Nascido em Setúbal, Celestino Alves, pintor e professor do Ensino Técnico (tendo, também, durante quatro anos, lecionado Desenho na Sociedade Nacional de Belas-Artes), recebeu a Bolsa de Viagem José Malhoa (1947), com a qual visitou Paris, Madrid e Toledo.

Recebeu, ainda, várias bolsas de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian para Paris, Bruxelas, Haia e Amesterdão (1958 e 1959) e dentro de Portugal (1962 e 1963).

Inspirando-se, particularmente, na natureza, percorreu o país de Trás-os-Montes ao Algarve, sem esquecer a região de que era natural.

O Museu de Setúbal/Convento de Jesus guarda várias pinturas da sua autoria.

Celestino Alves (1913-1974)
Pintura a óleo sobre tela
1963
65,4x81 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 134/PP.35

Representações pictóricas dos dois acheiropoieton, mais conhecidos no catolicismo: o Santo Sudário e o Véu de Verónica. Um acheiropoieton (acheiropoieta, no plural) é um objeto que se crê ter sido criado sem intervenção humana, ou seja, criado de forma milagrosa.

Ambos os objetos seriam, de facto, sudários (panos utilizados para limpar o suor), sendo que o conhecido por Santo Sudário apresenta uma imagem muito ténue de um corpo inteiro e o denominado por Verónica, ou Véu de Verónica, apenas ostentaria um rosto.

O primeiro é tradicionalmente referido como tendo sido a mortalha de Cristo e o segundo (cujo original estará em parte incerta) está relacionado com o percurso de Cristo até ao Monte Calvário, durante o qual uma mulher lhe terá limpo o suor e o sangue do rosto, ficando com este gravado.

Estas duas pinturas, do ‘Santo Sudário’ e da ‘Verónica’, ladeiam (num oratório do Coro Alto do Convento de Jesus de Setúbal) a representação da ‘Descida da Cruz’ – uma pintura da Cruz no Monte Calvário, cujo tema, neste caso, era completado por uma escultura, em madeira policromada, de Nossa Senhora da Piedade (representação de Maria sentada com o corpo de Cristo no colo).

Escola Portuguesa
Óleos sobre madeira
Século XVII/2.º Quartel (1628?)
69,3x32,3 cm e 68,3x29,2 cm
Convento de Jesus de Setúbal (Coro Alto)
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 41/PR.41 e MS/CJ 43/PR.43

A litografia entrou e prosperou em Setúbal, incrementada pelos industriais franceses nos finais do século XIX, como atividade subsidiária da indústria conserveira (Mouro, 1990), permitindo aos fabricantes portugueses criar as suas próprias marcas.

Em 1919, a Litografia Aliança foi arrendada à Sociedade Litográfica Portuguesa e, em abril do mesmo ano, talvez reflexo da crise que estava a surgir na indústria de conservas, foi dissolvida a empresa Baptista, Rafael & C.ª (Lopes e Pereira, 2015).

Curiosamente, o próprio documento publicitário dá-nos a informação de que a Sociedade Litográfica Portuguesa, Lda., no Bairro Baptista, fazia estampagem sobre folha de Flandres e, segundo os mesmos autores, também fazia chaves para latas.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG LIT GEADA 12

Arte milenar, a ópera chinesa apresenta diferenças regionais, sendo que atualmente a mais conhecida é a Ópera de Pequim.

As representações caracterizam-se pelo simbolismo, seguindo regras e técnicas de atuação rigorosas, conforme as personagens tipo e as diferentes escolas.

Abrangem vários tipos de arte (canto, música, dança, artes marciais e acrobacias, mímica, recitação, fala). Os adereços e a maquilhagem contribuem significativamente para o simbolismo das peças.

Arte Chinesa
Madeira policromada
Século XIX
Altura 42,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 319/E.99 A, B, C,D, E

Utensílio doméstico, com tampa articulada, cuja decoração permitia a saída do fumo.

Este modelo é frequentemente identificado como ao estilo D. Maria, por, cronologicamente, se situar no período do reinado de D. Maria I (entre 1777 e 1815).

Era comum defumar os espaços, queimando substâncias aromáticas diversas, como prevenção ou tratamento de doenças e contra mofo e insetos.

Produção portuguesa
Liga de cobre e madeira
Século XVIII (último quartel)/XIX (início)
34x13,1x19,3 cm
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5126

Gravura da artista plástica angolana residente no Brasil, incorporada no Museu de Setúbal/Convento de Jesus aquando da sua participação na primeira ou na segunda Exposição Internacional de Arte Postal (respetivamente sob as temáticas “Solidariedade” e “Minorias”), organizadas pela Associação José Afonso, em 1989 e 1990, com a colaboração do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.

Beatriz Valdez
Gravura sobre papel (matriz em metal) 8/10
Sem data (1989?/1990?)
32x44 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, 3767/Grav.171

Francisco Augusto Flamengo foi o retratista e pintor de interiores de eleição da burguesia setubalense da sua época, além de ter colaborado ativamente como cenógrafo no meio teatral e associativo local.

O seu primeiro mestre foi João Elói Ferreira do Amaral (Setúbal, 1839-1927) com quem ficou até aos 20 anos. Aos 22 anos partiu para Lisboa onde trabalhou durante três anos com José Maria Pereira Júnior (1841-1921), também natural de Setúbal, na pintura decorativa de paredes e tetos de edifícios lisboetas.

Regressado a Setúbal, a sua área geográfica de intervenção abrangia principalmente o sul do país, tendo-lhe sido encomendadas pinturas para os tetos e paredes de igrejas e teatros de diversas localidades.

Francisco Augusto Flamengo (Setúbal, 1852-1915)
Pintura a óleo sobre madeira
Séc. XIX (final) / Séc. XX (início)
18 x 12,5 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 3932/PP.478

Esta obra integra-se no ciclo da pintura gótica levantina, tanto pelo hieratismo e convencionalismo simbólico das figuras, como pelo linearismo dos contornos. Mostra, ainda, forte influência da iluminura medieval no tratamento das texturas dos tecidos e dos materiais.

Nessa época, a pintura catalã já utilizava fundos figurativos, com a intenção de transmitir profundidade, contudo, essas representações são ainda insipientes, evidenciando o desconhecimento das regras geométricas da perspetiva.

O arcanjo São Gabriel, enviado de Deus, anuncia à Virgem Maria que vai engravidar por intermédio do Espírito Santo e dar à luz Jesus. O livro aberto poderá aludir à profecia de Isaías no Antigo Testamento (em que o profeta anuncia que uma virgem conceberá e dará à luz um filho) ou representar um Livro de Horas (livros com o calendário religioso, salmos e orações). O vaso com as açucenas simboliza a pureza de Maria.

Escola Catalã
Têmpera sobre madeira
Século XV
80x52 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 83/PR.83

Durante alguns meses entre a primavera e o verão, já desde séculos anteriores, em Portugal vivencia-se em muitas terras, sendo Setúbal um lugar de eleição, um tempo de celebração comunitária, dando vida às diversas festas e tradições religiosas numa simbiose perfeita entre o sagrado e o profano.

Através deste folheto de divulgação das Antigas e grandiosas festas dos Murraceiros em honra do Senhor Jesus do Bonfim, datado provavelmente de 1930, fica-se a conhecer o programa das mesmas, oferecendo à população e a todos os participantes um diverso conjunto de atividades.

No livro intitulado Entre urzes e camarinhas pode ler-se «por meados do século XIX, realizava-se ali, em pleno campo, uma festa organizada pelos murraceiros de Setúbal, barqueiros que trabalhavam no transporte do sal, das marinhas dos navios. Havia a missa cantada, procissão de arraial, fogo de artifício, música por uma banda militar e muita afluência do povo» (Pinho et al., 1982).

Nestas festas existiu e continua a existir um tempo que se converte em espaço de reencontro, celebração religiosa, partilha entre o lúdico, a tradição e o património cultural, sendo uma realidade comum a todos os intervenientes e um palco para a projeção da memória coletiva.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG CS 229

O Convento de Jesus de Setúbal, cuja edificação se iniciou em 1490, foi uma casa monástica de religiosas clarissas. As primeiras irmãs seguiam já a reforma de Santa Coleta de Corbie, que recuperara, a partir de 1406, os princípios originais da ordem.

Esta imagem originária do Convento representa as esculturas produzidas no século XVIII para os altares e mísulas dos retábulos em talha dourada.

Por vezes, eram completadas por elementos em prata ou liga de cobre, como resplendores sobre a cabeça e acessórios nas mãos, tais como palmas, cruzes, lábaros (estandartes), varas ou báculos.

Escola Portuguesa
Madeira estofada e policromada
Século XVIII
58,5x47,5x19,3 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 223/E.3

Desde a Idade Moderna, em consequência do comércio marítimo dinamizado pela Rota do Cabo (primeiro pelos portugueses e, depois, por outros países europeus) e da fixação de europeus nos países asiáticos, que os artistas autóctones dessas regiões se especializaram na produção de objetos para exportação (adaptados à cultura portuguesa/europeia) e para uso local pelos estrangeiros residentes.

A maioria desses objetos seguiam modelos estruturais europeus, mas a ornamentação e alguma simbologia não cristã evidenciavam a produção asiática.

Arte Japonesa
Porcelana vidrada
Século XIX
9x14,5x9,3 cm e 1,1x15,7x12,1 cm
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4974/CR.102 e MS/CJ 4975/CR.103

Pedro Carlos dos Reis foi o autor do projeto da estátua do poeta setubalense Manuel Maria Barbosa do Bocage, que se encontra, desde 1871, em posição central na principal praça urbana de Setúbal, a Praça de Bocage.

O Museu de Setúbal detém um amplo espólio de Pedro Carlos dos Reis, destacando-se (em número) desenhos, estudos e esquissos de trabalhos diversos.

Pedro Carlos dos Reis (Lisboa, 1819-1893)
Século XIX/2.ª metade
Grafite e carvão sobre papel
24,2x17,2 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5385/D. 729

Adão Rodrigues cresceu em Setúbal desde os dois anos. Aqui expôs individualmente pela primeira vez, em 1959. Foi aluno de Álvaro Perdigão, na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa.

Posteriormente, frequentou outros cursos. Apesar da mudança de residência para Lisboa, nunca perdeu o vínculo afetivo a Setúbal, onde expôs por diversas vezes, tendo a última vez sido em 2009, aquando da celebração de 50 anos de carreira. Pintor abstrato, a sua obra parte de uma raiz introspetiva, intimista, lírica. As suas pinturas, ricas na diversidade das soluções empregues (incluindo a exploração de colagens e de técnicas mistas), destacam-se pelas composições complexas onde a cor detém um papel fundamental, seja pelo contraste do claro-escuro, seja pela hábil utilização de matizes.

Adão Rodrigues (Porto, 1935 – Lisboa, 2021)
Óleo sobre tela
1973
73,2X 53,5 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2411/PP.201

O Instituto Português de Conservas de Peixe foi a entidade responsável pela produção deste documento.

Tendo sido criado pelo sistema corporativo do Estado Novo, o Instituto Português de Conservas de Peixe teve como objetivo principal o controlo e a regulação desta indústria.

Deste modo, a propaganda realizada pelo instituto, na década de 30 do século XX, tornou-se um veículo primordial para a promoção da indústria conserveira de peixe no mercado nacional e internacional, utilizando a publicidade e o design comercial para captar e fidelizar clientes.

Neste documento, a informação regulada e selecionada está bem patente, desde a escolha da imagem ao conteúdo escrito, como a referência relativa ao produto gastronómico, neste caso o peixe, somente português e de excelente qualidade.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG LIT. SADO 16

Retrato naturalista, vendo-se ao fundo um pórtico de igreja com arco de ogiva em pedra.

A pintora Alda Machado, que legou ao Museu de Setúbal esta pintura, foi aluna de David Estrela de Mello e o recibo de entrada do quadro no museu menciona-o como “estudo”, o que nos faz pensar poder ter havido intenção, do pintor, em criar outra pintura de maiores dimensões com este mesmo título. Trata-se, contudo, de uma hipótese não confirmada.

David Estrela de Mello
Óleo sobre tela
Séc. XIX (4.º Quartel) /Séc. XX (1.º Quartel)
50x43,5 cm
Legado Alda Machado e Fernando Santos
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1683/PP.1378

Trabalho representando uma paisagem com castelo ao estilo francês e uma pequena aldeia junto de um lago ou rio (representado por meio de vidro espelhado), com dois pequenos barcos.

O conjunto encontra-se no interior de uma caixa/maquineta preparada para ser pendurada e com moldura trabalhada e dourada.

O interior, forrado a papel, pintado com aguarela, representa o céu e contribui para a ilusão de profundidade.

Esta peça integra um espólio doado em 2007, por Maria Manuela da Costa Pereira Jordão, residente em Leiria. Esse espólio pertenceu à bisneta (Luiza Rufina de Miranda Todi) da importante cantora lírica setubalense setecentista, Luísa Todi.

Autor desconhecido
Cortiça, vidro espelhado, papel aguarelado, madeira
Séc. XIX/4.º Quartel
47,5x56,8 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5112

Trata-se do molde em gesso que antecedeu a fundição em bronze do medalhão colocado, nesse mesmo ano (1953), na Rua da Brasileira (Bairro do Troino), rua onde nasceu a cantora.

O medalhão encontra-se na fachada de uma casa que se supõe poder ser a do seu nascimento.

Luciano dos Santos (Setúbal, 1911 – Lisboa, 2006)
Gesso
1953
Diâmetro 49 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4970/E.288

A edição deste catálogo resulta de um trabalho de investigação muito longo, conduzido por Joaquim Pais de Brito, com uma equipa pluridisciplinar, conforme se pode ler no texto de apresentação, da autoria da diretora, à época, do Instituto Português de Museus, Maria Antónia Pinto de Matos.

Sobre esta exposição O Voo do Arado, Paula Godinho, antropóloga, investigadora e professora na Universidade Nova de Lisboa, na Etnográfica – Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, em 1997, refere o seguinte:

O trator pneumático de fabrico americano McCormick Farmall, disposto no centro da primeira sala da exposição O Voo do Arado, no Museu Nacional de Etnologia, com o seu brilho de tinta vermelha e metal, constitui um emblema das alterações na utilização da tração animal na agricultura, bem como nas relações sociais e nas práticas simbólicas rurais. Pela sua centralidade, este objeto, que, com os outros da exposição, narra uma história, o fim de um tempo e as permanências nos modos de viver de um espaço, e dá igualmente conta da mudança até à dissipação da agricultura, adivinhada no arado quadrangular que, suspenso no átrio, constitui uma imagem sugestiva desse desaparecimento. Percorrer a exposição, como fazê-lo em relação ao seu catálogo, é caminhar em paralelo pela evolução da agricultura e pela história da antropologia em Portugal desde, pelo menos, 1948, ano decisivo na definição de duas vias complementares de abordagem da realidade nacional pela publicação, por Jorge Dias, de Os Arados Portugueses e as Suas Prováveis Origens, e Vilarinho da Furna, Uma Aldeia Comunitária, enfatizando respetivamente as vertentes extensiva e intensiva na abordagem da realidade nacional, cujo reavivar é saudável num momento de mudança ao nível dos modelos e dos terrenos da disciplina.

