“Continuamos a trabalhar para preservar a memória coletiva setubalense, recuperando edifícios cuja história se entrelaça com a da nossa cidade e das nossas gentes, que são, no fundo, o essencial da nossa cultura e da nossa génese”, sublinhou a autarca na cerimónia de reabertura do equipamento municipal.

As obras realizadas, nomeadamente a consolidação geral do edifício setecentista, o qual aguarda classificação patrimonial, “dão aos visitantes e aos técnicos municipais melhores e mais dignas condições de trabalho”, num “edifício que está no esplendor de outros tempos”.

“Foi importante termos devolvido este riquíssimo espólio à população”, frisou Maria das Dores Meira, reforçando, ao mesmo tempo, a utilidade das obras para “a criação de novas divisões no edifício e de renovados espaços de exposição museológica”, que podem ser visitados de terça a sexta-feira, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Aos sábados, a Casa do Corpo Santo está aberta das 15h00 às 19h00, sendo que entre 16 de setembro e 31 de maio funciona das 14h00 às 18h00.

Situado na Rua do Corpo Santo, junto da Igreja de Santa Maria, o imóvel, de significativa relevância histórica, arquitetónica e museológica, albergou uma confraria de navegantes, armadores e pescadores de Setúbal, cuja origem remonta ao século XIV.

“Este imóvel, em tempos a sede da Confraria dos Navegantes, Armadores e Pescadores de Setúbal, vê reafirmada também a sua vocação de receber instrumentos da ciência náutica”, sublinhou a autarca setubalense, objetos que “homenageiam as gentes do mar e incentivam à preservação das memórias desta terra de pescadores e armadores”.

As atenções dos visitantes centram-se num conjunto de azulejos, agora recuperados, que forram parte das paredes do pátio da Casa do Corpo Santo e convidam a entrar no novo espaço existente no piso térreo, agora totalmente dedicado à exposição permanente “Instrumentos de Ciência Náutica – Coleção Ireneu Cruz”.

À entrada do novo espaço museológico, duas bitáculas com agulhas de marear servem de aperitivo para a visita a uma coleção composta por mais de centena e meia de artigos doados à Autarquia, a grande maioria pelo próprio Ireneu Cruz, outros, mais recentemente, pela família do falecido médico e colecionador.

Instrumentos de várias épocas e com funções diversas, como bússolas, compassos, faróis de posição, óculos náuticos e um radiogoniómetro portátil estão patentes neste espaço, agora reorganizado por funcionalidade, com textos e legendas escritas na grande maioria pelo próprio Ireneu Cruz, “conhecedor profundo dos instrumentos expostos”, frisou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

Ainda no piso térreo, numa sala anexa, um documento audiovisual faz uma reconstituição em três dimensões da área de Setúbal antes da construção, em 1714, da Casa do Corpo Santo, elaborado, parcialmente, com base nos resultados das escavações arqueológicas realizadas no local.

O religioso habita no primeiro piso do edifício, agora com peças do acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus referentes ao período do Barroco, numa conjugação entre o próprio espaço e as peças de pintura, escultura e ourivesaria, maioritariamente de arte religiosa.

A Sala do Vestíbulo, com um fresco representativo da outrora vida comercial setubalense no teto em caixotão, serve de entrada para a Capela do Corpo Santo, totalmente forrada a talha dourada ao “Estilo Nacional”.

Alvo de delicadas intervenções de manutenção, igualmente lideradas pelos serviços municipais, a capela apresenta, no altar, a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem e outra, bem mais pequena, de Santelmo, também conhecido por S. Pedro Gonçalves ou Corpo Santo, orago da confraria e santo protetor dos náufragos.

Na Sala do Despacho, figuras femininas e anjinhos estão pintados em azulejos azuis e brancos nas paredes, retratando cenas de lazer da aristocracia, como caçadas, e do trabalho do povo. Destaque para uma peça de grandes dimensões colocada naquele espaço, o Cofre do Sepulcro, do século XVIII.

As intervenções lideradas pela Autarquia, incluídas no programa ReSet – Regeneração Urbana do Centro Histórico de Setúbal, representaram um investimento de 180 mil euros, valor comparticipado com fundos comunitários através do PORLisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.

“Desfrutem”, desafiou a presidente da Câmara Municipal, na presença do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Eduardo Brito Henriques. “Espero que os visitantes da Casa do Corpo Santo possam sair daqui mais conhecedores da nossa história e da nossa tradição”, afirmou Maria das Dores Meira.

Os trabalhos incluíram a execução de um sistema de drenagem de águas pluviais em todo o perímetro exterior do edifício, ação fundamental para a obra de recuperação do imóvel, uma vez que permitiu atenuar os níveis de humidade absorvida pelas paredes, contribuindo para a desaceleração da degradação dos revestimentos interiores.     

Trabalhos de conservação e restauro do revestimento azulejar do pátio fizeram também parte desta intervenção, que incluiu ainda o tratamento da tijoleira e dos revestimentos de paredes e a colocação de novo pavimento.

Numa empreitada complementar orçada em 60 mil euros, valor totalmente assumido pela Câmara Municipal de Setúbal, foram realizados trabalhos de recuperação da cobertura do edifício, composta por dois telhados, que se encontravam em avançado estado de degradação, eliminando o problema de infiltrações que afetava o imóvel e que colocava em causa a conservação do património existente.