Os traços do antigo edifício da década de 60, inseparáveis da memória coletiva setubalense, misturam-se, agora, numa simbiose harmoniosa, com elementos estruturais modernos e soluções tecnológicas de vanguarda que permitem uma maior dinamização cultural.

“Devolvemos à população setubalense o mais importante espaço de cultura integralmente renovado e ampliado, mais moderno e confortável”, salientou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, na cerimónia de reabertura do “Luísa Todi”.

A preservação da arquitetura original do imóvel foi uma das principais premissas da obra, mantendo viva a memória de várias gerações e projetando novos públicos.

“O Fórum não podia perder as características mais puras, mais simples e harmoniosas que marcam indelevelmente o traçado do grande passeio público da cidade [Avenida Luísa Todi]” e um “elemento indispensável da paisagem urbana setubalense”, destacou Maria das Dores Meira.

A entrada principal, agora no alçado poente e com acesso direto à sala de espetáculos requalificada, localiza-se junto da bilheteira, com utilização exterior e interior, e de um elevador panorâmico, para acesso ao balcão.

Uma intervenção escultórica alusiva à cantora lírica setubalense, mesmo junto da entrada principal, centra atenções, um elemento que pretende ser uma referência visual com ligação ao edifício e também à cidade.

A escultura, obra bidimensional com 2,80 metros de altura em aço inoxidável, inspira-se numa gravura distribuída ao público presente num espetáculo de Luísa Todi realizado a 10 de fevereiro de 1791, no Teatro di San Samuele, em Veneza, Itália.

Uma zona de estadia, bem próxima da entrada, apela a momentos de convívio antes dos eventos culturais, um arranjo urbanístico circundado por um espelho de água, local que acolheu os convidados da cerimónia oficial de reabertura do Fórum Municipal Luísa Todi, com momentos de animação de rua pelo Teatro do Elefante.

No foyer, com animação musical pela Jazz Class Dámson na noite de dia 15, há espaços de exposição numa das paredes, enquanto, noutra, elementos em ferro formam um fluxo narrativo do percurso da cantora lírica, com informação alusiva a todos os sítios que se renderam à diva setubalense Luísa Todi.

As intervenções escultóricas, da autoria do artista Sérgio Vicente, com um custo total de 35.300 euros, foram doadas à cidade pela Fundação Buehler-Brockhaus, no âmbito de um protocolo de colaboração com a Autarquia.

A zona de cafetaria continua no mesmo local, num desnível sob a entrada da sala, área dotada de instalações sanitárias adaptadas, de uma pequena zona de venda ao público e de um espaço playground, com atividades lúdicas e educativas para crianças durante os eventos.

A sala principal tem 634 lugares disponíveis, 398 na plateia, agora com carpete azul, inclinação de piso mais acentuada e acessos a pessoas com mobilidade reduzida, enquanto o balcão, com 236 cadeiras, é acessível por duas escadas laterais e elevador.

A nova régie está acompanhada de quatro cabinas de tradução, para apoio à realização de eventos internacionais, enquanto o teto, original, foi restaurado e dotado de um sistema de climatização.

O palco cresceu quase dez metros em profundidade e conta com uma área de chão amovível que dá acesso a um subpalco, para outro tipo de soluções cénicas. Na frente foi criado um fosso de orquestra com capacidade para 55 músicos, permitindo uma maior diversidade de espetáculos.

A zona de camarins e salas administrativas, distribuídas ao longo de cinco pisos, foi totalmente recuperada e permitiu criar num novo andar, ocupado por uma sala polivalente para espetáculos de menor dimensão, com vista panorâmica para o Sado e a Arrábida, com uma lotação de sessenta lugares na configuração de café-concerto e 132 em plateia.

A sala polivalente, a que se pode aceder por um elevador interno, inclui um pequeno espaço de café-pastelaria, proporcionando uma utilização diária pela população com o objetivo de aproximar as pessoas do equipamento cultural renovado.

Na fachada norte, a principal do imóvel, onde antes se localizada a entrada, está agora totalmente forrada a pedra, com vitrinas de exposição novas, enquanto no lado nascente foram criadas duas escadas exteriores independentes para saída de emergência. De noite, o contorno luminoso da volumetria do exterior do edifício, anteriormente a néon, mantém viva uma das imagens de marca.

Perante uma sala praticamente lotada, a presidente da Câmara Municipal recordou, na cerimónia de reabertura, o “complexo percurso” da obra de modernização do Fórum Luísa Todi, enaltecendo os esforços e as inúmeras iniciativas conjuntas para a angariação de fundos e os contributos mecenáticos.