O Museu do Trabalho Michel Giacometti congratula-se por ter na sua exposição Ao Encontro do Povo, um arado radial, o qual integra a coleção de alfaias agrícolas deste museu municipal.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG ET 312

Desenho original de Almada Negreiros para a capa da primeira edição (1926) do livro ‘O Esplendor das Coisas’, escrito por Joaquim Correia da Costa (Moita do Ribatejo, 1896 - Lisboa, 1968) e publicado em Lisboa pela Lumen – Empresa Internacional Editora.

Correia da Costa foi autor, ensaísta, crítico literário, escreveu vários títulos e publicou artigos em diversos periódicos.

A sua biblioteca e coleção pessoal de pinturas e desenhos (onde se insere este original) integram o acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus na sequência do seu legado à Câmara Municipal de Setúbal.

O Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (1994) indica que ‘O Esplendor das Coisas’ talvez seja o seu melhor título.

Almada Negreiros (São Tomé, 1893 - Lisboa, 1970)
Aguarela sobre papel
Sem data (1926?)
33,8x24,9 cm
Coleção Correia da Costa
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 197/D.32

Um dos oratórios do Coro-Alto do Convento de Jesus apresenta lateralmente oito pequenas pinturas, sobre madeira, com representações de alguns dos atributos de Maria presentes na Litania da Virgem.

Esses atributos são acompanhados pelas respetivas legendas, retiradas de vários livros bíblicos do Antigo Testamento (Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Sabedoria, Salmos e Isaías), assim como de outros textos (Ave Maris Stella – um hino em louvor à Virgem de origem desconhecida, talvez do séc. IX – e Litania da Santíssima Virgem Maria, aprovada em 1587 pelo papa Pio V, mas utilizada desde a Idade Média).

Temos, por exemplo, ‘Quasi Palma’ e ‘Oliva Spessiosa’, expressões latinas retiradas do livro bíblico Eclesiastes, que se refere à Virgem Maria (‘Elevei-me como o cedro do Líbano, como o cipreste do monte Sião; cresci como a palmeira de Cades (…) Elevei-me como uma formosa oliveira nos campos, (...)’).

Junto da palmeira (mencionada na legenda) está também representado o cipreste. Ou, ainda, entre outros, ‘Speculum Sine Macula’ (espelho sem mácula), retirado do Livro da Sabedoria, e ‘Hortus Conclusus’ (jardim cercado), do Livro Cântico dos Cânticos.

Autor Desconhecido (Escola Portuguesa)
Óleos sobre madeira
Séc. XVII/2.º Quartel (1628?)
38,5x38,5 cm (cada)
Coro-Alto do Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, do MS/CJ 146/PR.46 ao MS/CJ 53/PR.53

A partir da década de 40 do século XIX, surge no Reino Unido um novo material cerâmico. Minton, que se destacou entre os seus produtores, apelidou-o de parian ware para destacar a semelhança com o mármore da ilha de Paros, no Mar Egeu.

Caracteriza-se por ser um tipo de porcelana não vidrada, lisa e altamente vitrificada.

Este par, com marca da fábrica, apresenta motivos revivalistas do final de setecentos e do início de oitocentos.

Produção de Staffordshire, Reino Unido
Cerâmica vidrada e peltre (liga de estanho e chumbo)
Séc. XIX
26,5x16,5 cm (cada)
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4942/CR.89 e MS/CJ 4943/CR.90

Pode-se observar a representação do trabalho das operárias, maioritariamente mulheres. A representação masculina é em menor número, destinando-se os operários a tarefas de maior esforço.

Estas fotografias são todas respeitantes à empresa Araújo & Bastos, Ldª. e fazem parte de uma doação (de 34 fotos) ao Museu do Trabalho Michel Giacometti, quando este equipamento cultural ainda estava sediado no Museu de Setúbal Convento de Jesus, em 1989, pela Sra. Maria Cristina Lourenço Gomes Ferreira e seu filho António Manuel Ferreira, filha e neto do proprietário Carlos Augusto de Faria Gomes.

A empresa Araújo & Bastos, Ldª., teve como nome de firma Lutadora. Estava sediada na Estrada da Graça, 250, em Setúbal, iniciando atividade em 1932, a qual terminou em 1949.

A publicação Conservas de Portugal, datada de 1943, também nos dá a informação que esta empresa, embora tenha laborado em Setúbal, mantinha a sede em Lisboa, na Calçada do Sacramento, 14-1.º.

Informa ainda o mesmo documento que “é, sem favor, uma das firmas mais importantes e de invejável reputação em Portugal. Todo o seu fabrico tem sido distinguido com o melhor acolhimento entre nós e nos principais mercados do estrangeiro. A preparação das suas conservas é excelente; é digna, sob todos os aspectos, de ser apreciada. Não lhe falta os necessários requisitos e as melhores matérias primas. É por este facto, que tanto acredita uma casa, que a sua produção é inconfundível – em qualidade”.

A empresa Araújo & Bastos, Ldª. comercializou, entre outras, a marca Maître d’Hotel, conforme se pode ver na fotografia.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG FOT 1

Álvaro Perdigão pertence a uma geração de artistas, nascidos em Setúbal, que se afastou do tardo-naturalismo, desenvolvendo a sua identidade pictórica própria.

Iniciou o seu percurso em Setúbal no atelier de outro importante pintor, Bonifácio Lázaro Lozano.

Expôs pela primeira vez no Clube Naval Setubalense em 1929. Além de vários prémios em salões e exposições, recebeu a Bolsa de Viagem José Malhoa, em 1956.

Foi-lhe concedida a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal em 1985.

Paralelamente à carreira de artista plástico exerceu a profissão de professor do ensino técnico e de professor de pintura na Casa Pia de Lisboa.

Álvaro Perdigão (Setúbal, 1910 - Lisboa, 1994)
Óleo sobre tela
1980
58,3x79cm
Aquisição da Câmara Municipal de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1875/PP.184

Este Poema Visual (MS/CJ 2064/E.152) foi doado ao museu, pelo artista, no seguimento de uma exposição temporária coletiva em 1988. Posteriormente, em 1990, era doado o respetivo protótipo (MS/CJ 2343/E.160).

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares e doutorado em Literatura/Literatura Portuguesa pela Universidade Aberta, Lisboa, Gabriel Rui Silva dedicou-se, especialmente nas décadas de 80 e 90 (séc. XX), à poesia visual e à poesia concreta, tendo organizado e participado em diversas exposições visuais (em Portugal e no estrangeiro), além de ter desenvolvido várias instalações artísticas, performances e projetos de videoarte.

Gabriel Rui Silva (n. Almada, 1956)
Madeira, ferro, plástico
1988
15,6x29 cm
Doação do artista plástico
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2064/E.152

Gabriel Rui Silva (n. Almada, 1956)
Madeira (?), plástico
1988
8x12,8 cm
Doação do artista plástico
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2343/E.160

O conto Urupês, do escritor e editor brasileiro Monteiro Lobato (1882-1948), o qual pertence à Biblioteca Correia da Costa, do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, é uma das suas principais obras literárias pré-modernistas.

Esta obra reúne ao todo 14 contos de Monteiro Lobato e mostra o choque entre o atraso do meio rural e a tendência ao progresso evidenciada nos grandes centros urbanos.

Destaca-se o uso da linguagem coloquial das personagens, pois, de acordo com a crítica literária, o recurso da oralidade foi a maior ousadia do escritor em Urupês, dado que na literatura brasileira da época era visto como inferior e sem valor literário.

Autor também de literatura infantojuvenil, tendo escrito uma extensa obra de enorme sucesso, nomeadamente a série de livros intitulada Sítio do Picapau Amarelo, que mais tarde seria adaptada para televisão.

Monteiro Lobato é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX e sua obra é composta por dezenas de contos, artigos, críticas, traduções e romances.

Carta dedicatória

Jurandyr Ubirajara Campos (1912-1972) foi desenhador, ilustrador e pintor brasileiro. Iniciou a carreira como desenhador do New York Times e, após regressar ao Brasil em 1930, contribuiu para a introdução da arte ao serviço da propaganda.

Notabilizou-se como um importante ilustrador dos livros infantis de Monteiro Lobato, seu sogro, que foi também um dos grandes incentivadores da sua carreira artística de pintor. Em 1950 assume o cargo de presidente do Salão Paulista de Belas Artes.

Na Biblioteca Correia da Costa é possível ler carta de Jurandyr Campos, onde refere a oferta ao seu amigo Correia da Costa de uma obra literária do seu sogro Monteiro Lobato.

Urupês de Monteiro Lobato
São Paulo, editora Brasiliense, 1949
Coleção: Obras Completas de Monteiro Lobato ; vol. 1
Cota: MSCJ CC 1405

Carta manuscrita dirigida a Joaquim Correia da Costa
De Jurandir Ubirajara Campos, São Paulo, 1951
Cota: MSCJ CC DOC 1

Na publicação periódica intitulada Sítios e memórias: revista bimestral de artes e culturas, o historiador Álvaro Arranja publica um artigo a que deu o nome Memórias vivas: entrevista com 2 ex-operários conserveiros de Setúbal. Este trabalho resultou da recolha de testemunhos realizados por meio de entrevistas, na década de noventa, concretamente no ano de 1997, congregando um importante manancial de informação, guardada na memória de duas pessoas – Álvaro Maria e Ondina dos Prazeres – que, gentilmente cederam à sua partilha.

Um homem e uma mulher, ambos setubalenses, herdaram desde muito jovens o saber/fazer profissional para superarem o dia a dia dentro de uma profissão muito difícil.

A utilidade da entrevista converge para a relação entre o passado e o presente, onde a transmissibilidade das lembranças é essencial para entender as ações do homem perante as experiências que se herda dos acontecimentos.

A memória depende das impregnações das imagens e lembranças que recordam o passado para que no tempo presente reconstrua aquilo que já não existe.

Para que a memória revele a história é necessário proceder ao resgate do passado para se conservar a identidade de uma comunidade, de um povo.

Por seu lado, o entrevistado, ao testemunhar cria um processo de reconstrução da identidade individual e coletiva.

Por muito que o tempo passe, a memória continua e continuará sempre viva. Só assim sabemos como foi o passado, temos consciência do presente e a certeza de que haverá futuro.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota: MTMG P.P. 170

Residente em Lisboa, José de Matos Cardoso tem mantido uma relação artística regular com Setúbal, onde nasceu, expondo frequentemente nas galerias municipais desde a década de 80.

Ao longo desse percurso, foram já várias as doações que fez de pinturas, esculturas e desenhos para o acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.

Matos Cardoso (n. Setúbal, 1938)
Tinta da China sobre papel
1975
50x65 cm
Doação do artista plástico
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3341/D.218

Foi integrada no século XVIII num oratório lateral do Coro Alto, datado de 1749, juntamente com outras pinturas de pequeno formato.

O culto de devoção mariana que se desenvolveu na Europa deu origem a uma grande variedade de figurações iconográficas, sendo Maria a personagem mais representada na arte cristã a seguir a Jesus Cristo.

A devoção privada incrementou o interesse por peças de pequeno formato para oratórios e pequenas capelas privadas. As oficinas de pintura flamengas produziam quer retábulos de grandes dimensões, para igrejas e conventos, quer pinturas de pequeno formato, em grande quantidade, adquiridas pelos nobres e burgueses de toda a Europa.

Segundo modelo de Joos Van Cleve
Óleo sobre madeira de castanho
Séc. XVI
37,5x23,9 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 38/PR.38

A garrafa apresenta bojo largo de formato campanular e gargalo alto e esguio onde pode pousar o copo invertido. Decoração pintada a dourado e constituída por linhas circulares que cobrem toda a superfície das peças (em círculos concêntricos).

Este elegante utensílio doméstico, representativo da arte de soprar vidro, no estilo Arte Nova, integra a coleção doada por Maria Manuela da Costa Pereira Jordão.

Esse espólio pertenceu a Luiza Rufina de Miranda Todi, bisneta da importante cantora lírica Luísa Todi, natural de Setúbal.

Maria Manuela da Costa Pereira Jordão herdou esses bens da sua mãe (Elvira Pereira da Costa e Oliveira) e essa de sua irmã (Albina Pereira da Costa Brites), que serviu na casa dessa bisneta da cantora e de quem, por sua vez, os herdara.

Luiza Rufina de Miranda Todi (nascida a 1851) era filha de Leopoldo Rodrigo Todi Júnior (nascido a 1826) e neta de Leopoldo R. Todi, filho de Luísa de Aguiar Todi.

Centro de Produção Desconhecido
Vidro soprado pintado
Início do séc. XX
19,3x13cm (garrafa); 9,9x8 cm (copo)
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5162 e MS/CJ 5163

Bonifácio Lázaro Lozano nasceu na Nazaré no seio de uma família espanhola, que se mudaria para Setúbal no ano seguinte ao seu nascimento para aqui abrir uma fábrica de conservas de peixe. Foi nesta cidade, onde cresceu, que começou os seus estudos artísticos. Formou-se na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e na Academia de Belas-Artes de San Fernando, em Madrid. Viveu entre Portugal e Espanha. Dedicou-se a várias temáticas, entre as quais o retrato, tendo a sua esposa sido um modelo constante.

Bonifácio Lázaro Lozano (Nazaré, 1906 – Madrid/ Espanha, 1999)
Retrato da esposa do pintor
Óleo sobre Contraplacado
1932
70,2x99,5 cm
Doação do Artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2788/PP.231

Em 2009, Virgílio Domingues doou mais de uma vintena de obras escultóricas à Câmara Municipal de Setúbal, expostas na sua quase totalidade na Galeria Municipal, localizada no edifício da antiga agência do Banco de Portugal, na Avenida Luísa Todi.

Diplomado pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e bolseiro da Fundação Gulbenkian em 1958, recebeu, em 1962, o prémio de Escultura Soares dos Reis.

Integrou a direção da Sociedade Nacional de Belas-Artes durante vários anos e está representado na arte pública e em coleções privadas e institucionais em Portugal e no estrangeiro.

Em 2018, foi-lhe atribuída a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal.

Virgílio Domingues (Lisboa, 1932)
Poliéster
1974(?)
29,7x51,5x72,5 cm
Doação do Artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5278/E.305

A Biblioteca Olga Morais Sarmento, existente no Centro de Documentação do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, doada pela própria e em vida ao município de Setúbal, em 1939, é constituída por monografias de várias temáticas (predominando a literatura), publicações periódicas, partituras musicais e uma coleção de autógrafos.

