“O balanço é extremamente positivo. Tivemos uma grande adesão do público e os concertos de noite completamente esgotados”, sublinhou o diretor-geral do Festival de Música de Setúbal, Luís Liberato, destacando outras vertentes associadas à filosofia desta iniciativa, em concreto a criação musical.

“É gratificante ver e ouvir crianças a criar música e tivemos, inclusive, um concerto de crianças com necessidades especiais. Por outro lado, mostrámos também a perspetiva de Setúbal multicultural. Os objetivos foram cumpridos”, referiu o também diretor do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Setúbal.

Na primeira noite do festival, o grupo La Batalla proporcionou um espetáculo intimista com poesia e música dos séculos XII a XIV protagonizada por trovadores e jograis nas cortes ibéricas, com as célebres cantigas de amigo e de amor.

Constituído por sete elementos, os La Batalla, liderados por Pedro Caldeira Cabral, que construiu alguns dos instrumentos, de cordas, sopro e percussão, fizeram uma recriação daquilo que seriam as sonoridades da criação musical na Idade Média, cantada em galego-português, de acordo com os dados recolhidos pelas práticas da transmissão oral mediterrânica.

O espetáculo “A Música na Corte d’El Rei D. Dinis”, realizado nos claustros do Convento de Jesus, sob um céu estrelado, transportou o público para o universo dos primórdios de Portugal enquanto país, com a elegância musical própria dos grupos de artistas que, por essa Europa fora, animavam a vida dos nobres.

Também no dia 27, realizou-se um desfile e um concerto de alunos e elementos de associações de imigrantes, na Baixa da cidade, evento que celebrou a natureza e a diversidade cultural.

O espetáculo culminou com uma atuação de conjunto de todos os elementos, abrindo oficialmente a primeira edição do Festival de Música de Setúbal, organizado pela Câmara Municipal Setúbal e pela Fundação Helen Hamlyn, com direção artística de Ian Ritchie.

Já no dia 28, numa Igreja de S. Julião completamente esgotada, um concerto com o Coro Gulbenkian revisitou sonoridades musicais interpretadas entre os séculos XVII e XIX em espaços religiosos.

Com direção do maestro Jorge Matta, a primeira parte do espetáculo foi dominada pelos vilancicos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, apresentando peças em várias línguas, por influência das Descobertas e da evangelização portuguesa.

Os instrumentos – a flauta, a sacabuxa, a viola de gamba e o órgão – utilizados por elementos do Coro Gulbenkian sobressaíram na segunda parte do concerto, mais ritmado, com a música sacra brasileira em destaque.

No final, o maestro desafiou o público. Contagiados pelo refrão da última interpretação, os espetadores foram convidados a afinar as cordas vocais e a interagir com o Coro, entoando, em conjunto, a música. Mesmo sem a perfeição exigida, até porque a partitura era difícil de interpretar, a mobilização foi geral e a noite terminou em festa.

O dia 28 foi ainda marcado pela difusão de momentos musicais a cargo dos mais novos. Na parte da manhã, o Salão Nobre dos Paços do Concelho recebeu o espetáculo "Canções do Mundo", com temas tradicionais e contemporâneos, incluindo obras de Heitor Villa-Lobos, interpretados por diferentes grupos do Conservatório Regional de Setúbal.

Já a parte da tarde foi dedicada às "Canções de Setúbal”. O espetáculo, realizado no Auditório da Anunciada, contou com um conjunto de canções tradicionais recolhidas por Maria Adelaide Rosado Pinto e temas originais compostos pelos alunos, apresentados pelos coros de cinco escolas de ensino básico do Concelho, pelo Coral Infantil Luísa Todi, pelo Coral Infantil de Setúbal, pela Tuna de Aranguez e pela Tuna Académica da Luisinha.

No dia 29, além de atuações da banda da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense e do Grupo Coral Alentejano “Amigos do Independente”, à tarde, destaque ainda para o espetáculo “(Re)Descobertas”, ao início da noite, na Quinta das Torres, em Azeitão.

O concerto dirigido e interpretado pelo percussionista azeitonense Pedro Carneiro, acompanhado à voz pela soprano Patricia Rozario e à flauta por Natália Monteiro, percorreu as canções populares portuguesas e tradicionais goesas, bem como J.S. Bach (Alemanha), Takemitsu (Japão) e Gareth Farr (Nova Zelândia). Pedro Carneiro, internacionalmente famoso pelo domínio de instrumentos como a marimba e o vibrafone, terminou com uma performance a solo, em que interpretou, nos timbales, obras do grego Iannis Xenakis.

Sem recurso a amplificação sonora, os músicos ofereceram um espetáculo intimista numa viagem pelas influências musicais que Portugal recebeu e transmitiu ao longo dos séculos.