Já a presidente da Liga dos Amigos do Fórum Municipal Luísa Todi, Helena Matos, considerou que o esforço “valeu a pena para fazer renascer o Fórum”, até porque “Setúbal está num momento de grande criatividade e dinâmica cultural, de criação e fidelização de novos públicos”.

Além do espaço renovado e qualificado, o Fórum Municipal Luísa Todi “conta com uma gestão artística exigente mas aberta às necessidades da comunidade local”, adiantou Maria das Dores Meira, lançando um repto: “A Autarquia, por si só, terá dificuldades em pôr a andar uma programação mais exigente. É fundamental que existam outros apoios.”

O diretor do Fórum Municipal Luísa Todi, João Pereira Bastos, afirmou que “Setúbal está a avançar para a criação de um centro de artes que verdadeiramente merece”.

Um recital com a soprano Elisabete Matos, artista reconhecida internacionalmente acompanhada pelo pianista Nuno Vieira de Almeida, marcou a reabertura do “Luísa Todi”. No final, foi descerrada uma placa de reconhecimento aos dois artistas.

Entre 21 e 30 de setembro, o Fórum Municipal Luísa Todi acolhe o 28.º Festroia – Festival Internacional de Cinema de Setúbal e, a partir de outubro, um conjunto de iniciativas com várias associações e coletividades locais. Em janeiro de 2013 começam as programações quadrimestrais, com novas regras de utilização.

O projeto “Ampliação e Modernização do Fórum Municipal Luísa Todi”, do Programa ReSet – Regeneração Urbana do Centro Histórico de Setúbal, representa um investimento global de 4 milhões, 279 mil e 461,71 euros, montante comparticipado com uma taxa de 65 por cento por fundos comunitários canalizados através do PORLisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.

“O renovado Luísa Todi, o maior espaço de cultura do Concelho, é a mais importante peça de um conjunto de intervenções municipais na construção e recuperação de equipamentos culturais”, afirmou Maria das Dores Meira, recordando, ainda, a Casa da Cultura, com inauguração marcada para 5 de outubro, e a abertura de um concurso público para a beneficiação do Convento de Jesus.

No dia 16, o Fórum Municipal Luísa Todi esteve de portas abertas à população, às 11h00 e às 15h00, para visitas guiadas às instalações, o que permitiu à população conhecer as principais novidades do equipamento.

À noite, numa sessão gratuita com início às 21h30, foi exibido o filme finlandês “O Vingador”, de Olii Saarela, para maiores de 12 anos, obra cinematográfica cedida e integrada na programação do 28.º Festroia.

Antestreia com “Os Dez Mandamentos”

O renovado Fórum Municipal Luísa Todi reabriu pela primeira vez as portas ao público no dia 14 à noite, numa sessão especial dedicada aos trabalhadores da Câmara Municipal.

“Pelo empenho e pela dedicação” na concretização do ambicioso projeto, Maria das Dores Meira sublinhou que os funcionários da Autarquia “deviam ser os primeiros a ter o privilégio de ver o requalificado Fórum”.

A presidente da Câmara Municipal aproveitou também a antestreia da sala de espetáculos para agradecer “a todos os trabalhadores, que deram o máximo e fizeram o impossível para que este projeto se tornasse uma realidade”.

Na antestreia, que consistiu na exibição, tal como no dia da inauguração em 1960, de “Os Dez Mandamentos”, clássico de Cecil B. DeMille, foram ainda homenageados seis funcionários municipais que dedicaram as carreiras profissionais ao antigo Fórum Luísa Todi.

Numa cerimónia “em família”, como definiu Maria das Dores Meira, a emoção invadiu o palco e a plateia, principalmente com a homenagem a José Duarte Gonçalves, conhecido pelo “Sr. Zé do Fórum”, que, com 82 anos de vida, dedicou 48 a zelar pela sala de espetáculos.

Antes da cerimónia, José Gonçalves confessava receio sobre o momento em que iria subir ao palco para receber o tributo da Autarquia. “Tenho algum medo por causa do coração”, desabafou, instantes antes de entrar pela primeira vez na “bonita” e renovada sala.

A dedicação do “Sr. Zé do Fórum” foi tanta que até a mulher, Maria dos Reis Esteves, igualmente antiga funcionária e homenageada na cerimónia de dia 14, chegou a “ganhar raiva ao Fórum, pois ele [José Gonçalves] trabalhou tanto que quase se esquecia que tinha família. Ele vive com amor a esta sala”.

O serão de dia 14, no qual estiveram presentes, além de Maria das Dores Meira, vereadores da Autarquia, que entregaram lembranças aos trabalhadores homenageados, contou ainda com um moscatel de honra, oferecido a todos os funcionários municipais que compareceram na antestreia.