Em destaque, o cancioneiro 'Os Nossos Poetas, Melodias Portuguesas', canções dispersas, da autoria da Condessa de Proença-a-Velha (1864-1944).

D. Maria de Mello Caldeira Giraldes de Bourbon (o seu nome de batismo) foi pianista, compositora e autora de literatura infanto-juvenil, cuja produção literária e artística assinou com o pseudónimo M(adame) Grisalde.

Neste III volume de 'Os Nossos Poetas', da Condessa de Proença-a-Velha, com partituras musicais ilustradas por Nunes da Silva, salientamos a poesia musicalizada de Florbela Espanca e Teófilo Braga e, ainda, a dedicatória da autora a Olga Morais Sarmento, datada de 1938.

M. Grisalde (Condessa de Proença-a-Velha)
Os Nossos Poetas, Melodias Portuguesas, canções dispersas
Lisboa, Imprensa Beleza, Vol. III, 1938.
Cota MSCJ OMS 1173

Este sino (o de maiores dimensões) tem gravado, além da data (1496) e das armas de Portugal, o título régio de D. Manuel I em latim: EMANVELL PRIMVS REX PVRTUGUALIE ET ALGVARBIORVM CITRA ET VLTRA MARE IN AFRICA ET DNS GVINEE (Manuel Primeiro Rei de Portugal e dos Algarves d'Aquém e d'Além-Mar em África e Senhor da Guiné).

O sino de menores dimensões apresenta, por sua vez, inscrições de devoção.

Fabrico Português
Bronze fundido
1496
63,3x58,5 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 411/T.24

O exemplar aqui referenciado, o n.º 169, de agosto de 1930, é um documento histórico, praticamente todo referente à divulgação e promoção da cidade de Setúbal, tendo um toque de propaganda do regime, como era usual à época. Aliás, na página 10 é feita a referência de que o mesmo foi visado pela Comissão de Censura.

Particular destaque para a I Exposição Regional de Setúbal, de 1930, apresentada como um grande marco de viragem da cidade sadina em direção ao desenvolvimento e progresso.

'O Volate'
n.º 169
agosto, 1930
Museu do Trabalho Michel Giacometti
Centro de Documentação
Cota P.P. 499

O Museu do Louvre, em Paris, possui uma vasta coleção de placas metálicas gravadas, sendo que muitas são utilizadas para a impressão de novas, mas autênticas, calcografias, posteriormente vendidas ao público. Esta proveniência está indicada na linha de rodapé deste exemplar.

Foujita, artista modernista, que partilha afetuosamente o primeiro plano com um gato, apresenta-se a trabalhar na intimidade do seu atelier, podendo-se ver outros trabalhos seus (identificamos uma tela engradada, presa com tachas, e um retrato de perfil de uma mulher).

Esta postura é igual à do seu outro autorretrato, pintado sobre tela, datado de 1927 e intitulado ‘Autorretrato com gato', propriedade da Fundação Foujita em Paris.

Léonard Tsuguharu Foujita (1886, Tóquio/Japão – 1968, Zurique/Suíça)
Calcografia (gravura com matriz em metal) impressa pelo Museu do Louvre sobre matriz original. Matriz gravada na técnica da ponta-seca.
Sem data (cerca 1927)
65 x 50 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 198/Grav.01

São Francisco de Paula (Paola, Calábria/Itália, 1416 – França, 15'07) tornou-se eremita muito jovem.

Em consequência do número de seguidores solicitou autorização para fundar um mosteiro no alto de um monte perto de Paola. A ordem que fundou, cerca 1435, (‘Congregação Paulina dos Eremitas de São Francisco de Assis’, posteriormente intitulada ‘Ordem dos Mínimos’) seria reconhecida pelo Papa em 1474.

Esta ordem mendicante seguia regras de vida eremítica de grande austeridade, pobreza, humildade e penitência. Nesta pintura de pequeno formato, ideal para oratórios, o santo (canonizado em 1519) é representado, como habitualmente, vestindo o hábito da ordem, em idade avançada, com longas barbas e segurando num bordão.

Escola Flamenga
Óleo sobre madeira
Séc. XVI (final)
23,5 x 19 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 92/PR.92

Revista técnica sobre a indústria e comércio das conservas de peixe, com uma periodicidade mensal, fundada em 1946 pelo setubalense Francisco José Guerra, propriedade da Sociedade da Revista Conservas de Peixe, sob a direção inicial de José António Ferreira Barbosa e edição de J. Agostinho Fernandes, com sede em Lisboa.

Em janeiro de 1955, a direção é designada a António Torres Botelho e a edição para Fernando A. de Carvalho.

Foi publicada em Portugal entre 1946 e 1971, com artigos de autores sobretudo nacionais, mas também alguns estrangeiros, abordando assuntos como a pesca da sardinha; cursos para mestres de fábricas; matérias-primas; ciência e técnica; a modernização da indústria de conservas portuguesas; Congresso Nacional de Pesca; produção e exportação; informação estatística; publicidade das marcas de conservas, entre outros assuntos inerentes à temática da indústria conserveira.

Museu do Trabalho Michel Giacometti – Centro de Documentação – Cota P.P. 47

Nossa Senhora do Bom Despacho entronizada. A Soror Leonor de São João Baptista, religiosa do Convento de Jesus de Setúbal, refere na sua crónica de 1630, ‘Tratado da Antiga e Curiosa Fundação do Convento de Jesus de Setúbal (…)’, a existência de imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho, na altura colocada numa capela lateral à entrada do Coro Alto, indicando tratar-se de ‘imagem antiga e que veio de Castela’ (Parte V, Cap.17).

Atualmente mantém-se no Coro-Alto, mas ao centro de uma estrutura retabular, com bustos-relicários do século XVII, reconstruída no período rococó (segunda metade do século XVIII).

Madeira estofada e policromada
Séc. XVII (?)
127,5x80,5x59,5cm
Coro-Alto do Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 224/E.4

Nascido em Setúbal, Fernando dos Santos formou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Foi professor de Desenho e de Trabalhos Manuais, colaborador do jornal Diário Popular e autor de Teatro, além de pintor. Representa o Tardo-Naturalismo que se prolongou pelo século XX em Portugal.

Decorou as paredes de alguns cafés de Lisboa, sendo ainda hoje possível apreciar no Café Nicola as cenas da vida do poeta Manoel Maria Barbosa du Bocage. Integrou a direção da Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa. Foi membro de diversas comissões organizadoras de eventos e de comemorações como a Comissão Central da Exposição Regional do Distrito de Setúbal (1930), a Comissão Executiva do II Centenário do Nascimento de Bocage (1965) e a Comissão do 1.º Centenário da Cidade de Setúbal (1960).

Fernando dos Santos (1892-1965)
Óleo sobre tela
1925
50,3x61 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 137/PP.38

Teotónio Xavier Oliveira Banha (Setúbal, 1785-1853) participou, enquanto militar, nas Campanhas Napoleónicas de Espanha (1808), dos Povos Germânicos (1809), da Rússia (1812) e da Saxónia (1813), tendo-as registado por escrito. Esse seu relato foi editado postumamente, por ordem do ministro da Guerra visconde de Sá da Bandeira, acrescido de notas e de outros textos mais reduzidos, sob o título “Apontamentos para a História da Legião Portuguesa ao serviço de Napoleão I mandada sair de Portugal em 1808, narrativa do Tenente Teotónio Banha” (Lisboa, Imprensa Nacional, 1863).

De regresso a Portugal e a Setúbal, ocupou diversos cargos ao longo da sua vida, como o de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, o de delegado de saúde e o de guarda-mor da saúde do porto de Setúbal, entre outros.

Demonstrou gosto pelo desenho, destacando-se duas perspetivas da frente ribeirinha de Setúbal (preservadas em gravuras) e de plantas, nomeadamente a do Cemitério dos Estrangeiros (projeto de sua autoria), onde terá sido enterrado no talhão dos católicos.

Este seu retrato desenhado à vista do modelo por Sendim (“Sendim do Vivo deli'nium' 1832”: Sendim desenhou do natural em 1832.) retrata ao fundo a cidade de Moscovo a arder, durante o fogo dos dias 15, 16 e 17 de setembro de 1812, após a entrada das tropas de Napoleão I (“MOSKOU {nos dias 15, 16 e 17 de setembro de} 1812”) e na frente transcreve parte do texto, anteriormente referido, da autoria do retratado, que relata essa Campanha (da Legião Portuguesa) das tropas de Napoleão em Moscovo.

Maurício José do Carmo Sendim (professor e litógrafo, 1786/1790-1870)
Desenho preparatório para gravura (?)
Carvão e Aguarela (aguada) sobre papel
1832
50,2x40 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 120/PP.21

Importante artista flamengo, Pieter Coecke Van Aelst foi pintor, gravador e projetista de tapeçarias.

Em 1539 traduziu o tratado de arquitetura de Sebastiano Serlio (Bolonha, 1475-1554), influenciando, nos Países Baixos, a divulgação dos conceitos artísticos renascentistas italianos.

Este quadro insere-se na produção, para exportação, de pinturas de pequeno formato das oficinas flamengas, especialmente adequadas para oratórios ou pequenas capelas privadas e conventuais.

No séc. XVIII, foi integrada num oratório lateral (de 1749) do Coro Alto do Convento de Jesus, juntamente com outras pinturas de pequenas dimensões.

Atribuído a Pieter Coecke Van Aelst (Bélgica, 1502-1550)
Óleo sobre madeira de castanho
Século XVI, 2.º quartel
30,6x27,5 cm
Convento de Jesus
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 37/PR.37

Entre o portão e a escadaria de acesso ao piso superior da Casa do Corpo Santo, uma 'figura de convite', representando um porteiro da antiga Confraria do Corpo Santo, inclina-se, com o tricorne na mão, saudando quem entra.

A Confraria do Corpo Santo remonta ao séc. XIV, com compromisso datado de 1340. Era uma confraria e corporação profissional de pescadores, navegantes e mareantes.

O compromisso permite-nos saber, entre outros aspetos, que a confraria se encarregava do provimento às viúvas e da dotação às órfãs dos confrades. Entretanto, no séc. XV, parece ter havido um pequeno hospital associado à confraria. Na estrutura interna, os ofícios de navegante e de pescador tinham representações próprias, cada qual com respetivo provedor e tesoureiro.

O seu envolvimento em questões locais, como a oposição ao aboletamento (aquartelamento dos soldados em casas de particulares) durante o domínio castelhano e diversos contributos financeiros ou de mão de obra, em diversas épocas, são prova da importância que alcançou na sociedade civil local.

Como contrapartida, a confraria recebeu vários privilégios reais, nomeadamente a isenção de cargos públicos (de 1444), ter representação no senado da câmara (pela participação na Guerra da Restauração, séc. XVII), entre outros.

Em 1714 (conforme indicado pela data sobre o lintel do portão do pátio) a confraria instalou-se neste edifício, constituído por algumas salas cedidas do Palácio da Família Cabedo.

Escola Portuguesa (Mestre P.M.P.?)
Azulejos
Séc. XVII (1.ª metade)
Património Integrado, Casa do Corpo Santo de Setúbal

O livro intitulado 'Breve História da Freguesia de São Sebastião' foi a realização de um trabalho de investigação do jovem historiador setubalense Diogo Ferreira.

Quando este investigador ofereceu ao Museu do Trabalho um exemplar da obra, logo após a publicação da mesma, em 2021, escreveu como dedicatória: Que este livro redesperte o interesse pelo passado da nossa cidade. Boas leituras.

O presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião, Nuno Costa, autor do prefácio, escreveu: É para nós uma honra poder contribuir para a produção de uma obra que oferece ao leitor muito mais do que uma cronologia ou uma sucessão de acontecimentos, revela a essência e a génese deste território e das suas gentes.

De facto, basta olharmos para o índice desta obra e sentimo-nos de imediato curiosos para ler e saber o que este investigador tanto nos ensina nas páginas deste livro sobre somente uma parte da cidade de Setúbal.

'Breve História da Freguesia de São Sebastião'
Museu do Trabalho Michel Giacometti
Centro de Documentação
Cota MTMG FL 435
Doação do autor, Diogo Ferreira

De nacionalidade portuguesa, Miguel Matos nasceu em Moçambique e cresceu no Brasil.

Mudou-se para Portugal em 1992, onde desenvolveu uma técnica escultórica com arame bastante pessoal. Não sendo este o único meio de expressão artística que utiliza, será, com certeza, o que mais o identifica. A sua obra inclui, igualmente, colagens, pinturas, desenhos e esculturas em pedra.

O seu percurso pessoal e artístico tem-se dividido entre o Brasil (para onde voltou em 2004) e Portugal (de novo a partir de 2021) com algumas exposições noutros países.

Miguel Matos (n. 1968)
Ferro e arame
Sem data (2000)
300x160x173 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3765/E.256

Denis Murrell, a residir em Macau desde 1989, retomou, após uma longa interrupção, a atividade de pintor, descobrindo na técnica do acrílico sobre papel de seda o seu estilo pessoal.

Tornou-se membro do Círculo dos Amigos da Cultura de Macau em 1997 e, através da sua ligação à associação, realizou diversas exposições, tanto em Macau como no estrangeiro.

A sua exposição em Setúbal (“Uma paisagem da Pintura 1990-1998”) desdobrou-se entre três espaços, a Casa do Corpo Santo, a Casa Bocage e o Museu do Trabalho.

Denis Murrell (n. 1947, Austrália)
Técnica mista (tinta acrílica e colagem de papel de seda) sobre cartão
1992
3,5x43 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3399/PP.380

Peça de uso comum da dinastia Qing (última dinastia imperial chinesa), em argila de Yixing (atualmente cidade), na província chinesa de Jiangsu.

A peça apresenta decoração pintada em esmaltes polícromos, com motivos paisagísticos diferentes de cada um dos lados.

A tampa plana, ao nível do bordo, tem a pega modelada em forma zoomórfica (sapo (?)). O bico e asa, modelados em relevo, terão sido inspirados nos relevos das canas.

Arte Chinesa
Cerâmica de Yixing policromada
Séc. XIX
15x23,8x11,7 cm
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4941/CR.88

Augusto Júlio Martins (29.04.1900 – 27.02. 1985), natural de Setúbal, começou como soldador numa fábrica de conservas de sardinha, tendo-se tornado, mais tarde, barbeiro.

Autodidata, dedicou-se à pintura de recantos de Setúbal e do Sado. Privilegiou a técnica da aguarela, embora também pintasse a óleo.

Esta aguarela representa uma casa do Bairro da Monarquina, antigo bairro de barracas entretanto já demolido.

Crê-se que tenha sido uma doação do próprio artista, após a realização da exposição, em 1977, no museu.

Augusto Júlio
Desenho aguarelado
1957
10,8x15,5 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1871/AG35

Esta pintura integra a série das ‘Alegrias da Virgem/Infância de Cristo’ do Retábulo da Capela-mor da Igreja do Convento de Jesus de Setúbal, constituído ao todo por 14 painéis pintados.

