Um grupo de doze alunos do 12.º ano do Curso de Animação Sócio Cultural da Escola Secundária Dom Manuel Martins aguarda, junto da estátua de Bocage, os últimos preparativos de Rita Sales e Marlene Aldeia, do Teatro do Elefante, no penúltimo apeadeiro cultural que serve de partida para experiências e viagens de descobertas inéditas e surpreendentes.

Até às 17h30, todos são convidados a explorar um “guia de recolectores e desmemoriados”, com memórias, coleções, imagens e histórias de antigos viajantes. A viagem é aberta a toda a população, mas os alunos da Dom Manuel Martins são os primeiros a embarcar.

Rita faz uma visita guiada por todos os recantos do apeadeiro, a começar por uma mesa onde está colocado um antigo capacete que convida a viajar de moto e uma caixa de chaves, com cartões em branco associados, no qual cada um “pode escrever um local que gostaria que a chave abrisse”.

Lídia, 21 anos, escreve, calmamente, o que lhe vai na alma em apenas três letras. “Céu” é a palavra que surge no papel, com uma única justificação. “Eu sei que um dia irei para lá e é o que eu gostaria de deixar aqui escrito”.

Noutro recanto, sentada à frente de uma antiga máquina de escrever, Joana, 20 anos, escreve uma frase com rima. “Viajar no tempo… e agora o que escrevo mais?”, pergunta.

Insatisfeita com as ideias que os colegas lhe ditam, acaba por decidir sozinha o resto da frase e, assim, deixa escrito, com o nome da turma assinado por baixo, que “viajar no tempo traz-nos conhecimento”.

Os alunos distribuem-se por cada ponto do apeadeiro do Carapau de Corrida e entretêm-se nas diversas atividades que despertam sensações e revelas novos olhares sobre o mundo, com histórias e memórias, livros, brincadeiras e artigos insólitos prontos a serem descobertos.

Joana sai da máquina de escrever e dirige-se a um dos pontos que atraem mais atenções, uma velha estante de madeira com uma panóplia de objetos dispostos erraticamente, como máquinas fotográficas, binóculos, câmaras de filmar de cartão, globos, espelhos, lupas, molduras e tantas outras peças insólitas.

“Estou curiosa para experimentar aqueles objetos.” E lá segue com os colegas.

A viagem cultural do Carapau de Corrida, com quatro apeadeiros de paragem obrigatória, começou no dia 8, no Parque do Bonfim, com “Mapas e ferramentas para descobrir o mundo”, e prosseguiu no dia seguinte, no Jardim da Algodeia, com “Observação de poemas à luz da lupa”, as duas primeiras sessões do segundo ciclo do projeto artístico que teve a expedição inaugural em julho e agosto.

Rita Sales é a criadora do Carapau de Corrida, que tem como base o improviso e a interpretação de cada participante em relação aos objetos que experimenta e observa. “Nada é igual. Cada experiência é única e surpreendente”, garante.

Depois deste terceiro apeadeiro na Praça de Bocage, intitulado “Guia de recolectores e desmemoriados”, a viagem do Carapau de Corrida culmina amanhã, entre as 10h00 e as 13h00, à beira-rio, com “Manifestos, gritos e outros cantos”, à solta no Parque Urbano de Albarquel.