Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia | ata CMS

O sagrado e o profano unem-se nas seculares celebrações das Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, que decorrem em Setúbal sempre no mês de agosto, porém, em dias diferentes a cada ano, já que o evento é realizado de acordo com o que ditam as marés.


Estas festividades, eminentemente provenientes das comunidades piscatórias locais e tal como historicamente se pode comprovar, decorrem este ano entre os dias 10 e 15, desta feita num modelo pré-pandémico e com um programa que abarca procissões, missas e o transporte da santa padroeira a unir a duas margens do Sado. Isto depois da habitual passagem por Troia, encerrando-se as comemorações com a atribuição de prémios aos barcos engalanados, havendo, por fim, momentos musicais e festividades com comes e bebes.

Quanto à historicidade das Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, é apontado por Nuno Soares, técnico do Arquivo Municipal de Setúbal e autor de uma dissertação académica realizada sobre esta temática, que “os primeiros registos datados destas festividades remontam aos finais do século XVI sendo associadas à Capela de Nossa Senhora de Troia, na Caldeira de Troia”, de acordo com os textos produzidos pelo Frei Agostinho de Santa Maria. Já, em 1707, o mesmo clérigo, no registo “Santuário Mariano” descreve Troia como uma povoação antiga que alberga uma imagem que recebia a devoção dos moradores setubalenses. Neste mesmo documento aparece, pela primeira vez, a menção a uma festa realizada a 15 de agosto. À altura destes acontecimentos Troia pertencia ao concelho de Setúbal, estando sob a responsabilidade do pároco de São Sebastião. Ainda, neste documento, é referido que a imagem constante na capela era motivadora da realização de duas festas anuais, ambas em agosto, sendo uma delas promovida e participada por camponeses, enquanto a outra era exclusivamente dirigida por marítimos setubalenses, sendo realizadas em alturas diferentes do ano.

Na centralidade destas celebrações está a devoção das populações, nomeadamente as marítimas, fazendo-se deste evento um momento de prece, mas também para se pedir à santa proteção divina, saúde e boas fainas durante o ano, promovendo-se igualmente o bem-estar social. “As festividades são igualmente acompanhadas de um estreitar de laços promovendo-se um sentido comunitário de entreajuda entre os residentes de Setúbal, tanto entre marítimos como também com as restantes populações”, explica Nuno Soares, já que há gente que não estando ligada ao mar tem ainda assim devoção por Nossa Senhora do Rosário de Troia.

São várias as teorias e ideias sobre o surgimento deste culto. Num relato é referido que surge por iniciativa de um abastado armador setubalense que teria relatado que sentiu ter sido salvado de um naufrágio pela intervenção da santa. Já no jornal “O Setubalense”, na edição de 3 de agosto de 2018, refere-se que reza a lenda que a imagem da Nossa Senhora foi encontrada enrolada na areia em Troia por um pescador, que, conjuntamente com os seus camaradas construiu uma capela para ali se lhe poder prestar homenagem. Quanto ao aparecimento da imagem na praia, no século XVI, explica Nuno Soares, ter-se-á devido a algum fenómeno climático que a colocou naquelas margens do Rio Sado. Já na edição do jornal “Setúbal Mais”, de 22 de agosto de 2019, é referido que a adesão ao culto a esta santa teria resultado de um episódico naufrágio que obrigou os marítimos a abrigar-se em Troia e que assim escaparam com vida. Ao fazê-lo encontraram uma imagem de madeira nas margens, alegadamente proveniente de uma embarcação estrangeira, o que os fez acreditar que foram salvos pela santa. Disto resultou a construção de uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário de Troia, edificada no século XVI.

Quanto à comissão organizadora das Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, que se mantém ainda em atividade, foi inicialmente composta exclusivamente por pescadores varinos e constituída em 1948, prometendo-se continuidade nestas festividades seculares e tão enraizadas na cultura local sadina.

O documento ilustrativo, que incorpora o vasto espólio do Arquivo Municipal de Setúbal, é o anexo de uma deliberação que dá conta da atribuição de uma medalha de honra à comissão de festas, tendo isto sido aprovado na reunião da Câmara Municipal de Setúbal de 11 de setembro de 2001.