“Temos de olhar para o território como um suporte determinante para o sucesso de uma estratégia urbanística integrada”, sublinhou a presidente da Autarquia, Maria das Dores Meira, no lançamento da conferência, integrada nas comemorações dos 154 anos de elevação de Setúbal a cidade.

A forma como a cidade de Setúbal se desenvolveu e as políticas urbanas adotadas no âmbito da revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) foram temáticas transversais a todo o encontro, realizado no Salão Nobre, com a participação de um painel de especialistas ligados ao urbanismo.

“Este é o preciso contexto no qual enfatizamos a importância que a Autarquia confere à qualidade dos projetos de arquitetura que assume como essenciais para a afirmação da qualidade urbana da cidade”, destacou a autarca na conferência “Elevação de Setúbal a Cidade, estratégia urbana e novos projetos”, ao afirmar que a política municipal não foca exclusivamente a esfera urbanística.

Maria das Dores Meira acentuou que para haver “mais cidade” é necessário apostar noutras áreas além do urbanismo, sobretudo aquelas que não dependem diretamente da ação municipal. “Precisamos de mais e melhor atividade económica, de mais e melhor educação, de mais e melhor saúde.”

A conferência, integrada no âmbito das comemorações da elevação de Setúbal a cidade, efeméride assinalada a 19 de abril, realizou-se nas vésperas dos 40 anos da Revolução do Cravos. “Numa festejamos esta cidade, na outra celebramos a liberdade conquistada e o exercício da cidadania”, assinalou a edil.

“Sem Abril não tínhamos hoje o poder local democrático a apresentar a sua estratégia urbanística para Setúbal, não havia discussão pública nem teríamos a participação da população sobre o modelo de desenvolvimento que queremos para a nossa cidade”, reforçou Maria das Dores Meira.

O modelo de crescimento que está na génese do desenvolvimento urbano de Setúbal, os principais marcos de evolução da cidade e a filosofia adotada para o futuro do território foram temas aflorados na intervenção do arquiteto Fernando Travassos, do Urbanismo da Câmara Municipal.

As políticas e os planos de gestão territorial definidos para Setúbal, com o intuito de otimizar e retificar aspetos da evolução urbanística, devem centrar-se na “desfragmentação da cidade, numa melhor articulação entre os vários equipamentos e no preenchimento de vazios urbanos”, frisou Fernando Travassos.

As novas estratégias passam pelo “reforço e reabilitação do centro histórico, pelo preenchimento de espaços vazios através da reurbanização e de uma articulação urbana funcional”, salientou Fernando Travassos, ao acrescentar que é imperativo “não crescer acima dos limites fragmentados da cidade”.

O Parque de Ciência e Tecnologia e a Cidade Desportiva, indicados no Plano de Pormenor do Vale da Rosa, bem como a criação de centros de micrologística e de indústria ligeira, inscritos no Estudo Urbanístico do Monte Belo Norte e de Poçoilos foram propostas de ocupação evidenciadas.

A obra do Alegro Setúbal e a criação do Parque Urbano da Várzea, ambos no âmbito do Plano de Urbanização da Entrada Norte de Setúbal, são outros investimentos catalisadores destacados na conferência, a par da revitalização do centro histórico, através das ARU – Área de Reabilitação Urbana de Setúbal e Azeitão.

Na frente ribeirinha, além do Terminal 7, da nova Biblioteca Pública Municipal de Setúbal e de outras intervenções já concretizadas, nomeadamente o Parque Urbano de Albarquel e a Praia da Saúde, está em agenda a criação de uma plataforma intermodal e de uma marina.

“São projetos-âncora, de excelência para a cidade e decisivos para o futuro do território”, concluiu Fernando Travassos, ao aludir a outras obras estruturantes, como o Fórum Municipal Luísa Todi, a Casa da Cultura e a Casa da Baía, já concluídas, e a recuperação do Convento de Jesus, em curso.

