Passados 483 anos da abertura dos Paços do Concelho, em 1533, a história do edifício, que registou ao longo dos séculos ampliações, remodelações e uma reconstrução devido a um incêndio em 1910 na sequência da implantação da República, reabrindo em 1938, conhece agora um novo capítulo.
Pintado de roxo, cor do município, a casa-mãe da Câmara Municipal de Setúbal beneficiou de trabalhos de valorização, no sentido de se abrir mais ao usufruto da população, para assumir características museológicas.
Os setubalenses e os visitantes são, por isso, os principais beneficiários desta intervenção no edifício, que se caracteriza, maioritariamente, pela renovação de mobiliário e da decoração e pela instalação de peças artísticas.
“Este é o monumento máximo da dignidade da cidade. É a casa de todos”, salientou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, na apresentação pública da reabilitação dos Paços do Concelho, com a presença de mais de uma centena de pessoas, ato iniciado com um espetáculo de saxofone por Abel Jacinto Zambujo.
No exterior, muitos dos participantes na cerimónia, integrada nas Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, aproveitaram para admirar e fotografar a obra dos Paços dos Concelho.
“Setúbal não é uma cidade de património monumental, por isso decidimos transformar o que temos em monumentos. Os setubalenses têm direito a isso”, salientou a autarca. “Este é um espaço onde se podem sentir bem.”
Na abertura da apresentação pública do renovado edifício, a presidente da autarquia, ladeada dos outros membros do Executivo municipal, reforçou a ideia de que “não foi feito nenhum novo edifício, apenas foi requalificado o património edificado”.
Com este propósito, bastaram apenas dois meses para o centro histórico de Setúbal ganhar mais cor, numa intervenção assinada por João Maria.
O decorador aproveitou peças do espólio o Museu de Setúbal/Convento de Jesus, para recuperar grande quantidade de mobiliário, como cadeiras, mesas e canapés que agora equipam os Paços do Concelho.
Pinturas, restauros e tratamento de madeiras foram algumas das ações englobadas na obra de requalificação que capacitou os Paços do Concelho para acolher um conjunto mais alargado de eventos e iniciativas.
As novidades incluem a possibilidade de visitar o edifício ao fim de semana, assim como alugar o espaço para atos solenes, como casamentos e renovação de votos.
“Será possível trazer as pessoas aos Paços do Concelho e, consequentemente, gerar mais receita”, sublinhou Maria das Dores Meira, esclarecendo que a obra resultou da intervenção direta da autarquia, com a necessidade de recorrer apenas a pequenas prestações de serviços para trabalhos mais específicos. “Vemos este tipo de intervenções como um investimento, não uma despesa.”
No átrio, é possível viajar pelo passado. Cinquenta e uma placas douradas inscrevem o nome de todos os presidentes da Câmara Municipal de Setúbal, perpetuando a memória “às gerações vindouras”.
Outra das novidades deste espaço é a reunião sedutora entre os dois candeeiros que iluminam as escadas de acesso ao piso superior, o papel de parede em tons de vermelho e bordeaux, o rosa e o lilás dos arranjos florais, o teto branco e bege e os espelhos, que revestem quer as paredes, quer a zona da escadaria.
A par dos espelhos, o vidro marca presença no exterior, agora também nas portas que ladeiam a entrada, com um texto sobre a história do edifício.
Três painéis de óleo sobre platex, de grandes dimensões, do pintor Luciano dos Santos, autor do Tríptico dos Setubalenses Ilustres, patente no Salão Nobre, estão patentes no piso térreo do edifício.
Datados de 1960, os painéis figurativos alusivos “à política e à justiça”, “aos Descobrimentos” e “à religião e às artes da poesia e da música ou à retórica” são exemplos de peças provenientes do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.
Subindo a escadaria, o público presente na cerimónia de dia 14 à noite, acompanhado de Bocage, na pele do ator José Nobre, centrou as atenções num vaso chinês de bronze, antigo queimador de incenso de templo budista, doado à Câmara Municipal de Setúbal.
No primeiro piso, três pinturas que retratam Bocage substituíram um painel de azulejos, que passa a integrar o novo projeto museológico, dedicado à vida e obra do poeta na Casa de Bocage, outro dos equipamentos municipais alvo de intervenções de beneficiação, com inauguração marcada para dia 15, as 15h00.
Este espaço é ainda complementado com 16 fotografias de Américo Ribeiro. O Salão Nobre também foi intervencionado, com a recuperação dos candeeiros, em folha de ouro, enquanto a varanda, com vista para a Baixa, recebeu cadeiras e mesas de apoio.
As alterações incluíram ainda a requalificação ambiental do próprio edifício, dotado de novos sistemas de iluminação LED, no interior e no exterior.
No exterior, vasos acompanham a nova cor da fachada. As âncoras que decoravam a entrada do edifício serão colocadas numa futura rotunda a construir na cidade.
A requalificação contempla ainda, no final deste ano ou no início do próximo, o levantamento do telhado para recuperação geral da cobertura, no âmbito de uma candidatura a fundos comunitários, num investimento de 200 mil euros.
A intervenção prevê o aproveitamento de um imóvel localizado na lateral esquerda dos Paços do Concelho, para colocação de alguns dos serviços do Arquivo Municipal, com os dois edifícios a ficarem ligados por uma passagem envidraçada.
“No sótão dos Paços do Concelho encontra-se um grande património documental, assim como o serviço pedagógico do arquivo e também uma sala de refeições”, explicou a presidente da autarquia. “Aguardamos agora a aprovação do projeto, que irá permitir reformular todo o arquivo.”
A apresentação pública da reabilitação dos Paços do Concelho contou ainda com um beberete, acompanhado de bolo comemorativo, confecionado por Filipe Blanquet.