Jorge Afonso, mestre pintor responsável pela obra, foi, entre outros cargos, nomeado pintor régio em 1508. A sua oficina em Lisboa revestiu-se da maior importância e a sua ação, enquanto mestre, examinador e avaliador das obras de pintura reais, foi preponderante na pintura portuguesa da primeira metade do século XVI. O Retábulo da Igreja do Convento de Jesus de Setúbal inclui-se na melhor pintura portuguesa da época.

Este painel ilustra a ‘redenção do primogénito’, ritual hebraico realizado nos templos 40 dias após o nascimento dos meninos e com o sacrifício de um par de pombas ou de um cordeiro.

O fundo reproduz o interior característico das igrejas manuelinas e a decoração da ‘Arca da Aliança’ (ladeada por dois anjos) apresenta ornamentos góticos, características contemporâneas da época do pintor.

Jorge Afonso. Escola Portuguesa
Óleo sobre madeira
Cerca 1517/19 – 1530
194,5x109 cm
Retábulo da Igreja do Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5/PR5

A referida tela (representando São Jerónimo) estava pregada sobre uma placa (constituída por dois elementos em madeira) da qual foi separada, durante o processo de tratamento e restauro, descobrindo-se, então, esta gravura colada na madeira. A gravura foi, entretanto, descolada dessa placa.

A Santíssima Trindade é o mistério principal da doutrina cristã. O Cristianismo acredita num Deus único, mas que se apresenta em três formas (o Pai, o Filho e o Espírito Santo). Na Arte Sacra, tanto o Pai como o Filho são representados frequentemente com forma humana. Quanto ao Espírito Santo é habitual ser representado por uma pomba irradiando luz.

Autor desconhecido
Séc. XVIII
Gravura sobre papel
29,1x21,1 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Inscrição: Benedicta Sit SS.Trinitas in Secula, Seculorum 'Bendita seja a Santíssima Trindade pelos Séculos dos Séculos'
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 2980/Grav.151

No seu percurso artístico, Eduardo Carqueijeiro (natural de Setúbal) tem-se servido de vários médiuns de expressão artística além da pintura a acrílico, tais como a colagem, a fotografia, o vídeo e a instalação. Paralelamente, dá aulas de pintura e desenho em cursos livres e desenvolve trabalhos de ilustração.

Formado em arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, estudou pintura e gravura no AR.CO, especializou-se nas escolas de arte Slade School of Art e Central St. Martins College of Art & Design (Londres) e tirou o Master of Science pela Universidade de Gales, Aberystwyth.

Eduardo Carqueijeiro
Acrílico sobre tela
2001
81x100 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal / Convento de Jesus, MSCJ 3385/PP.366

Frontal do altar de um dos oratórios do Coro Alto do Convento de Jesus de Setúbal (Museu de Setúbal), composto por azulejos do séc. XVII.

O Museu de Setúbal/Convento de Jesus possui, no acervo, azulejos de diferentes frontais de altar, provenientes do próprio edifício conventual, mas apenas este exemplar permanece no seu local original. Os restantes foram desmontados em época(s) mais recuada(s).

Este tipo de frontal de altar em azulejos reproduzia os diversos elementos dos frontais de altar mais comuns e que usavam peças têxteis.

Neste caso, podemos apreciar a imitação da toalha de linho rematada por renda de bilros, a sanefa (tira que atravessa todo o topo da frente) e os sebastos (tiras verticais laterais) com os respetivos bordados e franjas e, ao centro, a reprodução de um tecido adamascado, onde, entre os elementos decorativos, é percetível o desenho da trama.

Escola Portuguesa
Peça in situ
Cerâmica pintada e vidrada/Azulejos (técnica da majólica)
Séc. XVII
Coro Alto, Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus

Peça de excelente feitura maneirista que foi oferecida pela rainha D. Catarina de Áustria (mulher de D. João III) para uma capela do antecoro do Convento de Jesus, conforme indicação na crónica de soror Leonor de São João, ‘Tratado da Antiga e curiosa fundação do Convento de Jesu de Setuval’, redigida em 1630.

Em exposição no museu, encontra-se pendurado onde se crê se situaria essa mesma capela.

Escola Portuguesa
Madeira estofada e pintada
Séc. XVI
208x128,5x36,5 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 269/E.49

São Jerónimo é um dos quatro grandes Doutores da Igreja Latina.

Nascido no ano 347 d.C., é conhecido sobretudo como tradutor da Bíblia do grego antigo e do hebraico para o latim.

Passou parte da sua vida no deserto, pelo que é frequentemente apresentado seminu, perante um crucifixo e penitenciando-se com uma pedra, com que bate no peito. O chapéu cardinalício, que surge nesta pintura pendurado ao fundo, reporta-se à sua condição de Cardeal da Igreja.

Escola Flamenga
Óleo sobre tela
Séc. XVII
29x21 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 86/PR.86

Podemos apreciar o Aqueduto dos Arcos, a Quinta de Montalvão, o Convento de Jesus. Mais ao longe, identificam-se as igrejas de S. Julião e de Santa Maria. O facto, de já estar construído o Asilo Acácio Barradas permite-nos datar a fotografia a partir do ano de 1889.

Além dos fotógrafos residentes em Setúbal, havia os que viajavam pelo país e passavam pela vila, ou que, na época balnear, se deslocavam temporariamente a Setúbal. O autor desta fotografia panorâmica tinha atelier na Praça dos Restauradores, Lisboa.

A técnica de albumina generalizou-se, na segunda metade do séc. XIX, por apresentar melhores resultados do que a técnica anterior no contraste e nitidez de pormenores, não obstante produzir imagens muito suscetíveis à deterioração e esbatimento. O papel albuminado passou mesmo a ser produzido industrialmente, facilitando o processo fotográfico e a duplicação de imagens. Embora produzido até 1930, desde finais do séc. XIX que foi sendo substituído por outros tipos de papel fotográfico.

S. Lima
Prova na técnica de albumina
Sem data (final do séc. XIX (?))
20,3x69,5 cm (a prova/positivo)
30x75 cm (com o suporte em cartão original)
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1674/F.90

Teresa Matos Pereira (Abela/Santiago do Cacém, 1974), doutorada em Belas-Artes (pintura) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, além de artista plástica, é docente na escola Superior de Educação do Politécnico de Lisboa, autora publicada e investigadora no Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes da FBAUL e no Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais da ESEL. Expôs em Setúbal em 2003.

Teresa Pereira
Técnica mista
1999
124x27x69 cm
Doação da artista plástica em 2003
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 3606/E.251

O Estádio do Vitória Futebol Clube, habitualmente referido como o Estádio do Bonfim, foi inaugurado em 16 de setembro de 1962, na cidade de Setúbal, configurando-se o acontecimento como um momento histórico.

Esta publicação referida como o Número Comemorativo da Inauguração do Estádio do Vitória surgiu, na época, como um documento de referência e um símbolo marcante do evento.

Número Comemorativo da Inauguração do Estádio do Vitória
Centro de Documentação
Doação de André Marrucate
Cota MTMG G 1422

Doutorado (2007) e pós-doutorado (2018) em Teoria da Imagem, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Victor dos Reis, docente nessa mesma faculdade desde 1991 (atualmente professor auxiliar), desenvolve trabalho não apenas como docente e como artista plástico (pintura), mas também como autor publicado e conferencista em torno da Teoria da Arte e como curador de exposições de arte.

Expôs já por duas vezes em Setúbal, em 1992 e 1996.

Victor dos Reis (Luanda, 1965)
Óleo sobre tela
1990
110x110 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 2868/PP.251

Samuel Malaia nasceu em Setúbal, mas tem vivências em terras de Angola.

Diz ser um artista autodidata, constrói traço a traço os seus desenhos, feitos com a caneta esferográfica sobre papel.

É impressionante a singularidade dos seus desenhos, cada um com a representação particular de uma imagem, que se transforma de imediato, aos olhos de quem os vê, numa mensagem repleta de informação.

O desenho aqui mostrado, parte de uma gentil doação do artista ao Museu do Trabalho Michel Giacometti, representa e relembra a importância da indústria de conserva de peixe na vida e na alimentação não somente dos portugueses, mas também além fronteiras, concretamente durante os períodos das duas Guerras Mundiais.

Desenho
Samuel Malaia
Museu do Trabalho Michel Giacometti
Centro de Documentação
Cota MTMG DES 2

Trata-se de uma representação de fundo, pintada sobre tela, que complementava uma imagem de vulto (escultura) de Nossa Senhora da Assunção ou de Nossa Senhora da Conceição.

Encontra-se num dos oratórios laterais à porta de entrada no Coro Alto, pagos, em 1628, pela madre sor. Ana de Jesus com uma 'esmola' que o pai lhe mandou da Índia (cf. soror Leonor de São João em 'Tratado da Antiga e curiosa fundação do Convento de Jesu de Setuval', 1630).

Esta tela poderá ser posterior a 1628, confirmando-se a atribuição a Bento Coelho da Silveira (1617?-1708?), pintor que privilegiou, exatamente, o uso da tela quando esta ainda era pouco comum.

Apresenta, lateralmente, os sete arcanjos, embora há muito que a Igreja Católica só cultue três (Miguel, Rafael e Gabriel).

Lado esquerdo: Miguel, com a lança (com que lutou contra o demónio) transformada em cruz, o escudo e a balança (onde pesa as almas); Iediel, com o sabre (o castigo) e as coroas (a recompensa); Sealtiel, com o turíbulo (intercessor).

Do lado direito: Rafael dando a mão ao pequeno Tobias que segura o peixe (que pescou a pedido do arcanjo); Gabriel (o anunciador), com um ramo de lírios e um filactério com uma inscrição em latim (tradução: 'Ave Maria Cheia de Graça'), símbolos marianos; Uriel, com chamas a saírem dos dedos (em vez da espada de fogo); Baracael, sem qualquer atributo (normalmente são rosas ou um cesto de pão).

No topo da tela o Espírito Santo (representado por uma pomba) e Deus (em representação antropomorfa) acolhem a Virgem Maria, que estaria representada pela escultura em madeira policromada.

Trabalho Português

Óleo sobre tela
Séc. XVII
219x150 cm
Peça In Situ. Coro alto, Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal / Convento de Jesus, MS/CJ 45/PR.45

Nesta panorâmica de Setúbal podemos identificar (da esquerda para a direita) o Convento de Santa Teresa, a Igreja do Outeiro da Saúde, o Pelourinho, a Igreja da Anunciada (atual Cáritas), a Igreja do Convento de Jesus (?), o Convento do Carmo, a Igreja de São Julião, o edifício da Alfândega (atual Biblioteca Municipal), a Igreja de Santa Maria, o Palácio Fryxell, a antiga Igreja de São Sebastião (posteriormente demolida), a Torre do Convento dos Grilos, o Convento de São Domingos, além da frontaria de vários edifícios do lado norte da Avenida Luísa Todi, cujo delineamento ainda é identificável.

Na linha de água da então praia (atual Avenida Luísa Todi) são identificáveis os baluartes de São Braz (derrubado posteriormente), do Livramento e da Nossa Sr.ª da Conceição (este, representado com a empena a oeste, em vez do ângulo virado a sul, inclui o edifício interior do quartel e o antigo cais exterior).

Ao longe vislumbra-se o Castelo de Palmela.

A importância do porto de Setúbal é ilustrada pela quantidade e diversidade de embarcações no estuário do rio Sado.

Teotónio X. O. Banha (Setúbal, 1785-1853) participou nas Campanhas Napoleónicas enquanto militar da Legião Portuguesa, organizada, após a 1.ª Invasão Francesa, com o fim de afastar as tropas portuguesas do território nacional.

De regresso a Portugal e a Setúbal, ocupou vários cargos, como o de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, o de Delegado de Saúde e o de Guarda-Mor da Saúde do Porto de Setúbal.

Teotónio Xavier de Oliveira Banha (desenho)/Autoria desconhecida (gravura)
Gravura sobre papel
1816
25,5x90 cm
Coleção Manuel Malheiros
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 196/D.31

Os janelões da fachada sul da igreja ostentavam vitrais, dos quais resta apenas este fragmento com a representação de uma cartela, onde se lê a data de 1539, sobre uma esfera armilar.

Este é referido por Manoel Maria Portela (Setúbal, 1833 – 1906) na brochura “Notícia dos Monumentos Nacionaes e Edificios e Logares Notaveis do Concelho de Setúbal”, editada em 1882.

Os vitrais originais da Igreja de Jesus perderam-se com o tempo, caindo possivelmente durante tremores de terra, como, por exemplo, o grande terramoto de 1755. De forma extraordinária este fragmento foi salvo e guardado, talvez por estar datado.

Trabalho Português
Vidro pintado
1539
23x13,5 cm
Proveniência: Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal / Convento de Jesus, MS/CJ 511

Este anjo tem o seu par e estão ambos expostos na Casa do Corpo Santo.

Vários retábulos em talha barroca (dourada ou não), e, posteriormente, rococó, apresentam nos remates anjos esculpidos, de corpo inteiro, em posturas dinâmicas e movimentadas, com panejamentos mais ou menos esvoaçantes, assentes sobre elementos arquitetónicos entalhados, como fragmentos de arcos, cornijas, aletas, frontões ou frontões interrompidos.

A complexidade de algumas dessas composições tridimensionais, que coroam os retábulos em talha, contribui para o efeito dramático e de aparato característico da mentalidade e arte barroca.

Trabalho Português
Madeira entalhada pintada
Séc. XVIII
Proveniência desconhecida
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2952/E.203

Raul Brandão nasceu na Foz do Douro, Porto, a 12 de março de 1867, e morreu em Lisboa, a 5 de dezembro de 1930.

Militar de 1888 a 1911, quando se reformou do posto de capitão, foi ao jornalismo e à literatura que dedicou a vida, escrevendo vários livros, entre os quais Os Pescadores, publicado em 1923, foi marco muito importante na obra de Raul Brandão.

Sendo ele próprio filho e neto de pescadores, consegue dar-nos uma visão da vida real das gentes que vivem da faina marítima, de norte a sul do país, passando por comunidades piscatórias como Caminha, Póvoa de Varzim, Leixões, Murtosa, Mira, Nazaré, Peniche, Lisboa, Setúbal, Sesimbra e Olhão, a que acrescentou ainda o conhecimento que obteve através de uma viagem que fez aos Açores.

'Os Pescadores'
Raul Brandão
1923
Museu do Trabalho Michel Giacometti
Centro de Documentação
Cota MTMG G 114

Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1976 e 1979, licenciou-se em Artes Plásticas (Pintura), pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.

