“Hoje é um dia muito importante para a região, mas também para Portugal”, sublinhou o presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), Alfredo Monteiro, em conferência de imprensa realizada no dia 1, ao final da manhã, na Quinta de São Paulo, Palmela, poucos minutos depois de a candidatura da Arrábida ter sido entregue na missão portuguesa junto da Unesco e, consequentemente, no respetivo Comité Internacional.

O processo, iniciado em 2000, é conduzido pela AMRS, pelas câmaras municipais de Setúbal, Palmela e Sesimbra e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, num projeto que envolveu parcerias com um conjunto alargado de entidades.

Concluída “esta primeira grande etapa, esta primeira grande vitória”, Alfredo Monteiro adiantou que “o trabalho ainda não acabou”, uma vez que as equipas da Unesco vão agora dar início à análise do processo e aferir a validade da argumentação que fundamenta os seis critérios de avaliação a que a Arrábida se está a candidatar para ser considerada Património da Humanidade.

Na Unesco, numa primeira fase, a candidatura poderá ser devolvida, para que se alterem requisitos que aquele organismo considere necessário, ou mesmo recusada, desfechos que, mesmo assim, se apresentam como improváveis.

O presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Augusto Pólvora, explicou que, apesar de ser importante “ter consciência de todos os cenários”, a candidatura já passou na rigorosa avaliação feita pelo Conselho Interministerial português, constituído pelos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e pela Secretaria de Estado da Cultura.

Após a análise dos requisitos a fazer pela Unesco, segue-se um período de peritagem, que inclui visitas de equipas daquele organismo à Arrábida. “Se tudo correr bem, poderá haver uma decisão definitiva no final de 2013”, acrescentou Augusto Pólvora.

O otimismo que envolve o êxito da candidatura não é beliscado, inclusivamente, pela localização das instalações de uma cimenteira no Parque Natural da Arrábida.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, sublinhou que a cimenteira da Secil representa “muitos postos de trabalho e está há muitos anos no Parque Natural. Porém, esta candidatura poderá fazer o Governo repensar a política de licenciamento daquele espaço”.

Para Maria das Dores Meira, a “candidatura representa uma oportunidade para que aquela indústria, que é necessária, seja reconvertida ou até deslocalizada. Têm muito tempo para se preparar, pois as licenças são de vinte anos”.

Alfredo Monteiro considera igualmente que “o valor do bem Arrábida e as suas qualidades únicas no mundo são suficientes” para que a presença da cimenteira não seja um fator eliminatório da candidatura.

O facto de a proposta entregue na Unesco se destinar à categoria de Património Misto significa que a cordilheira sustenta importantes valores naturais e culturais.

A presidente da Câmara Municipal de Palmela, Ana Teresa Vicente, sublinhou que “a Arrábida é palco de muitas tradições da população” e a inclusão, durante a preparação da candidatura, de valores culturais, “permitiu, por exemplo, acrescentar o castelo de Palmela” ao território abrangido na proposta.

O esforço das equipas municipais e da AMRS na preparação da candidatura foi também enaltecido pelos presidentes de câmara e da Associação de Municípios.

Numa imagem da dedicação e empenho das entidades na candidatura, Maria das Dores Meira recordou que Eduardo Rêgo, narrador da série “Vida Selvagem”, comentou recentemente que dos mais de três mil filmes que já narrou, o episódio “Arrábida – Da Serra ao Mar”, encomendado pela AMRS e transmitido na SIC, foi o primeiro totalmente feito em Portugal.

Caso a entrega da candidatura tivesse falhado a data de hoje, o processo só teria desenvolvimentos em 2018, uma vez que é quase certa a entrada de Portugal no Comité Internacional da Unesco, facto que inviabilizará a apresentação de candidaturas portuguesas até que o País deixe de estar representado naquela instância.