Um ténue foco de luz desvendou Paulo Furtado à chegada ao palco da principal sala de espetáculos da cidade. Apresentou-se, como sempre, de fato e óculos escuros. Os primeiros acordes de guitarra, para “Wild Beast”, uma das novas composições, levaram à primeira ovação da noite.

Ainda o público aplaudia a primeira música de “True” e surge “Do Come Home”. Acústico e intimista, o tema de lançamento do novo álbum do “homem-tigre” repartiu a atenção do público entre o som da guitarra e o videoclip oficial, filmado a preto e branco, ao estilo clássico da sétima arte.

Ao terceiro tema, o primeiro desafio. O músico português, já a partilhar o palco com Paulo Segadães, na bateria e em segundas vozes, lançou o repto para a audiência se levantar e aproximar do palco. É como Paulo Furtado se sente mais confortável. O público, porém, não lhe fez a vontade.

Seguiram-se mais músicas de “True”, intercaladas com outros temas do já longo percurso musical de The Legendary Tigerman, sobretudo de “Naked Blues” e “Femina”. Pelo meio, nova incitação. “Vá lá pessoal, venham até aqui. Até se podem deitar no palco.” Mas o público estava reticente.

As vozes de Lisa Kekaula e Maria de Medeiros, mulheres de “Femina”, também marcaram presença no Fórum Municipal Luísa Todi, num dueto virtual que proporcionou “The Saddest Thing to Say” e “These Boots are Made for Walking”, este último um tema original de Lee Hazlewood.

À terceira foi de vez. As luzes baixas desinibiram os espetadores, que, após mais um pedido, acederam finalmente à vontade do artista e abraçaram-no à boca do palco. “Agora sim, vamos dançar”, lançou, para acelerar o espetáculo ao ritmo tresloucado de “Bad Luck Rhythm 'N' Blues Machine” e “Walkin'Downtown”.

Pelo meio, uma revelação, com Paulo Furtado a interpretar “A Lifetime of Your True Love”, um inédito que não consta no mais recente trabalho. “Escrevi este tema para o último disco mas, num momento de loucura [risos], resolvi não o incluir em True. Nem sei porquê”, partilhou The Legendary Tigerman.

Cada música fala sobre uma história. Paulo Furtado fez questão de as explicar todas, mesmo que resumidamente, como o fez com “Love Ride”, um dos temas do último e quinto álbum de originais. “Esta é uma música que fala sobre andar de carro e fazer amor… e é tão bom”, soltou, com o público a partilhar, de imediato, a opinião.

As quase duas horas de concerto culminaram com “21st Century Rock’n Roll”, uma descarga eletrizante de decibéis que fez vibrar o Luísa Todi. Aos acordes vigorosos, as pernas do “homem-tigre” respondiam numa dança de espasmos enquanto a voz, soltava, simplesmente, “rock’n’roll!”.

A guitarra já saltara borda fora, atirada para um canto do palco, depois de expelir toda a eletricidade possível, e o público dançava quando Paulo Furtado, uma e outra vez, gritava o mesmo grito de guerra. Virava o microfone para o público, em intervalos irregulares, para que as suas vozes fossem ampliadas.

Galgou, agilmente, para cima da bateria com que Paulo Segadães o acompanhava para repetir, freneticamente, “rock’n’roll”. Saltou e caiu de joelhos junto do público. O lendário “homem-tigre” rendeu-se aos setubalenses, mas, no fim, foi a audiência que acabou domada ao som de Paulo Furtado.

Antes da despedida do palco do Fórum Municipal Luísa Todi, tempo para um encore. Duas músicas, uma mais especial. “Parece-me bem acabar com esta”, disse, momentos antes de interpretar “Life Ain’t Enough for You”, na companhia virtual de Asia Argento. E um concerto de The Legendary Tigerman nunca é suficiente.