Atualmente, leciona pintura nessa mesma escola, atual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

É o espaço o elemento primordialmente instituidor da ordem pictórica de Ilídio Salteiro. (…) O espaço omnipresente da casa, exterior e interior, simultaneamente contentor e contido num espaço envolvente pelo qual se prolonga. Por vezes, desse espaço interior (metáfora do espaço interior do próprio pintor), entrevê-se (…) um espaço exterior, em que surgem, aqui e além, referências a um cais e ao mar (a partida ou a aventura por acontecer)

Fernando António Batista Pereira, 1992.

Ilídio Salteiro (Alpedriz/Alcobaça, 1953)
Óleo sobre tela
1989/1990
97,2x64,5 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 2851/PP.239

Perspetiva da fachada da Igreja de Santa Maria da Graça, em Setúbal, integrada no respetivo largo.

O desenho de observação acompanha a evolução artística desde longa data. Se noutros séculos poderia funcionar especialmente como rascunho ou estudo para uma obra maior ou mais definida, desde o século XIX que passou a ter mais protagonismo, podendo tratar-se do 'produto' final e sendo valorizado per se.

Tanto o gosto romântico pela ilustração de costumes e paisagens, como, posteriormente, a motivação dos naturalistas e, seguidamente, dos impressionistas (estes seduzidos pelas alterações de luminosidade, cor e sombra conforme a hora do dia), foram valorizando o desenho de observação.

Esta forma de expressão mantém-se atual, seja enquanto peça isolada ou obra inserida num 'Caderno de Viagem' (verdadeiro diários visual do viajante) ou num caderno de Urban Sketcher.

Alberto P(…?)
Aguarela sobre papel
1947
40x30 cm
Câmara Municipal de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3502/AG.67

Em indeterminado momento da sua existência este painel foi dividido em dois. Foram, pois, inventariados no museu como 'S. Joaquim e a Virgem' e 'Santa Ana'.

Em 2002, numa intervenção de conservação e restauro, restabeleceu-se a unidade do painel, uma Genealogia da Virgem, tema pintado essencialmente pré-Concílio de Trento.

Dois ramos de roseira, sem espinhos, que partem de São Joaquim e Santa Ana confluem na figura da Virgem Maria e desta nasce, por sua vez, o Menino Jesus, coroando a representação genealógica.

O Menino Jesus apresenta-se como 'Salvatore Mundi', erguendo a mão direita em gesto de pregação e segurando, com a esquerda, no globo, símbolo da sua soberania e poder redentor.

O fundo da cena representa a entrada de uma vila ou cidade, podendo-se identificar diferentes estados sociais nas personagens representadas: alguns populares que se encaminham para a povoação (após a jorna de trabalho?), pedintes junto da entrada, um burguês que lhes dá esmola, outro homem abastado, montado a cavalo, atravessando a porta. Esta representação, junto à entrada da cidade amuralhada, aludirá ao encontro entre S. Joaquim e Santa Ana na 'Porta Dourada', quando S. Joaquim regressa das montanhas e após terem sido informados, por um anjo, do nascimento de uma criança (Maria).

Atribuído a Gregório Lopes (c. 1490 – 1550)
Pintura a óleo sobre madeira de castanho
c. 1540
124x123,4 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 18/PR.18-19/PR.19

Esta veste de imagem de Menino Jesus deve integrar um conjunto mais vasto, onde se inclui um segundo vestido, camisa, saiote e culotes.

A imagem do Menino Jesus personifica a infância, a inocência e a afetividade.

A sua representação na cena do Presépio, como o entendemos atualmente, teve origem com São Francisco de Assis (1182- 1226). Mas a figuração do Menino não se resume ao Presépio, nem à representação ao colo da Virgem Maria (esta com origem mais antiga, remontando ao Império Bizantino).

Inserido em cenas (p. ex. a Fuga para o Egito, etc.) ou sozinho, de pé, sentado ou deitado, nu ou vestido, com ou sem adereços, a figura do Menino Jesus pode ter variadíssimos significados, muitas vezes dependentes da sua postura e/ou atributos que o podem acompanhar, como é o exemplo do globo, da cruz ou do cordeiro, etc.

Foi nos conventos femininos que se desenvolveu, na Europa Ocidental, o culto do Menino Jesus sozinho. Posteriormente, as irmãs desenvolveram o hábito de costurar vestes para as imagens, sinal de uma profunda busca pela intimidade com Jesus.

Seda com debrum
Séc. XVIII (?)
23,8x35x27,5 cm
Proveniência Desconhecida
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2819/TX.11

Estudo (em gesso) do busto em bronze encomendado pelo Rotary Clube de Setúbal para o monumento no Parque do Bonfim, inaugurado no dia 29 de dezembro de 1968.

António Maria Eusébio (Setúbal, 15.12.1819 – 22.11.1911) foi um poeta popular de Setúbal, conhecido por O Calafate, por ter sido essa a sua profissão.

Cantava os seus poemas acompanhado por viola e guitarra. A primeira publicação, conhecida, ocorreu no “Jornal de Setúbal” em fevereiro de 1868 e, posteriormente, numa edição de 1901, intitulada “Versos do Cantador de Setúbal”, dinamizada por Henrique das Neves, com prefácio de Guerra Junqueiro.

O poeta, por sua vez, publicou diversos folhetos cujos versos abrangem variadíssimas temáticas, frequentemente aludindo a acontecimentos da época, mas também alguns de inspiração autobiográfica.

Castro Lobo (Évora? 1929?-?)
Gesso
1967
49,5x25x29 cm
Doação do Rotary Clube de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 298/E.78

Konstantin Bessmertny, residente em Macau desde 1992, tornou-se uma referência da arte contemporânea asiática.

Em 1998, expôs em Setúbal, na Casa Bocage, Casa do Corpo Santo e no Museu do Trabalho Michel Giacometti.

Na obra que doou ao Museu de Setúbal, cuja tradução do título significa 'Obrigado', observamos variadíssimas personagens a conviver ao redor de uma mesa, numa cena rica de detalhes e com forte impacte cromático e textural.

Konstantin Bessmertnyi (1964, Blagoveshchensk/Rússia)
Técnica mista sobre tela (inclui colagem)
1997
177x288,5 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3256/PP.316

Durante séculos, as gravuras facilitavam a circulação de imagens. Era frequente a produção de estampas baseadas noutras anteriores, reproduzindo com maior ou menor qualidade os detalhes e os sombreados.

Esta pequena gravura foi editada em França. É muito semelhante (mas não totalmente igual, devido a diferenças em vários pormenores) à de Pierre Eugène Aubert (Aubert Père) (Paris, 1789-1847).

Essa foi, por sua vez, c.1840, baseada numa gravura inglesa com desenho do pintor Clarkson Frederick Stanfield (1793-1867), a partir de um esboço de W. Page, e gravação de Edward Finden (1791-1857) na década de 30 (século XIX).

Trabalho Francês
Gravura colorida à mão
Séc. XIX/meados (?)
12,7x17,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 215/ GRAV.18

Esta pintura integra um conjunto de cinco telas de temática mariana, provenientes de uma antiga capela de Setúbal, entretanto demolida. Reflete a atualização do gosto artístico, promovida durante o reinado de D. João V, no sentido do barroco tardio de origem romana.

Está atribuída à Oficina de Lisboa de Lourenço da Cunha (1709-c. 1760), importante pintor de telas, tetos, arquiteturas e cenografias da segunda metade de setecentos.

Estilisticamente aproxima-se das telas pintadas (c. 1740‑43) para a Igreja do Santuário do Cabo Espichel atribuídas ao mesmo pintor.

Lourenço da Cunha (?)
Óleo sobre tela
Séc. XVIII (meados)
146x97,5 cm
Ermida de N.ª S.ª da Conceição do Sapal (existiu na antiga Praça do Sapal, atual Praça de Bocage, Setúbal)
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2435/PR.112

Representação de Santa Clara segurando num ostensório com o Santíssimo Sacramento, um dos seus atributos. Segundo o relato dos seus milagres terá salvado Assis (localizada no centro de Itália) de um cerco, apelando ao Santíssimo Sacramento.

Santa Clara de Assis (Assis, Itália, 1194- 1253) foi a fundadora da Ordem de Santa Clara.

Inspirada pela doutrina de São Francisco de Assis, despojou-se dos seus bens e privilégios e dedicou-se à vida religiosa, seguindo o princípio da pobreza.

Instalou-se, sob a supervisão do próprio Francisco, no Convento de São Damião, onde fundou, em 1212, a Segunda Ordem de São Francisco, ou seja, o ramo feminino da Ordem. Inicialmente apelidada de 'Ordem das Damas Pobres', passaria a ser identificada pelo nome da sua fundadora.

O Convento de Jesus de Setúbal, cuja edificação se iniciou em 1490, foi uma casa monástica de religiosas clarissas. As primeiras irmãs seguiam já a reforma de Santa Coleta de Corbie, que recuperara, a partir de 1406, os princípios originais da Ordem.

Escola Portuguesa
Madeira estofada, policromada e dourada
Séc. XVII (cerca 1628)
80x31x21,5 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 234/E.14

Representação do deus grego Apolo junto ao seu templo no Monte Parnasso, em Delfos, Grécia (pois era o patrono do famoso oráculo da Antiguidade – o Oráculo de Delfos), rodeado por algumas das nove musas inspiradoras das artes e da poesia.

Representado com uma aljava de flechas e uma lira (oferecidas pelo seu pai, Zeus), segura numa coroa de louros (alusão à ninfa Dafne, que se transformou num loureiro para fugir ao seu amor).

Aos seus pés, uma cornucópia representa a abundância, a fertilidade, a riqueza, de que também era deus. O seu corpo é iluminado pelo globo solar, pois é o deus identificado como o sol e a luz da verdade.

De entre as musas, reconhecemos Calíope, Tália, Érato, Clio e, eventualmente, Melpómene. Identificamos, igualmente, um sátiro. Talvez Marsias, o sátiro tocador de flauta que terá desafiado Apolo para um concurso musical.

No canto inferior esquerdo está representado um aguadeiro. Poderá aqui tratar-se de uma alusão à purificação (referência à água?). O templo de Apolo em Delfos era um local de purificação. Também poderá ser uma alusão à nascente, fonte da inspiração artística. Finalmente, sobre todos, paira no ar o deus do amor, Eros, que marcou Apolo, tornando-o loucamente apaixonado pela ninfa Dafne.

Autoria Desconhecida (Escola Francesa?)
Óleo sobre tela
Séc. XVIII
66,1x60,2 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 146/PP.47

Pequena prateleira (escaparate), de pendurar na parede, para suporte de pequenos objetos decorativos. A peça é toda articulada desmontando-se e dobrando-se para transporte. Tratamento a lacado com decoração em chinoiserie (pintura de inspiração chinesa). No espaldar está representada uma cena de interior da nobreza chinesa. A cartela central, da parte inferior, inclui elementos decorativos de estilo europeu.

A Chinoiserie é uma linguagem decorativa inspirada nos móveis e nos acessórios lacados orientais, provenientes do Japão e da China, disseminados na Europa a partir do século XVI, inicialmente pelos portugueses através da Rota do Cabo. Além da importação dos objetos, produzidos nesses países, muitos artífices europeus assimilaram os ornatos asiáticos (e procuraram dominar algumas técnicas) cruzando-os com elementos europeus, criando uma linguagem decorativa nova, muito mais do que uma mera cópia da arte oriental. Embora tenha surgido no final do século XVII, a chinoiserie adquiriu especial vigor durante o século XVIII, no tardo-barroco e rococó, e essa tendência alcançou o seu expoente no “Orientalismo” em pleno século XIX.

Produção Europeia
Madeira pintada
Séc. XIX - 2ª Metade
22x33 cm
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4968

Na coleção documental intitulada Os Anos de Salazar podemos ler e saber sobre o que se contava e o que se ocultava durante o Estado Novo.

Em particular, o nº 19, Os Anos de Salazar 1962: A crise académica, regista como esta ficou consignada na História como o primeiro caso grave de agitação estudantil sob o Estado Novo, revela a repressão brutal exercida pela polícia de choque, que espancou manifestantes e prendeu muitos. Esteve na origem das comemorações do Dia do Estudante a 24 de março.

Este ano, em 2022, a Crise Académica de 1962 celebra 60 anos.

Museu do Trabalho Michel Giacometti
Centro de Documentação
Cota MTMG ED 452

Bonifácio Lázaro Lozano nasceu na Nazaré, no seio de uma família espanhola que se mudaria para Setúbal, no ano seguinte ao seu nascimento, para aqui abrir uma fábrica de conservas de peixe.

Esta aguarela foi pintada na sua juventude, quando ainda vivia em Setúbal, cidade onde cresceu e iniciou os estudos artísticos.

Posteriormente formou-se na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e na Academia de Belas-Artes de San Fernando, em Madrid.

Viveu entre Portugal e Espanha, pintando variadíssimas temáticas, muitas vezes providas de características expressionistas ou místicas.

Bonifácio Lázaro Lozano (Nazaré, 1906 – Madrid, Espanha, 1999)
Aguarela sobre papel
1924
21,10x14,20 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2777/AG.44

Esta pintura integra-se no ciclo da pintura gótica levantina, tanto pelo hieratismo e convencionalismo simbólico da figura, como pelo linearismo dos contornos.

Mostra, ainda, forte influência da iluminura medieval no tratamento das texturas dos tecidos e dos materiais.

Nesta época, a pintura catalã já utiliza fundos figurativos, com intenção de transmitir profundidade, contudo essas representações são ainda insipientes, evidenciando o desconhecimento das regras da perspetiva.

Santo Huberto era um nobre que viveu entre 656 e 728 na zona da Aquitânia, França.

Numa Sexta-feira Santa, em vez de assistir às cerimónias religiosas terá ido à caça. Segundo a lenda, ao perseguir um veado este deteve-se, fazendo parar os cães e os cavalos. Então, entre as suas hastes, terá aparecido uma cruz luminosa. Simultaneamente, Huberto ouviu uma voz dizendo: 'Se não voltares para Deus cairás no Inferno'. Após esta visão, Huberto renunciou aos seus direitos de herdeiro do trono, repartiu os seus bens pelos pobres e ingressou na Ordem Beneditina, tendo sido, posteriormente, nomeado bispo.

Escola Catalã
Óleo sobre madeira
Séc. XV
80x55,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 82/PR.82

O culto privado de Jesus, do Espírito Santo, da Virgem e dos Santos beneficiou da dinâmica comercial entre os diferentes países europeus, que disseminou o gosto pela aquisição de obras de arte religiosa, de pequeno formato, para oratórios e pequenas capelas privadas ou conventuais.

Essa prática resultava da crença de que as imagens religiosas provinham de inspiração divina.

Produção europeia
Baixo-relevo em alabastro policromado
Séc. XIV
29,7x26,8 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 265/E.45

Carlos Barahona Possolo licenciou-se na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, onde chegou a lecionar.

A sua obra, plasticamente realista, aborda o erotismo, a mitologia e cenários históricos numa perfeita simbiose. Expôs individualmente pela primeira vez na Casa de Bocage, em Setúbal, com a exposição “Regresso à Iconografia” (1992).

