Arquivo Municipal | Documento do Mês
Com uma base de dados com cerca de 13 mil imagens documentais, o Arquivo Municipal de Setúbal partilha com o público, todos os meses, documentos que marcam a história, as vivências, as memórias que constroem a identidade do concelho.
Através da partilha do acervo do Arquivo Municipal, revela-se o dia a dia que construiu e continua a construir o código genético de Setúbal.

Pintor de nomeada

Documento do Mês | Assento de óbito Francisco Augusto Flamengo
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Na passagem dos 109 anos do falecimento de Francisco Augusto Flamengo, destacado pintor naturalista setubalense, lembramos os seus contributos, nesta arte em particular e na cultura em geral, trilhados num caminho inédito que o irá colocar entre os mais destacados artistas locais

Tendo nascido a 27 de fevereiro de 1852, na freguesia de Santa Maria da Graça, é sobretudo como pintor da natureza, mas também como admirável cenógrafo, que Francisco Augusto da Silva Flamengo se veio a notabilizar, ficando a constar indelevelmente para a posteridade no domínio das artes com trabalhos que podem ainda hoje ser acedidos e apreciados, tanto a nível local como nacional.

O início foi inusitado, enquanto pintor sem escola formal, fazendo-se da sua espontaneidade criativa o seu melhor elemento distintivo.

Foi descoberto, ainda jovem e de pé descalço, enquanto fazia desenhos pela cidade com pedaços de carvão em paredes de edifícios, por João Eloy do Amaral, que assim se torna seu mestre, ensinando-lhe formalmente a arte da pintura até perfazer a idade de 20 anos.

Dois anos mais tarde, iria trabalhar em Lisboa com José Maria Pereira Júnior, um vulto da pintura setubalense, mais vulgarmente conhecido por Pereira Cão.

Francisco Augusto Flamengo distinguiu-se como artista principalmente em Setúbal, onde, além da execução de retratos de algumas das mais influentes figuras da época, pintava temas naturalistas em quadros onde está representada diversificada fauna e flora, mas também paisagens, como lezírias ou marinhas de sal.

Também retratou eventos correntes, como romarias, assim como figuras populares da sociedade. Figuram ainda no espólio produzido por Francisco Augusto Flamengo obras decorativas tais como o pano de boca do Teatro Rainha D. Amélia, atualmente Fórum Municipal Luísa Todi, ou o teto da Capela de S. Francisco Xavier, podendo-se se encontrar pinturas e decorações diversas da sua autoria em várias localidades do país, especialmente em espaços religiosos e teatros no sul do país. Foi, também, muito solicitado para a decoração das casas particulares das elites.

Como cenógrafo, recriou excelsamente cenários referentes a locais icónicos setubalenses como o Mercado do Livramento, a Praça de Bocage, a Avenida Luísa Todi ou o Convento dos Capuchos, nas Estrada das Machadas, essencialmente para peças teatrais de revista entre os anos 1908 a 1912.

João Francisco Envia, na sua obra “Setubalenses de Mérito”, que igualmente serve como uma das fontes para este artigo, indica um artigo do jornalista João Rocha, na edição do jornal “A Mocidade” de 1 de abril de 1915, onde há lugar a uma descrição deste ilustre pintor e da sua obra nas seguintes palavras: “alma simples de artista, com uma vigorosa técnica na execução dos trabalhos, consciência nos desenhos e no conjunto, decorações típicas, pinturas de traços delicados, ia espalhando oiro pelas suas telas”.

Tendo-se finado a 8 de fevereiro de 1915, foi postumamente homenageado pela Câmara Municipal de Setúbal com a atribuição de um topónimo no concelho, a Rua Francisco Augusto Flamengo.

O documento ilustrativo deste artigo, com o código de referência PT/AMSTB/CMSTB/N-A-01/005/005, constante no extenso espólio do Arquivo Municipal de Setúbal, no livro n.º 6 de inumações do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, constitui-se como o respetivo assento de óbito do pintor, ocorrido no dia 9 de fevereiro de 1915.