“Este evento é um espaço de afirmação cultural, artística e de liberdade, que resulta da qualidade dos ilustradores portugueses”, afirmou o vereador da Cultura Da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, na abertura oficial do certame com o lema “É Preciso Fazer um Desenho?”.

E, uma vez mais, a resposta é sim. É preciso fazer um desenho. Aliás, vários desenhos, manifestações artísticas que são partilhadas em diversos espaços e equipamentos culturais, na cidade de Setúbal e em Azeitão, até aos primeiros dias de julho, em perto de duas dezenas de iniciativas.

António Jorge Gonçalves está em destaque na Casa da Cultura, espaço no qual estão patentes, até ao dia 2 de julho, na Galeria de Exposições e Sala Anexa. “Subway Life”, “Desenhos Efémeros” e “A Minha Casa Não Tem Dentro”, mostras que revelam um pouco do vasto trabalho do ilustrador.

Em “Subway Life”, António Jorge Gonçalves apresenta um conjunto de desenhos que retratam pessoas sentadas em várias estações de metropolitano do mundo. Um método que, de acordo com a descrição do artista, pretendia obrigar a desenhar aquilo que não era possível escolher.

A obra resulta de um exercício iniciado em 1997, em Londres, alargado depois a outras cidades de quatro continentes distintos, concretamente São Paulo, Nova Iorque, Lisboa, Berlim, Atenas, Estocolmo, Moscovo, Cairo e Tóquio. No total, foram mais de oitocentas horas de trabalho.

“É o trabalho com maior visibilidade e mais fora do baralho. Desenhei quem o acaso colocou à minha frente”, revelou António Jorge Gonçalves sobre “Subway Life”, uma amostra dos mais de três mil desenhos que realizou durante as três/quatro semanas que permanecia em cada sítio.

Em Setúbal, a exposição é acompanhada dos cadernos originais nos quais o ilustrador fez os desenhos. “Nunca pedi autorização a ninguém, mas também não fingi estar a fazer outra coisa. Durante os cinco a oito minutos que cada desenho levava a construir comecei como observador e acabei como observado”, apontou.

Antes da entrada para a Sala Anexa, que acolhe “Desenhos Efémeros”, uma seleção audiovisual com trabalhos que António Jorge Gonçalves realizou para vários espetáculos de música, teatro e dança, uma parede, elaborada na tarde de sexta-feira, põe o público a refletir sobre várias questões.

“Ainda pensei em pôr um marcador para recolher contributos mas depois era capaz de ser pouco simpático para a parede”, brincou o artista, pouco antes de passar para “A Minha Casa Não Tem Dentro”, conjunto de desenhos cuja conceção foi desbloqueada após uma experiência marcante.

A fechar a noite de inauguração da Festa da Ilustração 2017, António Jorge Gonçalves dinamizou, no Pátio do Dimas da Casa da Cultura, a sessão de desenho digital “Eterópolis”, com a realização de ilustrações, ao som de batidas abstratas, que marcavam o ritmo da criação artística.

A Festa da Ilustração 2017 “é original e surpreendente”, acentuou José Teófilo Duarte, da DDLX – Design | Comunicação, atelier que dinamiza o evento em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal e a editora Abysmo. “É um privilégio ter a festa em Setúbal.”

João Paulo Cotrim, curador do evento, explicou que esta é uma festa “a dois tempos”, com inaugurações realizadas no primeiro e no segundo fins de semana do certame dinamizado com o objetivo de dinamizar e divulgar projetos e trabalhos na área da ilustração, nas mais variadas formas.  

Além das exposições “Subway Life”, “Desenhos Efémeros” e “A Minha Casa Não Tem Dentro” de António Jorge Gonçalves, na Casa da Cultura, está já patente ao público a mostra “Pintado de Fresco”, na Galeria Municipal do 11, com trabalhos de ilustradores da região de Setúbal.

“Cartazes 2016/17”, de Bráulio Amado, na Casa do Largo – Pousada da Juventude, “Ensemble Sketchbook”, de Zé Minderico, na Casa Bocage, e “Resumo da Matéria Dada”, por Baltazar, no Museu do Trabalho Michel Giacometti, são outras exposições que estão disponíveis ao público desde sábado.

Do leque de inaugurações deste fim de semana fez ainda parte “Fora de Muros”, com ilustrações de reclusos do Estabelecimento Prisional de Setúbal, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, “Coletiva de Ilustradores”, nos Lavadouros de Azeitão, e “É Preciso Contar uma História?”, com ilustrações infantis, na Casa d’Avenida.

“A ideia é encher a cidade de desenhos e de coisas originais”, vincou José Teófilo Duarte.

Para isso, a festa conta com contributos de vários ilustradores contemporâneos, entre os quais Bráulio Amado, cujo trabalho tem dimensão internacional, e Manuel Ribeiro de Pavia, já falecido.

“O Pavia é uma lenda. Uma figura muito particular e uma referência na ilustração neorrealista”, salientou o designer Jorge Silva, da SilvaDesigners, para depois destacar a exposição “Anúncios Classificados (1865-1960)”, a inaugurar no dia 10, no Cais 3 do Porto de Setúbal.

“Apresenta um curioso panorama da publicidade ilustrada do século XX, com anúncios cómicos, bizarros e também irritantes”, adiantou Jorge Silva sobre a exposição que reúne mais de três centenas de trabalhos de grandes ilustradores portugueses. “É uma exposição curiosa pela qualidade e também pela quantidade.”

Também no dia 10 são inauguradas as mostras “Ilustra 33”, igualmente no Cais 3 do Porto de Setúbal, “Mostra da Festa da Ilustração”, no centro comercial Alegro, assim como “Ilustração Portuguesa” e “TPC”, ambas no Museu de Setúbal/Convento de Jesus.

“Vamos ter ilustrações patentes em algumas zonas do Museu de Setúbal/Convento de Jesus que ainda não foram alvo de intervenções de reabilitação”, destacou o vereador Pedro Pina.

A Festa da Ilustração de 2017 conta ainda com o encontro sobre “Ilustração Hoje”, no âmbito do ciclo Muito Cá de casa, dia 9, pelas 22h00, na Sala José Afonso da Casa da Cultura, com a participação de António Jorge Gonçalves, Jorge Silva e João Paulo Cotrim, estando a moderação a cargo de José Teófilo Duarte.

O programa oferece, igualmente, um programa educativo para as crianças, na Casa d’Avenida, com a realização de um conjunto de ateliers e visitas guiadas às exposições, para jardins de infância e escolas do 1.º ciclo. As inscrições podem ser feitas em festailustracao@mun-setubal.pt

“É Preciso Fazer um Desenho?” Sim, e ao mesmo tempo não. “Creio que não é preciso fazer um desenho para despertar o interesse e curiosidade para esta grande festa que durante um mês confere um renovado protagonismo aos desenhos, à ilustração e aos ilustradores”, indicou o vereador Pedro Pina.