Internacionalmente, está representado na Casa Branca (Washington) e no Istituto per le Opere di Religione (a entidade bancária do Vaticano).

É autor de variadas emissões de selos comemorativos dos CTT e do retrato oficial de Cavaco Silva enquanto presidente da República Portuguesa.

Carlos Barahona Possolo (n. 1967, Lisboa)
Óleo sobre tela
1995
54,7x70 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3090/PP.272

Este livro resulta de um estudo etnográfico realizado com extrema sensibilidade e inteligência por Sally Cole, tendo como ponto de referência a vida de cinco mulheres portuguesas, abordando não somente a sua vida de trabalho numa comunidade piscatória, mas também analisando-as numa perspetiva da antropologia social.

Como refere Paula Godinho, investigadora (IHC NOVA FCSH), sobre esta obra: ''… a sua estratégia notoriamente diferente – a focalização das mulheres enquanto trabalhadoras – reflete a forma como as próprias mulheres se definem a si mesmas e dá-lhes a voz forte e ressonante que tanto a nova etnografia como a escola feminista defendem''.

Mulheres da praia: o trabalho e a vida numa comunidade costeira portuguesa
Sally Cole
Museu do Trabalho/Centro de Documentação
Cota MTMG ET 35

Paulo Óscar frequentou a Escola António Arroio e o Curso de Artes Plásticas da ESAD (Escola Superior de Artes e Design).

Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1982-84 e 1992. Foi formador no Cencal, na área da cerâmica criativa, e professor na Escola Artística António Arroio.

Privilegia nos seus trabalhos as metodologias antigas e as pastas cerâmicas rústicas.

Paulo Óscar (n.1959)
Cerâmica
1998/1999
142x52 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3360/CR.50

O livro intitulado Manual do torneiro e fresador mecânicos, constituído por 307 páginas com textos, tabelas e desenhos, faz parte de uma coleção bastante importante e interessante pelos seus valiosos conteúdos, denominada Biblioteca de Instrução Profissional, fundada por Tomás Bordalo Pinheiro, no início do século XX.

Trata-se de uma coleção que no seu conjunto, constitui uma enciclopédia bastante vasta sobre todos os ofícios e ramos de indústria, alguns dos quais atualmente encontram-se quase inexistentes no nosso país.

Alguns exemplares desta coleção foram doados ao Museu do Trabalho Michel Giacometti por António Quaresma Rosa, no ano de 2021.

Coleção do MTMG
Centro de Documentação
Cota G 1361

Pintura que integra a série da «Paixão de Cristo», do Retábulo da Capela-mor da Igreja do Convento de Jesus, constituído por 14 painéis pintados.

A composição poderá ter sido inspirada por uma gravura de Michael Wolgemut, inserida no incunábulo Der Schatzbehalter, de 1491.

Jorge Afonso foi nomeado pintor régio em 1508. A sua oficina, em Lisboa, revestiu-se da maior importância e a sua ação, enquanto mestre, examinador e avaliador das obras de pintura reais, foi preponderante na pintura portuguesa da primeira metade do século XVI.

O Retábulo da Igreja do Convento de Jesus de Setúbal inclui-se na melhor pintura portuguesa da época.

Retábulo da Igreja do Convento de Jesus de Setúbal
Oficina de Jorge Afonso. Escola Portuguesa
Óleo sobre madeira de carvalho
Cerca 1517/19-1530
195x109 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 9/PR9

Véra Korène (Rebecca Véra Koretzky) nasceu em 1901 no antigo Império Russo, na região da atual Ucrânia, mas foi em França que se formou como atriz de teatro. Enquanto cantora integrou espetáculos de música lírica. Participou, igualmente, em obras cinematográficas. A carreira foi profícua, tendo ocupado cargos de direção, como foi o caso do Théâtre de la Renaissance, que dirigiu entre 1956 e 1979.

Henrique Medina formou-se na Escola Superior de Belas-Artes do Porto e na Escola de Belas-Artes de Paris. Granjeou fama internacional, além de Portugal e França, em Inglaterra, Itália, Brasil e Estados Unidos da América, onde retratou vários artistas de Hollywood.

Foi considerado um dos melhores retratistas do mundo, entre as décadas de 30 e 50, recebendo encomendas em Portugal e no estrangeiro de políticos, membros da realeza, escritores e poetas, médicos e cientistas, militares, cardeais e até do Papa João Paulo II. Também se dedicou ao nu e, após se instalar em Góios, à paisagem e às figuras da região de Esposende.

Este retrato, que assina e dedica a Véra Korèna como homenagem de um admirador, apresenta uma segunda dedicatória à ilustre escritora Olga de Moraes Sarmento.

Henrique Medina (1901, Cedofeita/Porto – 1988, Góios/ Esposende)
Grafite sobre papel
1925
27,5x20,2 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 172/D.7

Olga de Moraes Sarmento (1881-1948), natural de Setúbal, viveu em Paris cerca de trinta anos, incluindo durante a I Guerra Mundial, convivendo com o meio intelectual, criando relações de amizade com personalidades de relevo no mundo da arte, da música e da literatura.

Escritora e conferencista, viajou bastante, inclusive à América do Sul, onde visitou o Brasil, o Uruguai e a Argentina. Editou o primeiro livro, “Problema Feminista”, em 1906. Lutou pela emancipação e pelos direitos das mulheres, tendo sucedido a Ana de Castro Osório na direção da revista “Sociedade Futura”. Foi condecorada com a Legião de Honra e com as Ordens de Cristo e de Santiago de Espada.

Em 1939, doou à Câmara Municipal de Setúbal a sua biblioteca, assim como uma coleção de obras de arte, que atualmente integram o acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.

André Sinet (Villennes-sur-Seine, França, 1867-1923)
Pastel sobre papel sobre cartão
Sem data (1.º Quartel do séc. XX)
51x64,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 126/PP.27

A Virgem em Majestade representa a maternidade divina de Maria, mãe de Deus. A Virgem Maria entronizada é, pois, reconhecida como rainha dos céus. Aparentemente esta pequena figura em marfim seguraria algo na mão direita, possivelmente um ceptro, símbolo de autoridade soberana. O Menino Jesus segurando no globo é, por sua vez, o Salvator Mundi, o Salvador do Mundo.

Após a descoberta do caminho marítimo para a Índia e o incremento do comércio entre Portugal e o Oriente, através da Rota do Cabo, a fixação de portugueses no Oriente motivou a produção de artefactos com características artísticas europeias e mistas.

Na Índia produziram-se inúmeros objetos para exportação, mas também para utilização dos portugueses aí residentes, destacando-se a temática cristã.

Esta produção é identificada, desde o séc. XIX, como Arte Indo-Portuguesa e abrange a utilização de diversas matérias-primas, entre as quais o marfim.

Trabalho Indo-Português
Marfim
Séc. XVII (?)
12,2x7x4,8 cm
Coleção Maria Manuela da Costa Pereira Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4955/E.287

No dia 21 de dezembro de 1871, foi inaugurada a estátua de Bocage em Setúbal. Esta obra, projeto do escultor Pedro Carlos dos Reis, foi construída na oficina do canteiro José Germano de Sales, em Lisboa. Dos vários estudos conhecidos para a cabeça da estátua, este é o que mais se assemelha ao perfil da obra esculpida em pedra.

O monumento resultou da iniciativa de António Feliciano de Castilho (Lisboa, 1800-1875, escritor e poeta) e de José Feliciano de Castilho (Lisboa, 1810 - Rio de Janeiro, 1879, jornalista, escritor e advogado), que, residente no Brasil, conseguiu reunir, por meio de subscrição pública, os fundos necessários para a obra.

A formação da Comissão Central, sediada no Rio de Janeiro, foi seguida pela formação de duas filiais em Portugal: a Comissão Filial de Lisboa, que representaria a Comissão Central em Portugal, e a Comissão Filial de Setúbal. Contudo, a obra foi financiada apenas pelo dinheiro angariado no Brasil. Em Portugal apenas se abriu subscrição pública em Setúbal, mas esse dinheiro serviu unicamente para as despesas com a logística da inauguração e respetivos festejos.

Pedro Carlos dos Reis (Lisboa, 1819-1893)
Grafite sobre papel
Sem data (cerca 1871)
10,9x9,6 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3714/D.302

Os missais, frequentemente com capas em materiais nobres, decorados, e com fechos metálicos, eram abertos, sobre os altares das igrejas, em estantes que permitiam a sua inclinação e facilitavam a leitura dos textos. Muitas dessas estantes eram profusamente decoradas, acompanhando os estilos de cada época.

Esta estante, que integra a coleção de Olga Moraes Sarmento, tem a sua estrutura em madeira (mogno?) trabalhada e com aplicação de chapas recortadas e cinzeladas. A cartela central apresenta as cinco chagas de Cristo e na traseira da peça a placa metálica inclui a sigla NMRP (Nosso Mui Reverendo Padre). No interior da base do missal outra inscrição indica o provável nome do local de origem – 'DE S FRANC(SCO) DE MARCHENA' (Localidade da zona de Sevilha/Espanha).

Trabalho Espanhol(?)
Madeira e liga de cobre
Séc. XVII/XVIII
31,3x35,5x26 cm
Coleção Olga de Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 398/T.11

Luís Herberto expôs por duas vezes em Setúbal na década de 90 (século XX), doando esta tela após a exposição 'Da Velhice'.

Natural de Angra do Heroísmo, Açores, é doutorado em Belas Artes/Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e leciona na Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior, Covilhã.

A sua obra debruça-se sobre temáticas impactantes. Neste caso, aprofunda a natureza finita da matéria, especificamente do corpo humano, fazendo-nos refletir acerca da nossa constante transformação e da valorização/desvalorização social do envelhecimento.

Luís Herberto
Óleo sobre tela, sem data (século XX)
130x280 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3222/PP.309

Esta época festiva do ano não é comemorada de igual forma por todos. Existem, como sabemos, diferenças, provenientes de diversas variáveis.

Todavia, a coletânea aqui apresentada reflete, por exemplo, que, com maior ou menor especificidade religiosa, o Natal inspira poemas e narrativas; a preparação e a celebração desta festividade têm particularmente muitas semelhanças, vivenciadas coletivamente, através das tradições e lendas, nas canções populares das 'janeiras' e dos 'Reis', na música e no teatro.

Viver o Natal
Cota: MTMG ET 184

O romance 'Unhas Negras' foi escrito pelo João da Silva Correia e editado pela primeira vez em 1953, embora a ação do mesmo, tenha decorrido em 1914.

«Unhas Negras constitui a crónica vivida dos chapeleiros de S. João da Madeira no princípio do século. É um livro de empolgante interesse.»
Jornal de Notícias
1 de maio 1954

«O romance, o grande romance Unhas Negras é isso: uma sinfonia do trabalho e da dor, na qual perpassa um sopro de epopeia; o ideal da solidariedade humana e da justiça social. É uma obra comovente e apaixonante, que se faz chorar em alguns lances, faz pensar, em quase todos.»
Das Artes e das Letras – O Primeiro de Janeiro
7 de abril 1954

Como refere Renato Figueiredo, autor da introdução deste livro, «(...) João da Silva Correia quis honrar e perpetuar a memória dos que mais sofreram e, implicitamente, dizer que vale sempre a pena lutar, que é preciso lutar, hoje como ontem, pelos ideais de Justiça e Liberdade».

Unhas Negras
De João da Silva Correia
Cotas: MTMG ED 364 e 458

O rótulo

Documento publicitário do vinho do Porto Garrafeira Velha, de 1930, da Quinta do Noval, comercializado por António José da Silva Vinhos, S.A.R.L., integrado no espólio doado pela Mercearia Liberdade ao Museu do Trabalho Michel Giacometti.

Na exposição 'Mercearia Liberdade', de longa duração deste museu, o visitante pode ver exposta numa das vitrines uma garrafa deste vinho do Porto.

A correlação existente entre o documento publicitário e o objeto expositivo é de extremo interesse porque nos fornece a informação sobre os produtos comercializados naquele antigo estabelecimento comercial, que funcionou em Lisboa.

Este documento em particular fornece a informação de que o produto comercializado, ou seja, este vinho, é uma reserva especial de A. Coluna Proença, proprietário da Mercearia Liberdade.

O cartaz

Documento publicitário do vinho do Porto da marca Adriano, Toni-Nutritivo, comercializado pela empresa Ramos Pinto, integrado no espólio doado pela Mercearia Liberdade ao Museu do Trabalho Michel Giacometti.

Na exposição 'Mercearia Liberdade', o visitante pode ver exposta, numa prateleira, uma garrafa deste vinho.

De particular interesse, também, o próprio design do cartaz, com a representação de três mulheres seminuas, que, na sua leveza rodopiante, seguram e elevam a garrafa, dando-lhe destaque.

Cartaz publicitário de vinho do Porto
Cota: MTMG ML PUB 6

Rótulo do vinho do Porto Garrafeira Velha
Cota: MTMG ML PUB 8

Tomás António dos Santos e Silva nasceu em Setúbal, no dia 12 de abril de 1751. Chegou a frequentar o curso de medicina em Coimbra, mas a morte do seu benfeitor e padrinho impediu-o de prosseguir os estudos. Poeta, ingressou na Nova Arcádia, onde se apelidava de Tomino Sadino, e foi amigo de Bocage. Sofreu diversas dificuldades durante a vida, especialmente a cegueira aos 45 anos. Faleceu em Lisboa, no dia 19 de janeiro de 1816.

A obra 'Brazilíada' foi escrita como reação à Primeira Invasão Francesa, em novembro de 1807. Existem relatos de que o autor estaria, até essa altura, a escrever (ou já escrevera) um poema dedicado a Napoleão, que admirava, e que se chamaria 'Napolíada', mas que com a invasão das tropas napoleónicas no território português terá ficado revoltado, rasgando esse manuscrito e substituindo-o, num ímpeto patriótico, pela 'Brazilíada'.

A inscrição nesta gravura está incorreta, pois a transcrição correta, conforme o frontispício da edição do poema, é 'Brasilíada, Ou Portugal Imune, E Salvo'.

Souza/Lith. de M.el Luiz
Gravura sobre papel, sem data (Séc. XIX)
34,9x27,6 cm
Bocagiana Fernando Elói do Amaral
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4743/Grav.181

Carlos Dutra residiu e trabalhou em Setúbal na década de 80. Nesse período as suas esculturas utilizaram diferentes tipos de pedra, em simultâneo, incluindo a brecha da arrábida cujas características e cor sobressaem nessas composições.

Estudou fotografia, audiovisuais e design gráfico no AR.CO, em Lisboa. Entre 1983 e 1984, trabalhou em escultura numa pedreira em Vila Viçosa e em 1990 estagiou no Departamento de Escultura em Pedra do Centro Cultural de Évora, cidade onde atualmente reside. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

Carlos Dutra (Horta/Açores, 1959)
Brecha da Arrábida e pedra calcária
1988
63,2x63,5x57,5 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2612/E.190

Cena apócrifa (ou seja, que não é narrada nos evangelhos aceites pela Igreja) que retrata a escolha de José para casar com Maria por a sua vara ter florido ao apresentar-se no templo.

