Kids Dive Summit Setúbal 2022

Cerca de 80 alunos participaram na manhã do dia 24 de maio no seminário que encerrou, em Setúbal, a edição de 2022 do programa “Kids Dive”, de formação de crianças e jovens na chamada literacia do oceano.


A vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Carla Guerreiro, que tem os pelouros da Educação e do Ambiente, considerou, na abertura do “Kids Dive Summit Setúbal”, que “o ambiente marinho é muito importante” e as crianças e os jovens “devem ser conhecedores” para o poderem preservar.

“Cada vez sabemos mais que é um captador de dióxido de carbono, muito mais do que as árvores que estão na superfície terrestre. No nosso caso, então, que temos este privilégio de ter um estuário, que temos pradarias marinhas imensas e que estão debaixo de água, muitas vezes eles nem sequer sabem a riqueza que temos”, acentuou a autarca, na abertura do encontro, realizado no Cinema Charlot – Auditório Municipal.

A vice-presidente Carla Guerreiro lembrou que o “Kids Dive” é um projeto iniciado em 2021, que no ano inicial teve de ser desenvolvido online devido à pandemia de covid-19 e nesta segunda edição já foi possível realizá-lo presencialmente, “com uma série de atividades direcionadas para a preservação do oceano e do rio”, uma das quais um batismo de mergulho na Piscina das Palmeiras.

“Isto é muito importante, tendo em conta a preservação e a sensibilização que se quer para o tratamento do nosso rio, do nosso estuário, que é um bem maior que temos, mas de uma maneira geral do oceano e da importância que tem no nosso planeta”, sustentou, adiantando que o programa é “só uma ferramenta” para depois os alunos continuarem a trabalhar na matéria.

Neste ano participaram 60 alunos dos 1.º e 2.º ciclos de dois agrupamentos de escolas de Setúbal, Luísa Todi e Sebastião da Gama, mas a vice-presidente da Câmara Municipal admite que há a intenção de “alargar” o programa, “de maneira a que pelo menos todos os agrupamentos pudessem ter uma participação e depois pudessem fazer trabalho e seguimento”.

Além dos agrupamentos envolvidos no “Kids Dive”, no seminário estiveram estudantes do Agrupamento de Escolas Barbosa du Bocage, que também integra o programa “Escola Azul”, no qual aquele projeto está envolvido.

Desde fevereiro, o projeto educativo “Kids Dive”, promotor de conhecimento e sensibilização para a sustentabilidade marinha, dinamizou uma visita de estudo ao Oceanário de Lisboa, workshops, batismos de mergulho e uma visita à zona entre marés da praia de Alpertuche, na Arrábida, onde os alunos descobriram a riqueza e biodiversidade do Parque Marinho Luiz Saldanha.

O projeto, de âmbito nacional, para crianças e jovens dos 8 aos 17 anos, é promovido pelo ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida e pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, em colaboração com várias entidades, incluindo a Câmara Municipal de Setúbal, que financiou as atividades.

O Kids Dive, que fomenta a literacia sobre o oceano, procura alertar para a urgência de proteger o meio marinho e a biodiversidade, promovendo a sustentabilidade e contribuindo para a formação de uma “geração azul” mais participativa.

Em simultâneo, este projeto educativo nacional promove a abertura e o conhecimento do mundo subaquático a crianças e jovens, através de um programa educativo de divulgação de ciência baseado nos princípios de “aprender fazendo” e de “conhecer para preservar”.

Na abertura do seminário, Frederico Almada, biólogo e investigador do MARE-ISPA, lembrou os alunos de que era “muito importante perceberem” que “quase 97 por cento” do território português está sob o mar.

“Não estamos focados apenas na vida marinha. O nosso objetivo é que vocês possam falar sobre a proteção do oceano não apenas nestes dias em que estão connosco, mas durante todo o ano com os vossos professores. O trabalho não acaba connosco, nós estamos a passar o testemunho e o vosso trabalho, como Embaixadores do Oceano, vai ser muito importante”, salientou.

Frederico Almada pediu aos alunos que se sintam “à vontade para ralharem” com um adulto sempre que vejam algum “a fazer alguma coisa que possa prejudicar o planeta” e terminou recordando o lema do “Kids Dive”: “Juntos vamos salvar o oceano.”

Ao falar sobre “A biodiversidade nos mares da Arrábida”, Gonçalo Silva, biólogo e investigador do MARE-ISPA, alertou que “os oceanos estão muito doentes”, devido ao lixo marinho, à sobrepesca, à destruição dos habitats e às alterações climáticas. “Estamos a matar a biodiversidade, estamos a matarmo-nos a nós próprios.”

O cientista disse que “uma das formas de evitar isso é a criação de áreas marinhas protegidas”, com regulação e fiscalização, como acontece com o Parque Marinho Luiz Saldanha, na Arrábida, que é “muito importante” por se situar entre os estuários do Sado e do Tejo e está integrado na Rede Natura 2000.

No parque, há canhões submarinos com muita biodiversidade e já foram descobertas “mais de duas mil espécies de todo o tipo de organismos”, o que faz com que a Arrábida seja considerada a nível europeu “um ‘hotspot’ de biodiversidade”, com destaque para raias e tubarões em risco.

“Depois da criação do parque marinho, existem na Arrábida peixes maiores, maior diversidade de peixes e mais peixes, o que quer dizer que as espécies respondem à proteção”, sublinhou Gonçalo Silva.

O investigador adiantou que têm sido encontrados muitos cetáceos, principalmente baleias comuns e anãs, e tubarões azuis juvenis, antes de tranquilizar as crianças e os jovens quanto às idas à praia. “Eles estão na vida deles e nós na nossa. São pequenos e não se vão aproximar da praia.”

Miguel Correia, biólogo marinho e igualmente investigador do MARE-ISPA, abordou o tema “Cavalos-marinhos: vizinhos inesperados”, afirmando que no estuário do Sado foi identificada “uma população grande” destes peixes, considerando que esta, tal como os golfinhos, é “uma espécie-bandeira” que “ajuda a passar a mensagem de que é necessário proteger os oceanos”.

Responsável pelos inquéritos de avaliação dos objetivos atingidos realizados com os alunos, Tassiana Malzone, bióloga marinha do MARE-ISPA, deu os parabéns aos estudantes de Setúbal que participaram no “Kids Dive”, por terem “um nível de literacia do oceano superior aos de muitas autarquias”, pois percebem que a poluição é “a maior ameaça” para o ambiente marinho.

“Queremos que vocês não só se conectem com o oceano de uma forma diferente, mas que ajam. Vocês ainda compram balões para as festas? Vocês já olham para os rótulos das coisas que compram para ver se têm plástico? Agora a bola está do vosso lado, para mudarem os comportamentos, que é o objetivo final do ‘Kids Dive”, frisou.

No encerramento do seminário, a diretora do Departamento de Educação e Bibliotecas da Câmara Municipal de Setúbal, Celeste Paulino, congratulou-se por a sala de aula se ter mudado para o Cinema Charlot, onde se aprendeu e partilhou “tanta coisa”, e frisou a necessidade de compromisso com ser Embaixador do Oceano, “porque as férias de verão estão aí” e tem de se proteger o meio marinho.

Muito animado com a constante interação com os alunos, principalmente os mais novos, o encontro terminou com alguns a falarem sobre como o projeto “Kids Dive” foi marcante para mudar a forma de pensar e com um grupo de crianças da Escola Básica dos Pinheirinhos a animar a sala com a interpretação de duas canções.