Pela primeira vez em Portugal, “Venere degli Stracci”, de Michelangelo Pistoletto e referência mundial da arte contemporânea, nomeadamente de Arte Povera, apresentando uma visão crítica ao consumismo rápido e efémero, encontra-se em exibição no Museu de Setúbal/Convento de Jesus.


“Venere degli Stracci”, “Vénus dos Trapos”, na tradução para português, consiste numa reprodução de Vénus em mármore, rodeada de uma pilha de roupas coloridas em segunda mão para refletir sobre a sociedade consumista e a reciclagem.

Porém, a emblemática obra, inaugurada no dia 16 ao final da tarde, tem tido, ao longo dos tempos, várias interpretações diferentes.

Presente na cerimónia de inauguração, via streaming, Michelangelo Pistoletto explicou que, quando criou a obra, em 1967, queria representar artisticamente o consumismo que vincava a cultura norte-americana à época.

“As pessoas adquiriam muitos objetos que rapidamente deixavam de ter utilidade. Criava-se uma espécie de caixote do lixo do mundo, como acontece hoje em dia com o plástico que vai parar aos oceanos”, referiu o artista plástico.

A peça, uma das mais impactantes representações de Arte Povera, introduz uma reflexão sobre como os comportamentos da atualidade mantêm uma determinada sintonia com o que já devia pertencer à História.

“A estátua de Vénus é um elemento do passado, enquanto os pedaços de pano recordam o processo da moda e a degradação da matéria na sociedade consumista atual”, sustentou Michelangelo Pistoletto.

O artista plástico italiano nasceu em Biella, Piemonte, em 1933. Em 1967, fundou o movimento Arte Povera, conhecido por utilizar materiais quotidianos e informais como elementos fundamentais na construção das obras.

O curador da exposição e diretor artístico do projeto setubalense Rota Clandestina, Renzo Barsotti, destacou a riqueza da obra de Michelangelo Pistoletto e o contributo no reforço da “primazia da arte como instrumento de regeneração social”.

O vereador da Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, sobre a escultura “Venere degli Stracci”, afirmou tratar-se de “uma provocação à fenomenologia consumista atual”.

O autarca salientou, igualmente, que a presença da peça no Convento de Jesus é importante para valorizar Setúbal enquanto cidade artística.

“É com um enorme orgulho que acolhemos esta peça em Setúbal. Este é mais um momento que marca o caminho que temos traçado na valorização da Cultura, área que tem um papel fundamental no desenvolvimento das comunidades”, sublinhou Pedro Pina.

“Venere degli Stracci” está patente no Museu de Setúbal/Convento de Jesus até 20 de março de 2022 e a entrada é livre.

Existente em diferentes versões, tamanhos e materiais, “Venere degli Stracci” faz parte das coleções permanentes de prestigiados espaços museológicos mundiais, como são os casos do Museu de Arte Contemporânea do Castello di Rivoli, em Rivoli, Itália, do Tate Modern, em Londres, Reino Unido, do Museu Kröller-Müller, em Otterlo, nos Países Baixos, e do Hirshhorn Museum, em Washington, Estados Unidos.