Três décadas de arte azulejar contemporânea, promovida e desenvolvida pela Galeria Ratton através de artistas como Júlio Pomar, Paula Rego e Menez, formam um conjunto de cinco exposições de cariz antológico inaugurado dia 13 em vários espaços de Setúbal.


“Quando a Ratton surgiu, em 1987, o trabalho em azulejo em Portugal limitava-se à cópia dos estilos tradicionais, fortemente enraizados na nossa cultura. A Ratton optou por um caminho divergente desse padrão, desafiando artistas plásticos a explorar de forma rica e ilimitada as potencialidades de uma tela tão generosa como é o azulejo”, explicou Tiago Montepegado, da Ratton, na abertura da mostra, na Galeria Municipal do 11.

Neste espaço está patente ao público uma seleção que reflete o contributo de artistas que colaboraram com a Ratton ao longo de três décadas. Com o título específico de “Reflexos”, é constituída por trabalhos de Paula Rego, Bartolomeu Cid dos Santos, Menez, Júlio Pomar, René Bertholo, Lourdes Castro, Jun Shirasu, Irene Buarque, Jorge Martins, Costa Pinheiro, Luísa Correia Pereira, Maria José Oliveira, Querubim Lapa, Maria Beatriz, Graça Morais, Arnie Zimmerman e José Barrias.

Os “dois principais núcleos” da exposição “Reflexos da Galeria Ratton 1987-2018”, assinalou Tiago Montepegado, estão na Galeria do 11 e na Biblioteca Pública Municipal, local este que proporciona uma seleção de trabalhos, intitulada “Escritas”, com obras que incorporam a palavra escrita na arte azulejar.

Poesia e artes plásticas juntam Pedro Támen, Júlio Pomar, Andreas Stöcklein, Mário Cesariny, Manuel João Vieira, Xavier Sousa Tavares, Ana Cordovil, Sophia de Mello Breyner, Pedro Proença, Rosa Carvalho, Jun Shirasu e Ana Hatherly.

“Nestes dois núcleos estão obras datadas até 2017, mas poderia haver já de 2018, porque, felizmente, a galeria tem trabalho permanente. Só que a certa altura tínhamos de traçar um limite na escolha do que queríamos expor”, apontou.

O galerista falou na inauguração da mostra na companhia da mãe, Ana Viegas, fundadora da Galeria Ratton, em 1987, em Lisboa, onde funciona atualmente, e do vereador da Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina.

O autarca, que elogiou o trabalho desenvolvido pela Ratton e pelos artistas que com ela colaboraram desde a fundação, destacou a complexidade logística da exposição, presente em cinco locais distintos de Setúbal.

“Trabalhar com a Ratton pode ser um desafio, mas este é um projeto que vale certamente muito a pena. Estas obras enriquecem sobremaneira os locais que estão a ocupar na cidade”, frisou Pedro Pina.

“Reflexos da Galeria Ratton 1987-2018”, patente até 28 de outubro, evento que integra o programa das Comemorações Bocagianas, marca também presença no Museu do Trabalho Michel Giacometti, onde Sara Maia expõe “De Ontem para Hoje”, mostra em que o trabalho azulejar estabelece um diálogo com o próprio acervo museológico.

Na Casa Bocage, Manuel Vieira mostra “Paraísos Carnívoros”, constituída por trabalhos inspirados em Bocage, enquanto, na Casa da Cultura, Andreas Stöcklein apresenta “Zonas de Transição”, coletânea de produções que inspiraram ou são decorrentes de projetos que o artista plástico tem patente, enquanto arte urbana, noutros locais de Setúbal.

“A Galeria Ratton trouxe uma linguagem contemporânea ao azulejo e continua a fazê-lo no presente”, refletiu Tiago Montepegado, para quem esse esforço na modernização permanente da pintura azulejar continua a fazer tanto sentido hoje como há trinta anos. “O azulejo é uma matéria-prima muito rica, com muito ainda por explorar.”

Nalguns locais, como na Galeria Municipal do 11 e na Biblioteca Municipal, são exibidos pequenos vídeos que complementam os propósitos das mostras. Nestes casos, as gravações resumem o percurso e currículo da Galeria Ratton da fundação até à atualidade.

Na Casa da Cultura, o público pode assistir a projeções de imagens de trabalhos de Andreas Stöcklein em vários locais do mundo, enquanto no Museu do Trabalho passa um vídeo, em jeito de documentário introdutório, sobre a exposição de Sara Maia.

Em paralelo a cada uma das mostras que constituem a exposição, realiza-se no dia 22, às 16h00, na Galeria Municipal do 11, uma visita guiada e comentada por Paulo Henriques, José Meco, Ana Viegas e Tiago Montepegado.

Júlio Moreira e Sara Maia marcam presença no dia 29, às 15h00, no Museu do Trabalho Michel Giacometti para uma conversa dedicada ao tema “Jornadas do Património”.

Na Casa Bocage, a 12 de outubro, com início às 15h00, Manuel João Vieira realiza uma visita guiada à mostra “Paraísos Carnívoros”, também comentada por Paulo Henriques. A seguir à visita, o artista interpreta poemas de Bocage de forma musicada.

O filme “Revolução”, de Ana Hatherly, é exibido, com comentários de Paulo Pires do Vale, dia 20 de outubro, às 16h30, na Biblioteca Municipal, e, por fim, realiza-se uma visita guiada à exposição patente na Casa da Cultura e ao trabalho plástico de Andreas Stöcklein patente no Túnel do Quebedo, no dia 27, com início às 17h00.

A Galeria Ratton, a funcionar em Lisboa e com oficina na Arrábida, é a única no país dedicada, em exclusivo, ao azulejo e, em especial, contextualizado em expressões artísticas contemporâneas.