O encontro, promovido pelo NPISA – Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo, entidade criada em 2010, no âmbito da Estratégia Nacional para a Integração do Sem-Abrigo, reuniu técnicos de várias instituições locais e nacionais.

O presidente da Cáritas Diocesana, Eugénio Fonseca, lembrou na sessão de abertura do workshop “Pessoas Sem-Abrigo em Setúbal, Tecer a Mudança” como há 20 anos, numa época em que a “casa temporária de acolhimento eram os calabouços da Polícia”, foi elaborado o primeiro levantamento do número de sem-abrigo em Setúbal, uma proposta de duas jovens estudantes.

“Foi uma lição extraordinária de vida”, contou o dirigente da Cáritas, entidade coordenadora do NPISA, ao recordar os “locais impensáveis” por onde andou, durante várias noites, com as estudantes e um polícia à paisana.

Depois de o levantamento estar feito, as duas jovens lançaram o desafio à Cáritas de irem para o terreno distribuir alimentos e roupas.

Passadas duas dezenas de anos, uma das imagens que Eugénio Fonseca retém, de uma dessas noites, é a de uma mãe a prostituir-se em frente do filho de 7 anos, “que ali estava sentado numa caixa de fruta”.

Não esquece também as palavras do então bispo de Setúbal, D. Manuel Martins: “O que estamos a fazer esta noite temos de o fazer todos os dias.”

Por isso, considera que o “aparecimento da estratégia nacional para a integração do sem-abrigo é um bom passo” e que o NPISA está “no bom caminho”. Ferramentas essenciais para o que ainda está para vir: “Receio que o atual contexto do País venha trazer mais gente para a rua.”

Ainda na sessão de abertura, moderada por Isabel Monteiro, coordenadora do NPISA e membro da Cáritas Diocesana, a vereadora Carla Guerreiro, da Câmara Municipal, salientou que esta união de esforços de intervenção para os sem-abrigo “só faz sentido com a colaboração de todas as instituições que operam”.

De salientar que muitas entidades integram o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo, como o Agrupamento dos Centros de Saúde de Setúbal e Palmela, a Associação CASA – Delegações de Setúbal e Azeitão, a Câmara Municipal de Setúbal, a Cáritas Diocesana de Setúbal, o Centro Hospitalar de Setúbal e a Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Setúbal.

As outras instituições que fazem parte do NPISA são Direção-Geral de Reinserção Social – Equipa de Setúbal 1, IEFP – Centro de Emprego de Setúbal, Instituto da Droga e da Toxicodependência, Instituto da Segurança Social, IP – Centro Distrital de Setúbal, Polícia de Segurança Pública e Rede Europeia AntiPobreza/Portugal.

Carla Guerreiro lembrou que, com os números crescentes de famílias desempregadas, é fácil cair em situação de sem-abrigo. “São uma franja da sociedade completamente excluída”, prosseguiu a vereadora, reforçando a disponibilidade da Autarquia na continuação do projeto NPISA.

Uma das entidades presentes no workshop foi o Centro Distrital de Setúbal da Segurança Social, que apresentou a Estratégia Nacional para a Integração do Sem-Abrigo, que tem como período de implementação os anos de 2009 a 2015.

“Surgiu a partir da consciência que tínhamos um problema e que não tínhamos bases para o resolver”, referiu Sílvia Lopes, indicando a urgência do conhecimento do fenómeno dos sem-abrigo – sem teto e sem casa –, uniformizado a todas entidades nacionais e europeias.

Depois de divulgada a estratégia nacional, seguiu-se a apresentação do NPISA. Num registo mais técnico, a parte da tarde do workshop, foi dedicada, sobretudo, aos instrumentos de trabalho, o papel do gestor de caso e a circulação da informação entre as instituições parceiras.

A finalizar, os mais de 60 participantes exercitaram os conhecimentos a partir de um caso prático no procedimento em situações de sem-abrigo, do primeiro contacto ao acompanhamento pós-emergência.