Arquivo Municipal | Documento do Mês
Com uma base de dados com cerca de 13 mil imagens documentais, o Arquivo Municipal de Setúbal partilha com o público, todos os meses, documentos que marcam a história, as vivências, as memórias que constroem a identidade do concelho.
Através da partilha do acervo do Arquivo Municipal, revela-se o dia a dia que construiu e continua a construir o código genético de Setúbal.

Setúbal e a situação habitacional
no pré-25 de Abril

Documento do Mês | "Inquérito às barracas"
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Um estudo de características únicas no concelho, produzido pela Câmara Municipal sob o título “Inquérito às barracas”, mostra a realidade social e habitacional concelhia vivida pelas populações na década de 60 do século passado, com esta publicação a assinalar, igualmente, a entrada em pleno funcionamento do sítio de internet do Arquivo Municipal

O estudo em destaque, cujo ponto de partida assenta nos elementos constantes dos censos realizados no ano de 1960, refere que no concelho estavam registados 44.435 habitantes e que, após um período de estagnação socioeconómica, de algum modo atribuível à acentuada quebra da indústria conserveira que até então vigorava como um dos grandes motores de desenvolvimento local, procurava afirmar-se através da implementação de novas indústrias ligadas maioritariamente à produção fabril, mas também ao comércio e aos serviços.

Mercê da dificuldade no acesso à habitação que caracteriza muito largamente a população setubalense, cujos salários se constituem como uma barreira muito dificilmente ultrapassável, quer no arrendamento de habitação com condições de salubridade, equipadas com acesso a água corrente e ligadas à rede de esgotos, quer essencialmente na compra de casa própria, remete uma enorme parte da população a viver em barracas espalhadas por toda a cidade sadina. Isto apesar de se registar um grande incremento na construção de habitação e alargando-se, assim, continuamente, as zonas urbanizadas.

Os conjuntos de barracas, localmente conhecidos como “bairros da folha”, aponta o estudo, constituem-se como “uma chaga viva no corpo físico e moral da cidade”, revelando-se igualmente “a falência de uma política que tão grandes benefícios tem trazido à Nação”, o que se comprova pela existência de um extenso conjunto de 2.254 barracas na cidade e do qual foram efetuados estudos aprofundados a 12 por cento do conjunto, durante a década de 60, incidindo-se sobre questões de salubridade, o número médio de habitantes em cada uma delas, o espaço que cabia a cada indivíduo, extremamente exíguo, entre outros indicadores, tais como os respeitantes à salubridade, pois, não estando ligadas as barracas ao saneamento, era prática corrente atirar-se o lixo e os dejetos diretamente para a rua, provocando um incremento generalizado de doenças infetocontagiosas.

Este estudo, com o código de referência PT/AMSTB/CMSTB/O-B/0001/00001, a par das fotografias das barracas e das populações lá residentes, encontra-se disponível para consulta na renovada página do Arquivo Municipal, tendo parte destas fontes documentais sido utilizadas na conceção do livro “Outro Mundo no Mesmo Lugar”, da autoria de Vanessa Iglésias Amorim (antropóloga), Jaime Pinho e Alberto Lopes (professores de História) e Lia Antunes (arquiteta), cujo lançamento decorreu no dia 21, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, apontando-se nesta obra que, nas décadas de 60 e 70 do século XX, 25 por cento da população setubalense citadina vivia em barracas.