O Sol é Nosso Amigo Mas Proteja-se - sessão trabalhadores municipais

A saúde e a segurança dos trabalhadores constituem direitos e deveres coletivos e uma prioridade para a Câmara Municipal de Setúbal e para as juntas de freguesia do concelho, garante o presidente do município, André Martins.


O autarca falava na abertura do IV Seminário de Segurança e Saúde no Trabalho, dedicado aos riscos e consequências da exposição aos raios solares, realizado a 28 de abril, no Cinema Charlot – Auditório Municipal, no qual compareceram dezenas de trabalhadores do município que exercem a atividade ao ar livre.

No Dia Nacional da Prevenção e Segurança no Trabalho, André Martins recordou dados de 2021 divulgados pela Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, que dão conta de que “cerca de 400 mortes são anualmente causadas por vários tipos de cancro de pele”, sendo o melanoma considerado o mais grave.

“Dermatologistas portugueses referem que cerca de 90 por cento destas mortes podem ser evitadas, uma vez que resultam de exposição contínua e inadequada.

Face ao elevado número de trabalhadores autárquicos que exercem as suas funções no exterior de forma constante, esta é, naturalmente, uma temática a que atribuímos grande importância”, acrescentou.

Essa foi a razão para “o risco de a exposição solar contínua e inadequada” ser o tema central deste seminário organizado pela autarquia, precisamente numa data que “tem como principal objetivo envolver, sensibilizar e alertar trabalhadores e entidades para a importância das medidas preventivas na eliminação dos acidentes de trabalho e redução das doenças profissionais”, como sublinhou André Martins.

“A saúde e a segurança dos trabalhadores constituem direitos e deveres coletivos e são, para a Câmara Municipal de Setúbal e para as nossas juntas de freguesia, uma prioridade. Esse é o principal motivo que nos leva a assinalar, de novo, esta data junto dos nossos trabalhadores, após dois anos de interrupção”, afirmou.

No seminário foi apresentado o novo projeto municipal “O sol é nosso amigo, mas proteja-se”, uma iniciativa que envolve um conjunto de ações de prevenção e sensibilização a desenvolver ao longo de um ano.

“A nossa segurança e saúde, relembro, depende, acima de tudo, de nós e de quem nos rodeia. Todos, sem exceção ― trabalhadores, chefias, dirigentes e executivo municipal ―, temos um papel essencial na sensibilização, prevenção e cumprimento de normas de segurança. Todos temos um papel central no caminho para um município ainda mais seguro e saudável, onde seja constante o bem-estar físico e mental”, salientou.

André Martins congratulou-se pelo facto de, dois anos depois, ter sido possível voltar a realizar um encontro deste género sem restrições, mas alertou que a pandemia “ainda não acabou” e que cada um deve continuar a ter cuidados de proteção relativamente ao vírus causador da covid-19.

“Nesta pandemia, os trabalhadores do nosso município e das freguesias estiveram sempre na linha da frente, fosse para apoiar quem mais precisava, fosse para manter a cidade e o concelho em funcionamento, porque, como muito bem sabem, a cidade nunca para”, referiu.

Por isso, agradeceu “todo o empenho” que os trabalhadores municipais “demonstraram neste difícil período” e deixou “uma palavra de pesar por todos os que, infelizmente, foram levados pelo vírus da covid-19”.

A chefe da Divisão de Desenvolvimento de Competências do Departamento de Recursos Humanos da Câmara Municipal, Rosária Murça, apresentou o projeto “O sol é nosso amigo, mas proteja-se”, indicando que este ano, além do seminário, já foi feito um trabalho inicial de sensibilização com funcionários que trabalham ao ar livre.

Acrescentou que vão ser colocados dispensadores de protetor solar nos locais de trabalho de quem exerce atividade ao ar livre e anunciou a realização de ações de sensibilização e de rastreio de cancro de pele dirigidas à população trabalhadora da Câmara Municipal, no princípio em maio.

A diretora do Serviço de Dermatologia do Hospital de São Bernardo, Margarida Anes, salientou que “o cancro de pele é um dos efeitos mais graves que a exposição solar abusiva e cumulativa tem na saúde humana” e disse que o melanoma maligno “é dos mais mortíferos se não for diagnosticado precocemente”, apesar de ser “pouco frequente”, com apenas 5 por cento dos casos de cancro cutâneo.

A enfermeira Leonor Pires, do mesmo Serviço de Dermatologia, enumerou alguns cuidados a ter por quem trabalha ao ar livre, nomeadamente a utilização de protetor solar de fator não inferior a 30 – de manhã e com reforço ao almoço –, de chapéu de aba larga, de óculos de sol, de camisa de manga comprida de cor escura e de calça que cubra toda a perna.

Além disso, alertou para a necessidade de se fazer um autoexame cutâneo pelo menos duas vezes por ano e de consultar um médico “o mais rapidamente possível” se forem detetadas lesões suspeitas.

Ao abordar o tema dos efeitos da exposição aos raios ultravioleta nos trabalhadores ao ar livre, Pedro Costa, da empresa Tecniquitel, que colabora com a Câmara Municipal de Setúbal, avisou que a radiação ultravioleta A “atravessa facilmente as nuvens e os vidros”, pelo que quem trabalhe num gabinete envidraçado “está tão exposto quanto um trabalhador ao ar livre”.

Depois de afirmar que a radiação ultravioleta também é refletida pelas superfícies e “não pode ser vista nem sentida”, Pedro Costa salientou que, numa escala que vai até 11, o seu nível médio em Portugal situa-se entre 3 e 6 no período de outubro a abril e entre 9 e 10 de maio a setembro, pelo que “deve usar-se creme de proteção e óculos escuros todo o ano”.

Para salientar a necessidade de os presentes no seminário se protegerem, indicou que o trabalhador ao ar livre está “seis vezes mais sujeito a contrair cancro de pele” do que quem labore num edifício, adiantando que o protetor solar escolhido pela autarquia para colocar nos dispensadores é “um produto para profissionais” com fator 50 e proteção das radiações UV A, B e C, o que não acontece nos cremes comuns.

O médico do trabalho da Câmara Municipal de Setúbal, Joaquim Judas, recordou, por seu lado, que a adaptação do horário de trabalho de quem exerce a atividade ao ar livre “é uma medida de proteção coletiva de grande importância” e já foi adotada pela autarquia, de modo a que estes trabalhadores laborem em “horários menos agressivos”.

A sessão foi encerrada pela vice-presidente da Câmara, Carla Guerreiro, com o pelouro dos Recursos Humanos, que destacou as vantagens da utilização dos equipamentos de proteção individual e da importância desta ação de formação e sensibilização, por ter tratado de coisas que se devem “interiorizar” no dia a dia e nas práticas laborais.

“Vocês fazem um trabalho fundamental e o trabalho nunca pode ser feito à custa da vossa segurança e da vossa saúde”, afirmou, dirigindo-se aos presentes na plateia, depois de garantir que os responsáveis municipais têm uma preocupação diária em “melhorar as condições de trabalho” dos funcionários.

Carla Guerreiro homenageou ainda a memória de Sara Graça, que morreu em fevereiro num acidente de trabalho ao serviço da Câmara Municipal, e por considerar a prevenção “fundamental”, apontou a necessidade de se “trabalhar cada vez melhor, com mais segurança e mais cuidados, para que situações destas não se repitam”.