na última década.

O próprio modelo familiar encontra-se em mutação. Stella António, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, adiantou que a fórmula de “um avô, dois pais e quatro netos está a dar lugar à de quatro avós, dois pais e um neto”, indicando, como curiosidade, que Portugal tem neste momento cerca de 900 pessoas com mais de um século de vida.

Transversal a todas as intervenções foi a constatação de que os idosos devem representar um papel ativo na sociedade, sem paternalismos associados à condição etária e integrando os seniores como elementos válidos e produtivos para o desenvolvimento social.

“A idade não pode ser impedimento de quase nada”, salientou Stella António, acrescentando que “o neto deve ensinar informática e internet aos avós, sendo igualmente importante que estes ensinem, por exemplo, Português ou Matemática ao neto, ajudando os pais e contribuindo para que se fomente o respeito pelos idosos e, assim, sedimentando valores para o futuro”.

Brissos Lino, presidente da UNISETI, destacou na sessão de abertura alguns exemplos sociais que considera válidos da perspetiva intergeracional, como a troca de conhecimentos entre músicos antigos e novos nas bandas filarmónicas e os quadros de honra para os bombeiros voluntários retirados do ativo e que continuam a conviver e a ensinar os elementos mais novos das corporações.

Maria João Quintela alertou, porém, que políticas como o aumento da idade da reforma irão contribuir para que “deixe de haver avós para cuidar dos netos”.

No período da tarde foram debatidos temas relacionados com as dificuldades geradas pela diferença de idades nas relações intergeracionais e explorados casos de sucesso nesta área social.

Na sessão de encerramento do seminário, a vereadora da Câmara Municipal Carla Guerreiro realçou a importância das atividades intergeracionais como um instrumento facilitador para uma relação saudável e construtiva entre as diferentes gerações e, inclusivamente, capazes de eliminar preconceitos vigentes.