“Nem deveria ser chamado de ‘festival’. Mas também não encontro outro nome melhor. Só do ponto de vista pedagógico, este é um evento que tem um valor incalculável”, sublinhou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira na apresentação oficial da terceira edição do certame, realizada no dia 11, na Sala Polivalente do Fórum Municipal Luísa Todi.

Artistas como Artur Pizarro, a Orquestra de Câmara Portuguesa e a Grand Union Orchestra são, referiu a autarca, “apenas cerejas no topo de um grande bolo muito doce”, apontando a qualidade dos nomes envolvidos no certame, assim como a forte componente social, contando com a participação da comunidade escolar e de várias instituições de Setúbal.

O Festival de Música de Setúbal, este ano dedicado ao tema “Comunicação”, é “um verdadeiro caso de estudo”, com a particularidade de apresentar um vasto conjunto de atuações protagonizadas por alunos da rede escolar concelhia e de estabelecimentos musicais, além de utentes de instituições de solidariedade social que ao longo do ano ensaiam especificamente para o certame, na maioria dos casos com parcerias entre entidades.

Ian Ritchie, diretor artístico do festival, organizado pela Câmara Municipal e pela The Helen Hamlyn Trust, realçou precisamente o facto de o programa ser “uma fusão de talentos locais com artistas profissionais, em que ambos se influenciam mutuamente, criando um evento único”.

O britânico, também responsável pelo Festival de Música de Londres, sublinhou o facto de o certame de Setúbal contar pela primeira vez com o Fórum Luísa Todi, espaço recentemente remodelado e que “desempenha um importante papel na promoção das artes, permitindo agora um recital de piano e um concerto de orquestra de câmara, algo que não foi possível nas edições anteriores”.

O conceituado pianista português Artur Pizarro, presente na apresentação do programa aos jornalistas, abre o ciclo de concertos com o recital “Contos de Fadas, Casas Assombradas, Princesas Encantadas – E um Elefante”.

Na atuação, no dia 16, com início às 21h00, no Fórum Municipal Luísa Todi, Artur Pizarro interpreta obras inspiradas em contos de fadas e outras histórias, nomeadamente “Dos contos de Andersen, Op.30”, de Sergei Bortkiewicz, “Contos ao pé da lareira, Op.61”, de Edward MacDowell, “Contos de Fadas, Op.3”, de Erich Wolfgang Korngold, e “A história de Babar, o pequeno elefante”, de Francis Poulenc. Bilhetes a 12 euros.

No dia seguinte, a 17, a partir das 10h30, realiza-se o já tradicional desfile de percussão entre a Avenida Luísa Todi e o Parque do Bonfim, no qual participam centenas de crianças de várias escolas do concelho.

Com direção de Fernando Molina, o desfile termina com um “Momento Conjunto de Percussão”, entre as 11h30 e as 11h45, em que todos os participantes na parada atuam em simultâneo num espetáculo de entrada livre.

Ainda a 17, a partir das 21h30, no Fórum Luísa Todi, decorre o espetáculo “Tocando Ritmos, Trocando Canções”, numa atuação em que participam a Grand Union Orchestra, conduzida por Tony Haynes, a Academia de Música e Belas-Artes Luísa Todi, os BelaBatuke – AVEOS e o Conservatório Regional de Setúbal.

O concerto, apoiado pela European Cultural Foundation e com influências do reportório da Grand Union, constituído por músicas do mundo, contemporânea e jazz, é o resultado da colaboração entre músicos de Londres, de Setúbal, do sul de França e de vários outros locais do planeta. Bilhetes a 12 euros.

Meia hora antes do início do espetáculo, às 21h00, à entrada do Fórum Luísa Todi, os BelaBatuke e a Academia de Música apresentam “Ritmos Comunicantes”, atuação conjunta com instrumentos de percussão.

Já no dia 18, o centro da cidade acolhe, a partir das 11h30, o espetáculo “O Festival vai à Praça de Bocage”, apresentado pelos Paganinus, orquestra de violinos do Conservatório Regional. Pequenos grupos de músicos percorrem ainda ruas da Baixa.

À tarde, com início às 15h30, realiza-se o concerto “Comunique!”, conduzido por Carlos Barreto Xavier, no Auditório da Anunciada, espetáculo de entrada livre.

O projeto, com canções criadas e interpretadas por crianças e jovens do concelho, conta com a participação de coros de várias escolas do 1.º ciclo do ensino básico, de uma orquestra do Conservatório Regional de Setúbal e do Coral Infantil de Setúbal..

A terminar a programação do dia 18, sobe ao palco do Fórum Luísa Todi, às 21h30, a Orquestra de Câmara Portuguesa, liderada pelo maestro Pedro Carneiro.

“Bomtempo & Beethoven” é o título do concerto, com bilhetes 12 euros, em que o conjunto interpreta a “Sinfonia n.º 2” de João Domingos Bomtempo e a “Sinfonia n.º 3 ‘Eroica’”, de Beethoven, ambos compositores contemporâneos.

O último dia do festival, 19, começa com “Música na Quinta da Bacalhôa”, concerto de entrada livre com início às 11h00, na quinta renascentista localizada em Vila Fresca de Azeitão.

Rinka Finka e Nôs Talentu, da Associação Cabo-Verdiana de Setúbal, atuam em conjunto com nove violoncelistas da Orquestra de Câmara Portuguesa, num espetáculo em que são conjugados ritmos e danças tradicionais de Cabo Verde com música clássica, em particular composições de J. S. Bach e de Villa-Lobos.

Segue-se “A Grande Serpente Marinha”, às 16h00, no Fórum Luísa Todi, com utentes do Externato Rumo ao Sucesso, de ensino especial, e de alunos do Conservatório Regional de Setúbal e da EB 2,3 de Bocage.

Com direção de António Laertes e coreografia de Aldara Bizarro, a atuação evoca a obra homónima que Hans Christian Andersen escreveu no seguimento de uma visita a Portugal em 1866 e para a qual se inspirou no cabo que, na época, ligou por telégrafo, a partir de Carcavelos, a América do Norte e a Europa.

No concerto é usado pela primeira vez em palco o skoog, instrumento inventado na Escócia propositadamente para crianças com deficiências. Bilhetes a cinco euros para adultos e a um euro para crianças até aos 12 anos.

O Festival de Música de Setúbal termina com o espetáculo “Rosa Immaculata – Cenas da Vida da Virgem”, que se realiza no dia 19, às 18h30, na Igreja de S. Sebastião.

Sérgio Fontão dirige o coro Voces Caelestes que interpreta obras de compositores como Villa-Lobos, Lopes-Graça, Britten, Arvo Prät e Grieg. Entrada livre, com reserva obrigatória de bilhetes.

Os bilhetes encontram-se à venda no Fórum Municipal Luísa Todi e em www.bilheteiraonline.pt.

A apresentação do Festival de Música de Setúbal contou ainda com as presenças da coordenadora Narcisa Costa, do diretor do Departamento de Cultura, Educação e Desporto da Autarquia, Luís Liberato, e de Hugo O’Neill, personalidade que esteve na origem da criação do evento.

Ian Ritchie garantiu no final da apresentação que durante o festival “toda a cidade, todos os monumentos, todos os espaços públicos vão estar preenchidos com música”, refletindo a dimensão de um certame que, assegurou, já está a ser comentado fora do País, nomeadamente através da Comissão Cultural Europeia, entidade que pretende aplicar o conceito do festival de Setúbal noutras localidades da Europa.