Nayola - antestreia no Cinema Charlot - Auditório Municipal - realizador José Miguel Ribeiro e vereador Pedro Pina

A longa-metragem de animação portuguesa “Nayola” apresentou-se em antestreia no Cinema Charlot – Auditório Municipal, no dia 24 de março, numa sessão que incluiu uma conversa com o realizador, José Miguel Ribeiro, e o escritor José Eduardo Agualusa.


“Nayola”, com argumento de Virgílio Almeida inspirado na peça “A Caixa Preta”, dos escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, conta a história de três gerações de mulheres – avó, filha e neta – flageladas pela guerra civil em Angola.

“É uma história bela, mas que não deixa de ser dura. A cultura também tem esta condição de nos relembrar que vale a pena refletir para continuarmos a construir um futuro melhor”, indicou o vereador da Cultura, Pedro Pina, no início da sessão organizada numa parceria entre a Câmara Municipal de Setúbal, a Praça Filmes e o Instituto Politécnico de Setúbal.

Ao longo dos 70 minutos de duração do filme as vidas de Lelena, a avó, Nayola, a filha, e Yara, a neta, cruzam-se em dois tempos narrativos, distanciados 14 anos.

No passado, Nayola parte à procura do marido, desaparecido em combate na guerra civil angolana e, no presente, Yara é uma jovem rapper e ativista dos direitos humanos, o que causa grande inquietação a Lelena.

“São retratadas vivências de gentes que a cidade de Setúbal também acolheu nas suas vidas por aqui, nos seus encontros e desencontros”, afirmou o vereador Pedro Pina.

O realizador José Miguel Ribeiro reconheceu que o filme “tem muitas camadas e é metafórico”, o que resulta de um “trabalho de pesquisa sobre realidades e curiosidades da cultura angolana” que a equipa de produção desconhecia.

Já o escritor angolano José Eduardo Agualusa confessou sentir “uma grande alegria” por estar em Setúbal na antestreia de um filme baseado numa peça de teatro que escreveu em parceria com Mia Couto.

“Foi a segunda peça que escrevemos juntos. A primeira foi uma comédia e nesta fizemos um drama mais sombrio e muito sério. As pessoas estavam à espera de outra comédia e, por isso, a peça não resultou muito bem e pensámos que tinha ficado por ali”, confessou.

A história dos escritores angolanos despertou o interesse do cineasta Jorge António, que a mostrou a José Miguel Ribeiro e ao argumentista Virgílio Almeida, vindo a transformar-se numa longa-metragem de animação.

“Foi uma grande emoção para mim ver o projeto do filme finalizado”, disse José Eduardo Agualusa.

O projeto foi concebido durante nove anos de trabalho com “caminhos muito ponderados e um processo criativo muito longo”, relatou Virgílio Almeida.

O filme já foi partilhado com outros públicos em algumas zonas do país, “num esforço enorme de promoção e divulgação uma vez que as pessoas não estão muito habituadas a longas-metragens de animação”.

A sessão realizada no Cinema Charlot – Auditório Municipal contou, igualmente, com a atuação da rapper angolana Medusa que dá voz à personagem Yara.

“Foi uma experiência única. O enredo tem muito a ver com a minha história de vida, com as minhas lutas diárias e identifico-me com a Yara.”

A jovem música angolana faz parte da terceira geração representada no filme por Yara que, não tendo vivenciado a guerra civil de Angola, “tem relatos do que aconteceu e convive diariamente com as sequelas que o conflito deixou no país”.

Para Medusa é “uma grande emoção” fazer parte de um filme que conta um pouco da história do país e que, “ao contrário do habitual, coloca o cerne na forma como as mulheres vivem as guerras”.

O filme “Nayola” estreia-se nas salas de cinema portuguesas a 13 de abril.