O relógio ainda não marcava as dez da manhã e as cores do céu ameaçavam queda de chuva e, mesmo assim, eram já muitas as pessoas que esperavam, em pé, a sua vez para avaliar a saúde cardiovascular, ao lado da placa que anuncia “Avaliação Global. Educação para a saúde e rastreio de risco cardiovascular”, colocada na placa central da Avenida Luísa Todi.

“Não tenho problemas de coração. A minha alimentação é boa e faço ginástica. Cuido-me, mas preocupo-me muito”, atira Miquelina Batista, 68 anos, a última da fila.

Já Maria Santos, 85 anos, voluntária do serviço de cardiologia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, assume o gosto em participar neste tipo de iniciativas.

“Tenho medo e pavor do AVC. Vou fazer tudo o que puder fazer aqui. É gratuito, não esperamos muito tempo e temos logo os resultados. Se fosse no hospital, não era assim”, refere.

A iniciativa “7 Dias do Coração”, a decorrer entre os dias 10 e 12, visa sensibilizar a população para modos de vida saudável, como o exercício físico, uma nutrição mais adequada e, acima de tudo, identificar possíveis grupos de risco.

“É importante sairmos dos hospitais e virmos para a comunidade. A ideia é percebermos o estado de saúde da população e também retirar informações que possamos usar em trabalhos científicos”, adianta o médico Rui Caria, diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital São Bernardo.

Nesta iniciativa, os profissionais de saúde procuram identificar, através de um conjunto de rastreios gratuitos, a efetuar entre as 10h00 e as 17h00, vários fatores de risco.

“Cada pessoa faz um registo no início do processo e ao longo do percurso são introduzidos os resultados numa base de dados. No último stand temos a informação geral, avaliamos o grau de risco e as medidas necessárias”, explica Rui Caria.

Neste circuito de saúde, que leva cerca de meia hora a percorrer, são efetuados nove rastreios, que vão da tensão arterial à diabetes, passando pelo registo de eletrocardiograma e rastreio cardiovascular, colesterol, hipocoagulação, doença coronária e insuficiência cardíaca.

A informação e educação para a saúde também está em destaque com a abordagem de questões que envolvem o exercício físico, a nutrição e a obesidade.

“Mais importante do que as pessoas virem aqui é ficaram alerta dos riscos. É terem a ideia de que isto é tão importante que o serviço de cardiologia até sai do hospital e vem para a rua”, frisa Rui Caria.

A iniciativa “7 Dias do Coração”, organizada pela Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do Hospital de São Bernardo, com a colaboração da Câmara Municipal de Setúbal, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da Faculdade de Motricidade Humana, conta já com sete edições.

Segundo os dados de participação neste tipo de rastreios, só no ano passado, durante a mesma iniciativa na Avenida Luísa Todi, fizeram o rastreio entre 300 a 500 pessoas, por dia.

“O público-alvo já varia. Antes, percebíamos que era mais a população idosa quem participava e agora temos vindo a perceber que a população ativa começa a estar mais alerta”, revela o cardiologista Rui Caria.

Juntamente com a ação aberta à comunidade, o evento de prevenção das doenças do coração incluiu uma caminhada solidária e rastreios aos funcionários do Hospital de São Bernardo, ações já realizadas, e rastreios aos colaboradores da Câmara Municipal de Setúbal, dia 17, e do Hospital Ortopédico Sant’lago do Outão, a 24.