Para melhor compreender aquelas necessidades urbanísticas, o orador dissertou sobre quatro períodos marcantes na evolução do território ao longo de 154 anos, desde a elevação de Setúbal à categoria de cidade, num conjunto de opções que conduziram aos tempos atuais.

Entre 1860 e 1930, a estrutura urbana da cidade era delimitada pelo rio Sado e centrada no interior das muralhas. Nestes 70 anos, registam-se alguns investimentos significativos, como a criação da Avenida Luísa Todi, estruturante na cidade, bem como a implementação das unidades industriais da Sapec e da Secil.

A estagnação económica da cidade e o investimento nas obras públicas marcaram o período entre 1930 e 1960, no qual se destaca a construção do Liceu Nacional, da Escola Comercial e Industrial, do Parque do Bonfim e do Hospital de S. Bernardo, bem como o início da criação do Estádio do Bonfim.

Os anos entre 1960 e 1974, naquele que é considerado o grande boom de Setúbal, são destacados pela industrialização da Mitrena, a nascente, e pela expansão da cidade a norte, área na qual nascem vários bairros habitacionais e que ainda hoje são uma referência no território.

Já o período após 1974 até à atualidade corresponde à instauração da democracia e implementação de vários serviços do setor terciário na cidade. Destaque, igualmente, para a criação, neste período de tempo, da maior parte das infraestruturas básicas existentes em Setúbal.

Na conferência, além de uma abordagem às intervenções em curso e obras já realizadas, foram apresentados em pormenor dois dos novos projetos na agenda do desenvolvimento da cidade, a nova Biblioteca Pública Municipal de Setúbal e Terminal 7.

Estruturante na relação urbana do centro histórico com a frente ribeirinha, o projeto de conceção da futura biblioteca, da autoria dos arquitetos Jordana Tomé, Vitor Quaresma e Filipe Oliveira, foi selecionado entre mais de uma centena de propostas apresentadas no âmbito de um concurso público aberto pela Câmara Municipal de Setúbal.

O projeto, que materializa um investimento máximo de 3,2 milhões de euros, visa a construção de um edifício parcialmente suspenso, com três pisos, cuja abertura da fachada, com vidros amplos no alçado norte, dilui as fronteiras do interior do edifício para o exterior do Largo José Afonso.

O equipamento inclui uma cafetaria, uma sala multiusos e zona de receção no andar térreo, salas de leitura das secções de adultos e infantil e áreas de arquivo no primeiro piso e salas de leitura e espaços administrativos no último andar. Já no exterior é construído uma área de estacionamento, com características polivalentes.

O Terminal 7, o outro projeto apresentado, pretende afirmar-se como o elemento primordial de união entre a Arrábida, o Sado e a cidade, e constitui a última fase de uma intervenção de reabilitação global que a Câmara Municipal de Setúbal está a realizar na zona poente da frente ribeirinha.

A proposta de ocupação do equipamento projetado pela Sami Arquitetos, apresentado por Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira, inclui a criação de uma ampla zona de estadia e recreio, projetada para iniciativas diversas, numa ponte entre a Praia da Saúde e o Parque Urbano de Albarquel.

Duas lajes edificadas em betão armado estão na base da construção proposta para o edifício, com linhas simples e cosmopolitas, que pretende aproveitar o máximo de visualização do cenário paisagístico envolvente através de grandes janelas de vidro, que não quebra a ligação entre os utilizadores e o corredor ribeirinho.

Um centro de apoio para atividades náuticas que engloba ações de formação, uma componente de mergulho que aproveita as potencialidades subaquáticas da orla marítima setubalense, um espaço para exposições polivalente e um centro interpretativo e didático integram, igualmente, o futuro equipamento.

Zonas de restauração, com um restaurante no primeiro andar e um café no piso térreo, um espaço comercial, balneários e áreas técnicas e administrativas fazem também parte do Terminal 7, projeto que contempla a reabilitação do pontão ali existente, no qual será criada uma área de passeio e de estadia.