No início do século XVII, o protobarroco foi substituindo o tardo-maneirismo na pintura portuguesa. Portugal encontrava-se sob domínio espanhol e os valores protobarrocos tiveram, nessa época, forte influência do tenebrismo espanhol, onde sobressai o contraste do claro-escuro e os fortes valores luminosos.

Trabalho Português
Óleo sobre tela
Séc. XVII (Início?)
133x119,7 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 54/PR.54

Este documento, pertencente ao espólio da Mercearia Liberdade, informa-nos como este estabelecimento comercial, situado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, se apresentava ao público na última década da sua existência, nos anos 90.

A Mercearia Liberdade foi doada ao Município de Setúbal em janeiro de 2002, sendo reconstituída no Museu do Trabalho Michel Giacometti e inaugurada no Dia Internacional dos Museus nesse mesmo ano.

Este espólio valioso constitui uma das exposições de longa duração do Museu do Trabalho, representando, desta forma, o setor terciário naquele espaço museológico.

Nos finais do séc. XV e na primeira metade do séc. XVI, conventos e palacetes portugueses incluíam frequentemente ornamentação azulejar proveniente de Valência e/ou de Sevilha. Os azulejos hispano-mouriscos sevilhanos eram produzidos nas técnicas da corda seca e da aresta.

No edifício do Museu de Setúbal, o antigo Convento de Jesus, foram encontrados uma grande variedade de padrões hispano-mouriscos (geométricos, de influência fitomórfica, brocados, motivos zoomórficos e mitológicos).

No caso da técnica da aresta (utilizada no exemplar aqui reproduzido), as áreas pintadas eram separadas por arestas em relevo, formadas por moldes, em negativo, pressionados sobre o barro ainda húmido para evitar que as cores se misturassem durante o processo de cozedura final.

Trabalho Hispano-mourisco (Sevilha)
Cerâmica (técnica de aresta)
Séc. XVI (1.ª metade)
14x13,8 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 531/AZ.20

Proveniente da sondagem arqueológica efetuada junto do portal da Igreja de Jesus, no âmbito dos trabalhos de Arqueologia Preventiva realizados no decurso da requalificação da área envolvente do Convento de Jesus.

Este elemento foi reutilizado como pedra de topo de uma conduta de escoamento de águas do século XVIII.

Não sendo possível identificar a sua proveniência original, pode-se afirmar que se trata de uma cabeceira de sepultura de época árabe.

As características da escrita remetem para a segunda metade do século XII ou posterior.

(Leitura e interpretação pela professora doutora Maria Antónia Martinez Núnez, da Universidade de Málaga)

Mármore
Séc. XII (2.ª metade)
30 cm altura x 30,5 cm de largura x 8 cm de espessura
CJ/E/19

Carlos Bonvalot formou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde se destacou. Expôs com frequência nos salões anuais da Sociedade Nacional de Bela- Artes. Foi contemporâneo do pintor Fernando dos Santos (Setúbal, 1892 – Lisboa, 1965), de quem terá sido amigo e que retratou por mais de uma vez.

Viajou para Paris, em 1919, como pensionista do Legado Valmor e seguiu posteriormente para Roma onde aprendeu técnicas de restauro de pintura. De regresso a Portugal, em 1923, passou a residir em Cascais. O seu trabalho repartiu-se entre a pintura e o restauro de pintura antiga, tendo sido convidado por José de Figueiredo para dirigir a oficina de restauro do Museu Nacional de Arte Antiga. Infelizmente morreu subitamente no próprio dia em que tomaria posse do cargo.

Carlos Bonvalot (Paço de Arcos, 1893 – Cascais, 1934)
Desenho a pastel sobre papel
1914
47,8x30,9 cm
Legado Alda Machado e Fernando dos Santos
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1598/PP.85

Doação do artista após exposição temporária em 1987.

Carlos Lança foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1966-67 (Lisboa e Paris) e da Hofstra University em 1969-70 (Nova Iorque).

Esteve associado a várias instituições artísticas e culturais em Portugal e no estrangeiro, como o Comité Nacional para a AIAP, da Unesco, e a Associação Nacional dos Artistas Plásticos.

Colaborou e foi autor em projetos de integração urbana e de arquitetura e recuperação de interiores e de espaços públicos.

Interessava-se pelo estudo da arte, sendo autor de diversas palestras sobre essa temática.

Recebeu vários prémios em Portugal, Espanha, Itália, Brasil e EUA.

Carlos Lança (Lisboa, 1937 – Porto, 2009)
Óleo sobre tela
1986
80x80 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1593/PP.80

Pintura para oratório que revela afinidades com a produção de Quentin de Metsys e Joos van Cleve, repetindo um modelo muito apreciado no Norte da Europa e replicado por diversos pintores.

Integrada no séc. XVIII num oratório lateral do Coro Alto, datado de 1749, juntamente com outras pinturas de pequeno formato.

A atividade comercial entre os países europeus contribuiu para aumentar o gosto por obras de arte de pequenas dimensões, especialmente adequadas para oratórios ou pequenas capelas privadas e conventuais.

As oficinas flamengas produziam estas pinturas em grande quantidade, especificamente para exportação, o que as tornava mais acessíveis à nobreza e à alta burguesia mercantil.

Escola Flamenga
Seguidor de Quentin de Metsys ou de Joos Van Cleve
Óleo sobre madeira de castanho
Séc. XVI
30,7x27,4 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 39/PR.39

Atualmente exposta na Casa do Corpo Santo, esta imagem representa as esculturas produzidas, no século XVIII, para as mísulas dos retábulos em talha dourada ou altares.

Eram frequentemente completadas por elementos em prata ou liga de cobre, como resplendores sobre a cabeça e acessórios, enfiados nas mãos dos braços estendidos, como palmas, cruzes, lábaros (estandartes), varas ou báculos.

Era o caso desta imagem que teria um resplendor e uma vara.

São Joaquim era o pai da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo.

Escola Portuguesa
Madeira entalhada, estofada, dourada e policromada
Séc. XVIII
66,5x36,5x27 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 259/E.39

Os retratos em miniatura surgiram como resposta à necessidade de registar-se a imagem de alguém, permitindo, simultaneamente, o seu fácil transporte e manuseio.

A sua portabilidade tornou-os objetos íntimos, encomendados como recordação de um familiar ou para troca entre noivos em casamentos arranjados à distância.

Contudo, no séc. XIX, nomeadamente em França, tornou-se frequente a produção de miniaturas inspiradas em retratos e pinturas de épocas anteriores por mero interesse estético ou para colecionismo. Muitas dessas peças reproduziram figuras do século XVIII em molduras de inspiração rocaille ou neoclássica.

Produção europeia (França?)

Pintura sobre placa de marfim e moldura em liga metálica
Séc. XIX
11,1x9 cm (sem moldura)
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 213

De origem inglesa, mas nascido em Portugal, Francis Smith estudou arte em Paris onde acabaria por se instalar, casando com Yvonne Mortier (escultora) e naturalizando-se francês.

Artista modernista, Portugal manteve-se como tema inspirador de grande parte das suas obras (como é percetível neste guache).

Esta obra encontra-se, de momento, emprestada e exposta no Palácio da Cidadela de Cascais, sob a responsabilidade do Museu da Presidência da República.

Francis Smith (Lisboa, 1881 - Paris, 1961)
Guache sobre papel
Sem data (Séc. XX/ 1ª metade?)
26,2x34,5 cm
Coleção Olga de Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 163/AG.10

Carlos Eirão (1961, Penalonga/Vila Real) formou-se na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e expôs em Setúbal em 1994, após o que doou ao Museu de Setúbal esta pintura de forte impacte visual.

Duas figuras tocam-se, envolvem-se, olham-se, emergindo do fundo negro em manchas luminosas. Tecnicamente, este contraste entre claro e escuro resulta da diluição das tintas por meio de lixívia.

Carlos Eirão Técnica Mista (acrílico, óleo e lixívia) sobre tela
1994
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2977/PP.262

Trabalho Português
Óleo sobre cobre
Séc. XVIII
24,5x30,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 94/PR.94

Francisco Augusto Flamengo
Técnica mista sobre papel
1891
Biblioteca Municipal de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1712/Grav.188

Trabalho Português (?)
Prata gravada e cinzelada
Séc. XVIII (final) /XIX (início)
25x22,5 cm e 15,1x11 cm
Coleção Manuel Teixeira Malheiros
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 726 e MS/CJ 725

Esta pintura servia de fundo a uma imagem de vulto de Nossa Senhora da Piedade (Nossa Senhora sentada com Cristo morto nos braços) em madeira estofada e policromada.

Do lado direito, as figuras de homens representam José da Arimateia e Nicodemos, dois abastados e altos magistrados do povo judeu (embora fossem membros do Sinédrio, eram favoráveis a Jesus Cristo). J. Arimateia (que obtivera autorização do governador romano Pôncio Pilatos para sepultar Jesus num sepulcro de sua propriedade) segura nos três cravos ensanguentados que pregaram Jesus à cruz. Nicodemos segura um recipiente, com a mistura de mirra e aloés, que, segundo o evangelho de S. João, levara para espalhar sobre o corpo antes de este ser envolvido pelo lençol de linho (Sudário). Na base da pintura uma caveira e um fémur aludem à morte.

Este oratório foi, conforme a crónica de Soror Leonor de São João (1630), mandado edificar em 1628 pela Madre Soror Ana de Jesus e pago com a esmola enviada da Índia pelo seu pai.

Trabalho Português
Óleo sobre madeira
Séc. XVII/2.º Quartel
221,5x186,2 cm
Coro Alto do Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 44/PR.44

Alda Machado, pintora tardo-naturalista especialmente dedicada a cenas de género, naturezas-mortas e arranjos florais, legou em testamento ao Museu da Cidade de Setúbal (atualmente Museu de Setúbal/Convento de Jesus) uma coleção de diversos bens, com especial destaque para várias pinturas da autoria do seu marido, o pintor Fernando Santos, natural de Setúbal, e outras da sua própria mão.

Nesta tela a pintora retrata uma cena intimista em que a figura, vestindo um quimono e sentada junto a um toucador, polvilha o rosto com pó de arroz.

Entre os objetos pousados no móvel identificamos uma máscara branca, que nos permite conjeturar tratar-se dos preparativos para os festejos de carnaval, o que também explicará o vestuário tradicional japonês.

Alda Machado (Lisboa, 1892 – 1977)
Óleo sobre tela
1916
60,0x75,5 cm
Legado Alda Machado e Fernando Santos
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1718/PP.152

A musa em bronze, que se encontra na interseção da Avenida Luísa Todi com a Praça de Bocage, em Setúbal, teve como base para o seu molde este estudo de nu feminino que o escultor Charles Correia doara à Câmara Municipal na década de 80

O Museu de Setúbal tem no seu acervo este e outros estudos, além da escultura em bronze “O Galo” já apresentado nesta rubrica.

Embora natural de Setúbal, Charles Correia cresceu em França onde frequentou a Escola de Belas-Artes de Nantes e a Escola Nacional de Belas-Artes de Paris. Na sua obra privilegiou o bronze. As suas obras públicas podem-se apreciar em França (Paris e arredores, Nantes, Beauvais), EUA (Lafayette, Louisiana) e Portugal (Setúbal).

Charles Correia (1930-1988)
Cera e gesso
Sem data (década de 80 (?), séc. XX)
25,5x17x22 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3939/E.268

Embora natural de Setúbal, Charles Correia cresceu em França onde frequentou a Escola de Belas-Artes de Nantes e a Escola Nacional de Belas-Artes de Paris. Na sua obra privilegiou o bronze.

Encontram-se diversas obras públicas da sua autoria em ruas, jardins e praças francesas, como em Paris e em diversas comunas da sua periferia, tal como Beauvais (capital da região dos Altos da França) e Nantes (capital da região País do Loire).

Também podemos encontrar obras na cidade Lafayette, no Louisiana (EUA), e em Setúbal, nomeadamente a “Musa”, na interseção da Avenida Luísa Todi com a Praça de Bocage.

Destacam-se as estátuas do General de Gaulle e de André Malraux, em Asnières (França), de 1982, o monumento dedicado a Jean de La Fontaine, no jardim de Ranelagh, em Paris, e o par de cavalos intitulado “Les Forces Vives”, em Épinay-sur-Seine, ambos de 1983.

O Museu de Setúbal tem diversos estudos para esculturas, além desta obra em bronze.

Charles Correia (1930-1988)
Bronze
1980 (?)
59x53x86 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1590/E.120

António Delgado, licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e doutorado em Belas-Artes (Escultura) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do País Basco (2001, Espanha), artista, docente do ensino superior e investigador/teórico da Arte (com alguns títulos já editados), expôs em Setúbal, nas décadas de 80 e 90 do séc. XX, tendo doado diversos desenhos para o acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.

António Delgado (N. 1958, Turquel/Alcobaça)
Tinta da China sobre papel
1992
62,5x45 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2863/D.110

Encontrava-se sobre a porta de uma casa degradada, que teve de ser demolida no início do séc. XXI, num terreno descampado acima da zona do Mercado da Confeiteira, a este do Bairro da Terroa.

Na segunda metade do séc. XVIII difundiram-se estes pequenos registos em azulejo nas fachadas das casas, representando Nossa Senhora (retratada em diversos títulos e invocações), a Sagrada Família, Santos ou o Santíssimo Sacramento, revelando as devoções pessoais dos seus proprietários.

A sua função seria a de proteção e bênção dessas casas e respetivos moradores, sendo que os santos mais representados eram os santos protetores contra calamidades como os incêndios, terramotos e a peste. De facto, estes registos foram muito utilizados na reconstrução pós-terramoto de 1755. Setúbal apresenta ainda um número considerável em fachadas de casa ao longo do seu centro histórico.

Trabalho Português
Painel de Azulejos
1792
85x57 cm
Proveniente de casa isolada e degradada, demolida em terreno baldio acima do Mercado da Confeiteira (também conhecido por Mercado da Xepa)
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3483/AZ.102

Foi integrada, no séc. XVIII, num oratório lateral do Coro Alto, datado de 1749, juntamente com outras pinturas de pequeno formato.

O apóstolo amado por Jesus Cristo (um dos quatro Evangelistas, colocado à direita de Cristo na Última Ceia e apresentado junto da Cruz na cena do Calvário) é, aqui, representado segurando na mão um cálice de onde sai um dragão, numa alusão ao conteúdo envenenado com que o terão tentado matar, conforme uma das diversas lendas que relatam os tormentos por que terá sofrido.

