Depois de, durante a manhã, as atividades terem incluído iniciativas como a sessão solene, com a respetiva imposição de medalhas honoríficas da cidade a várias personalidades, as comemorações do feriado municipal de Setúbal prosseguiram, de tarde, com a reabertura ao público da Casa Bocage.

O espaço museológico municipal beneficiou de trabalhos de requalificação de alguns pontos estruturais do edifício, caso da canalização, recebeu chão novo e viu janelas recuperadas.

A principal novidade da Casa Bocage, edifício onde se atribui o local de nascimento do poeta setubalense, em 1765, é a renovação da exposição permanente do museu.

“Bocage – Polémico. Discutido. Genial.” é o título da nova mostra, que percorre a cronologia bocagiana, começando na própria família do poeta e terminando na forma como foi visto e interpretado mesmo após a morte em 1805, aos 40 anos.

A exposição, complementada com suportes media audiovisuais, inclui um friso cronológico com referência aos principais acontecimentos que marcaram o mundo ao longo da vida de Bocage, permitindo uma melhor apreensão e interpretação das ações e estados de espírito do poeta nas diferentes fases por que passou.

A reabertura da Casa Bocage, que incluiu também a revelação de um painel de azulejos do artista plástico Andreas Stöcklein, contou com a presença de várias individualidades, entre as quais da presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, acompanhada do presidente do Conselho Municipal de Quelimane, Manuel de Araújo.

Na visita guiada à mostra, o presidente do município moçambicano, geminado com Setúbal, partilhou a vontade de contribuir para o aumento da divulgação da obra de Bocage no seu país.

Na visita guiada que se seguiu às restantes áreas da Casa Bocage, a presidente da Câmara de Setúbal revelou que o Centro de Documentação, localizado no primeiro andar e agora decorado com imagens de temática bocagiana, “ainda não está pronto, pois vai levar várias peças alusivas a Bocage”.

A autarca adiantou que o objetivo é fazer daquele espaço “uma espécie de ‘bocagemania’, com a exposição das muitas peças que existem com referências a Bocage”.

Para já, a sala recebeu dois quadros novos, um deles um ensaio de um Bocage a corpo inteiro, da autoria de Júlio Pomar, feito no âmbito da produção dos trabalhos de decoração artística da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos.

Ao lado do Centro de Documentação funciona o Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro, também alvo de beneficiações específicas.

“Está aqui guardada a história moderna de Setúbal. São milhares de fotografias que guardam a memória do concelho. Por isso tem sido desenvolvido um grande esforço para catalogar essas imagens, sendo hoje um acervo que é procurado por todos, incluindo investigadores e até empresários, que precisam de saber alguma coisa sobre a história recente de Setúbal”, sublinhou Maria das Dores Meira.

De regresso ao piso térreo, foi apresentado um painel azulejar oferecido à Câmara Municipal pela Galeria Ratton e pelo artista plástico Andreas Stöcklein e que pode ser apreciado no pátio do edifício.

Tiago Monte Pegado, da Galeria Ratton, explicou que o painel agora patente no pátio da Casa Bocage é um marco importante numa outra intervenção pública recentemente inaugurada pela autarquia, a decoração do Túnel do Quebedo, da autoria de Andreas Stöcklein, juntamente com aquela galeria de arte.

“Foi a partir dele [do painel] que saiu a ideia do mural do túnel do Quebedo”, sumarizou Tiago Monte Pegado.

Coube a José Meco, especialista em arte azulejar, apresentar o percurso profissional do artista plástico alemão Andreas Stöcklein, a viver em Portugal a partir do início dos anos 80 e ligado a Setúbal desde o princípio da carreira artística.

“Stöcklein é um dos artistas que têm estado mais ativos na azulejaria em Portugal. No nosso país estamos tão habituados aos azulejos que muitas vezes nem olhamos para eles. Estrangeiros, como o Andreas, permitem a entrada de visões frescas nesta realidade”, sublinhou José Meco.

Maria das Dores Meira salientou, ainda, o apreço que tem pelo trabalho artístico de Stöcklein e realçou que a Casa Bocage “estava a precisar de uma atualização”, acrescentando que a Câmara Municipal “não abdica do seu património”.

As comemorações do Dia de Bocage e da Cidade contaram, ainda, com a inauguração da exposição coletiva de pintura “Bocage e o Desporto”, da Associação de Artistas Plásticos de Setúbal, patente até dia 22 na Casa da Cultura.

À noite, no Fórum Municipal Luísa Todi, decorreu o primeiro de quatro concertos da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que, conduzida pelo maestro Pedro Amaral, se estreia na interpretação completa de todas as sinfonias de Beethoven.

O espetáculo assinalou o desfecho oficial das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, com início em setembro de 2015.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, numa intervenção antes do concerto, sublinhou “o sentimento de grande alegria e de imperioso dever cumprido por se ter conseguido evocar da forma mais digna, ampla e diversa a obra de Manuel Maria Barbosa du Bocage”.

Maria das Dores Meira frisou que, sem as comemorações que agora terminam e que decorreram ao longo de um ano, “teria sido um evidente desperdício não permitir perpetuar-se devidamente a memória de Bocage, confirmando duradouro futuro ao contributo da sua obra literária, principalmente para a glória da poesia portuguesa”.

Apesar do desfecho oficial das comemorações, o programa prolonga-se com atividades pontuais até 21 de dezembro.