Trabalho Flamengo (?)
Óleo sobre madeira de castanho
Séc. XVI
37,8x23,8 cm
Convento de Jesus de Setúbal
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 36/PR.36

Desde muito novo que se dedicou à pintura, desenvolvendo o seu estilo próprio, apesar de começar a expor somente a partir de 1975 e de colocar as suas obras à venda apenas a partir da década de 80 de novecentos. Foi rapidamente reconhecido no meio artístico e em 1987 passou a dedicar-se exclusivamente à pintura.

Em 1979 construiu uma casa de campo na Serra de São Luís, no Parque Natural da Arrábida e, em 1998, após convite da Fundação Oriente, inaugura em Macau a exposição “Conventinho da Arrábida”, inspirada no convento implantado no coração da Serra contígua a Setúbal. Esta tela, que ofereceu mais tarde ao Museu de Setúbal/Convento de Jesus, integra essa série.

Manuel Amado (1938-2019)
Óleo sobre tela
1998
100x81 cm
Doação do artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3409/PP.388

A sua obra escultória tem abordado temáticas diversas, fontes de inspiração para projetos diversificados, tanto nas formas como nos materiais.

Na exposição de 1999 “Perfeito/Defeito”, na Casa do Corpo Santo, em Setúbal, o artista expôs um conjunto de esculturas, instalações e desenhos que abordaram os preconceitos sociais associados à imagem física.

Rodrigo Baeta
Materiais diversos
1998
91,5x50x50 cm
Doação do Artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4312/E.276

Além desta gravura, oferecida após a sua exposição de 1998 na então Galeria Municipal de Artes Visuais da Casa Bocage, o acervo do Museu de Setúbal também inclui uma segunda doação do artista, de 2016 e em técnica mista (gravura e pintura), evocativa de Bocage e que esteve patente, extra-concurso, na exposição de artes plásticas “Bocage Visto e Interpretado pela Arte Contemporânea”, no âmbito das comemorações dos 250 anos do nascimento do poeta (2016).

Como artista gravador frequentou a Academia Real de Belas-Artes de Liège (Bélgica). Trabalhou no atelier Georges e Bransen (litografia), em Paris, e no atelier Polígrafa (gravura), em Barcelona.

Foi responsável, durante vários anos, pelas edições de litografia e gravura da Cooperativa de Gravadores Portugueses. Lecionou em diversos cursos de gravura, litografia e serigrafia. Trabalhou ainda como técnico na Oficina de Restauro de documentos gráficos do Museu Calouste Gulbenkian.

É responsável pelas edições de gravura e litografia do Centro Português de Serigrafia, em Lisboa. Encontra-se representado em diversas e importantes coleções particulares e oficiais destacando-se: Gabinete de estampa de Liège, CAM – Centro de Arte Contemporânea da Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões.

Recebeu a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal, por Atividades Culturais, em 2014.

Humberto Marçal
Gravura sobre papel / Prova de Artista
199749,6x70 cm
Doação do Artista
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3271/Grav.164

Sob influência do catolicismo, na Idade Média, a moral obrigava a tapar-se o cabelo visto como fator de sedução erótica. Assim, mesmo nas classes baixas, a touca tornou-se num acessório obrigatório.

Havia as utilizadas de dia, como acessório do vestuário, que contribuíam para compor a imagem das senhoras da aristocracia e da burguesia, mais ou menos decoradas e trabalhadas. Havia as de carácter mais funcional, que tapavam o cabelo, como alternativa a penteados mais elaborados ou, no caso das classes populares, protegendo-o da sujidade e dos trabalhos domésticos. Havia, ainda, as usadas especificamente para dormir ou vestidas de manhã na intimidade doméstica para proteger e perfumar o cabelo e ainda para o tapar antes de ser devidamente penteado e composto.

Essas mob caps (maid caps para as serviçais domésticas) perduraram durante séculos. Em tecidos de algodão ou linho fino, em popeline, tule, crochê, seda, chiffon, decoradas com rendas, folhos, bordados, fitas de seda ou cetim, os modelos foram variados e seguiram a moda e a estratificação social.

Rouparia Martins, Lisboa
Tule, renda, bordado
Início Séc. XX
11x33 cm
Coleção Mercês Araújo
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4093/TX36

Com esta Natureza Morta, a Divisão de Bibliotecas e Museus participa na iniciativa “À mesa com os museus”, da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, inserida no Programa do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa.

Bonifácio Lázaro Lozano nasceu na Nazaré, no seio de uma família espanhola, que se mudaria para Setúbal no ano seguinte ao seu nascimento para aqui abrir uma fábrica de conservas de peixe.

Foi nesta cidade, onde cresceu, que começou os estudos artísticos. Formou-se na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e na Academia de Belas-Artes de San Fernando, em Madrid.

O Museu de Setúbal/Convento de Jesus possui uma variada coleção de obras deste artista, que as doou após uma exposição na Casa Bocage, em 1991.

Bonifácio Lázaro Lozano (Nazaré, 1906 – Madrid/Espanha, 1999)
Óleo sobre platex
1989
38,1x45,9cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2766/PP.220

Também conhecido por Francisco Figueiredo Lusitano ou Francisco Figueiredo Portuense, este pintor nasceu no séc. XVIII, no Porto.

Pintou a óleo e a fresco, utilizando esta última técnica em tetos de Igrejas. Terá viajado bastante por Espanha, o que poderá explicar o pseudónimo Lusitano.

Esta tela assinada (Franciscus Figdº Lusitanus Pixit) e datada (MDCCLXXXII) representa Cristo (morto) recostado ao colo de Maria, com Maria Madalena e São João Evangelista em adoração e reverência.

A seus pés encontram-se a coroa de espinhos e os três cravos que o prenderam à cruz, aludindo ao seu sofrimento. A esponja na bacia poderá representar o vinagre que lhe foi dado a beber, mas não surge na ponta da lança, pelo que talvez possamos considerar outra interpretação e identificá-la com a lavagem do corpo antes da sua colocação no sepulcro. A inscrição no topo, em latim, é retirada do Livro das Lamentações (Antigo Testamento). A inscrição trilingue (em hebraico (?), grego (?) e latim) sobre um pergaminho representa o acrónimo INRI por extenso (ou seja, “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”), a inscrição que, segundo os Evangelhos, foi colocada na cruz sobre a cabeça de Jesus.

Desconhece-se a proveniência original desta tela. Em data incerta terá sido transferida para a Capela do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, construído em 1859. Entrou no Museu de Setúbal na década de 80 do séc. XX.

Francisco Figueiredo
Óleo sobre tela
1782
139,2x87,1 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 1651/PR.100
Proveniente da Capela de N.ª S.ª da Piedade, no Cemitério de Setúbal

Não adoram os deuses, mas os 24 Tirthankaras, homens que alcançaram a purificação da alma e se tornaram seres sábios, superiores e perfeitos, sem qualquer apego ao mundo material.

Os jainistas veneram esses seres como modo de progredir no caminho espiritual para a purificação e o esclarecimento. A não-violência, o respeito por todos os seres vivos, a meditação e o desinteresse pelos bens materiais são alguns dos seus princípios.

Trabalho indiano
Bronze
Séc. IX/X
13x12,1x11,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 291/E.71

Inicialmente dividido entre a pintura e a representação teatral, Mário Eloy iria acabar por se dedicar exclusivamente à arte pictórica.

Impressionado pelas obras expostas no Museu do Prado em Madrid iria, de regresso a Lisboa, desenvolver o retrato.

Entretanto, seduzido pelo modernismo nas artes plásticas, parte para Paris em 1925. Aí, conhece Olga de Moraes Sarmento e oferece-lhe este autorretrato.

No final de 1927 segue viagem até Berlim, atraído pelo expressionismo. Regressa definitivamente a Portugal em 1933, consolidando a sua carreira no nosso país.

A sua obra destaca-se na pintura portuguesa da época pela originalidade, pela aproximação ao expressionismo e pelo experimentalismo. Na sua última fase as temáticas tornam-se inquietantes, pessimistas, como resultado do agravamento da doença degenerativa, hereditária, de que padecia (Coreia de Huntington) e que acabou por o vitimar.

Entre 1942 e 1951 viveu na Casa da Saúde (para doenças mentais) do Telhal, onde viria a falecer.

Com dedicatória a Olga de Moraes Sarmento
Mário Eloy (1900-1951)
Grafite sobre papel
1927 (Paris)
24,2x 19,6 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MSCJ 174/D.9

Peça de mobiliário muito original, pois serve quatro funções distintas (oratório no alçado, escrivaninha/papeleira na primeira gaveta, toucador com espelho articulado na segunda gaveta e cómoda nas terceira e quarta gavetas).

A cómoda apresenta pegas metálicas nas laterais para facilitar o transporte.

Possui na traseira vestígios de uma etiqueta incompleta, em papel, com a palavra pertence e o apelido Todi.

Pela datação e características existe a forte possibilidade de ter pertencido, de facto, à cantora lírica Luísa Rosa de Aguiar Todi (Setúbal, 1753 – Lisboa, 1833).

Foi inicialmente herdada por familiares (pertenceu a Luiza Rufina de Miranda Todi, bisneta da cantora lírica) e posteriormente por terceiros, sendo por estes doada ao museu.

Madeira
Séc. XVIII (final) / XIX (início)
227x103,5x52 cm
Coleção Maria Manuela Jordão
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 4966

Alude à relação do poeta Manoel Maria Barbosa du Bocage com a maçonaria. Vários autores referem que se filiou entre 1795 e 1797, especificamente na Loja Fortaleza (uma das lojas fundadoras do grande Oriente Lusitano) e que tomou o nome de Lucrécio.

O Dr. Macaco, referido em versos de Bocage, representa José Joaquim Ferreira de Moura, com quem se terá desentendido, após filiação na mesma loja maçónica.

Pedro Espanhol
Acrílico sobre tela
2016
120x120 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 5443/PP.508

Esta escultura encontra-se atualmente emprestada e exposta na Casa da Cultura.

Alberto Gordillo (Moura, 1943) é escultor e joalheiro, privilegiando as formas abstratas e sendo considerado o pioneiro da joalharia contemporânea de autor portuguesa.

Ainda muito jovem introduziu novos materiais e formas nesta arte.

De entre as suas criações de alta joalharia contemporânea destacou-se, até hoje, o Colar Teia em platina e diamantes que esteve exposto na Bolsa dos Diamantes de Londres e no Museu Nacional do Traje, em Lisboa.

Existe uma indissociabilidade entre as suas esculturas e as suas joias, artes que trabalha em simultaneidade.

Alberto Gordillo
Metal forjado
1995
89,5x47,5x31 cm
Doação do autor
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 3725/E.255

'Os acontecimentos históricos vividos no livro e abrangendo os dois primeiros anos do 25 de Abril, não têm o objectivo de remeter o leitor, ou a leitora, para a lembrança dos tempos idos, como um mero acto de saudosismo, ou como expressão de uma simples aspiração a um eterno retorno. O que se conta nesta obra é, por dever ético e acção cidadã dos dois amigos, dar a conhecer o que por eles foi vivido e sentido, individual e colectivamente, durante a Revolução.'

Maria José Maurício

MAURÍCIO, Maria José
Os sonhos da revolução dos cravos
Lisboa : Colibri, 2020. 190, (3) p
Coleção do MTMG – Centro de Documentação

A Soror Maria da Trindade viveu no Convento de Jesus no século XVII e é referenciada na crónica conventual escrita por Leonor de S. João.

Os fragmentos foram encontrados durante a intervenção arqueológica realizada entre 2012 e 2014 no exterior do Convento, a nascente, numa zona de lixeira.

Fragmentos de fundos de taça
Com o nome da freira inscrito – Soror Maria da Trindade
Faiança Portuguesa
Século XVII
Diâmetros do fundo: 5cm e 3,5cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, CJ/05/06/s.n.

A imagem do santo finamente pintada (quase ao estilo da Iluminura) é envolvida pelo fundo parcialmente dourado e pela moldura gótica esculpida.

São visíveis características medievais na pintura (fundo dourado, perspetiva deficiente, nimbo do santo insculpido) e no emolduramento que reproduz elementos arquitetónicos góticos.

Proveniente da coleção de Olga Moraes Sarmento, não existe documentação da sua localização original, contudo, pelos vestígios laterais, podemos concluir que integraria uma obra maior.

Podemos observar vestígios de pintura de ambos os lados exteriores do emolduramento e, ainda, parte de outro nimbo gravado do lado direito.

Escola Catalã
Óleo sobre madeira
Séc. XIV/XV
43,5x40,9 cm
Com moldura: 43,5x40,5 cm
Coleção Olga Moraes Sarmento
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 91/PR.91

Pedro Jorge Pinto, filho de José António Jorge Pinto (importante pintor de azulejos Arte Nova), nasceu em Lisboa e formou-se na Escola de Belas-Artes, seguindo posteriormente o interesse paterno pela pintura sobre azulejo. Foi professor na Escola Técnica de Setúbal, atual Escola Secundária Sebastião da Gama.

Trabalhou com a Fábrica Arcolena (Lisboa), cuja marca Lena aparece pintada junto da sua assinatura nalguns dos painéis de azulejos, da sua autoria, na parede do fundo do Mercado do Livramento, em Setúbal.

Esses painéis, pintados entre 1929 e 1930, ficaram muito destruídos aquando do terrível desabamento dessa parede, em 2012, no âmbito de obras no mercado, mas foram restaurados e repostos em 2013. Também da sua autoria é um grande painel em azulejos policromos, datado de 1962, na parede oeste do McDonald's da Avenida Luísa Todi, entretanto tapado pela gerência da loja, representando parte da zona ribeirinha de Setúbal, vista do rio, e destacando-se a Fortaleza de São Filipe no alto da colina.

Pedro Jorge Pinto (1900-1983)
Aguarela sobre papel
1927
32,9x24cm
Adquirido pela Câmara Municipal de Setúbal em maio 1928
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 154/AG.1

A proveniência destes nossos exemplares é distinta.

O mostrador retangular foi doado por um particular em 1991 após a realização de obras, abaixo do nível do chão, num imóvel da sua propriedade, na Rua Capitão Tenente Carvalho Araújo (Bairro Salgado, Setúbal). Quanto ao mostrador quadrado foi transferido em 1994 do recinto das oficinas municipais (onde estava guardado) para o museu. Infelizmente, não temos informação acerca do seu local original.

Ambos estão datados, embora seja mais difícil de distinguir a data no quadrangular: encontra-se na parte inferior. Falta-lhes a peça cuja sombra permitiria a leitura das horas.

Além do interesse que detêm enquanto instrumentos tecnológicos e testemunhos históricos, são peças com valor estético especialmente pelo efeito visual das linhas nos mostradores.

Trabalho Português
Pedra
1749 e 1860
56x45,5x11,5 cm e 28,5x28,3 cm
Museu de Setúbal/Convento de Jesus, MS/CJ 2440/E.167 e MS/CJ 2976