“Juntamente com a plataforma intermodal e o terminal de cruzeiros, a marina será um projeto muito significante na requalificação da frente ribeirinha”, sublinhou Vasco Raminhas, técnico da Câmara Municipal que integra o grupo de trabalho conjunto da Autarquia e da APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra que desde 2013 avalia uma estratégia de desenvolvimento para a frente ribeirinha de Setúbal.

A apresentação fez parte do último painel do I Seminário Internacional Cidades Portuárias e a Relação Porto-Cidade “A Náutica de Recreio e o Turismo Náutico”, que decorreu ao longo do dia 26 no Fórum Municipal Luísa Todi.

Na última mesa redonda do encontro, organizado pela APSS e pela Câmara Municipal no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Mar, Vasco Raminhas, da Autarquia, e Ernesto Carneiro, da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, fizeram a apresentação “A Marina de Setúbal: o Projeto, a Dinamização das Atividades Náuticas e a Valorização Urbana”.

A equipa que ambos os técnicos integram elaborou um estudo técnico em que a doca de recreio do Clube Naval Setubalense, localizada no centro da frente ribeirinha de Setúbal, é a “solução que reúne maior consenso pelo grupo de trabalho”, adiantou Vasco Raminhas.

De entre os cenários possíveis para esta localização, o estudo indica que, com o aproveitamento das infraestruturas existentes sem intervenções de grandes dimensões em termos de engenharia, o canal atual possibilita a criação de uma marina com lotação para 468 embarcações. Numa opção por uma intervenção de maior complexidade estrutural, com o alargamento do canal, o que implica um investimento mais avultado, a marina terá capacidade para mais duas centenas de embarcações.

Uma das grandes vantagens da localização sugerida para a marina é, a par da centralidade, o potencial que representa para a valorização urbana de Setúbal, com vários equipamentos culturais, turísticos e de lazer a servirem diretamente de polos atrativos e de captação de potenciais clientes da futura marina.

O grupo de trabalho da Câmara Municipal e da APSS está agora a desenvolver um dossier comercial, com o apoio do Instituto de Dinâmica do Espaço da Universidade Nova de Lisboa e da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, para apresentação a potenciais investidores.

O documento vai ter como base a definição de Setúbal como destino turístico, um estudo de mercado sobre a náutica de recreio, incluindo modelos de gestão e de negócio associados à construção e exploração de infraestruturas da marina, e um estudo prévio de viabilidade económica do futuro equipamento.

À apresentação de Vasco Raminhas e de Ernesto Carneiro seguiu-se um período de debate, moderado pelo jornalista Raúl Tavares, com a participação de responsáveis de áreas de interesse na náutica de recreio.

Entre vários elementos-chave para o êxito da futura infraestrutura náutica de Setúbal, Tiago Marcelino, diretor da marina de Troia, sublinhou a “localização, localização e localização!”, para quem a marina de Setúbal “nunca será uma concorrente [de Troia], tratando-se sempre de projetos que se vão complementar, até porque quem escolhe uma marina o faz pela localização”.

Vasconcelos Dias, administrador da Lindley, empresa de construção de equipamentos de marinas, salientou que um projeto como este será ótimo para a cidade, mas alertou a importância de se “envolver vários parceiros locais no desenvolvimento de uma marina, algo que tem de ser pensado a 30 ou 40 anos” e não para cumprir objetivos unicamente no presente.

Já Maria João Carmo, diretora da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, acrescentou que a marina é o caso, “mais do que evidente, de que é um projeto de que faz falta”, reforçando ainda ser vital o envolvimento nas análises de estudo de todos os agentes que desenvolvam atividade na frente ribeirinha.

Hugo O’Neill, presidente do Clube Naval Setubalense, comungando uma perspetiva já adiantada por Tiago Marcelino, é da opinião de que “a procura interna nunca será suficiente para justificar o investimento”, sendo preciso, acrescentou, “que Setúbal seja colocada na rota internacional como um centro náutico”.

Pedro Vale, da Boatcenter, também deixou algumas reservas sobre a futura gestão do projeto. “É preciso cuidado. A marina é importante. Disso não há dúvidas. Mas é fundamental que não aconteça o mesmo que em Cascais, onde foi desejada durante anos e anos e depois começou mal, e que não aconteça o mesmo que no Parque das Nações, que passados quatro ou cinco anos estava aterrada.”

O administrador da Boatcenter, empresa orientada para a náutica de recreio e que, em contraciclo com a crise, conseguiu aumentar o volume de negócios, adiantou ainda que “o mercado interno não está morto, apenas adormecido. O que é preciso é incutir o gosto da náutica de recreio nas pessoas”.

A sessão de encerramento do seminário internacional ficou a cargo do diretor-geral da Política do Mar, comandante João Fonseca Ribeiro, que alertou que “no plano teórico as visões podem bater certo, mas os portugueses sempre tiveram dificuldades em colocá-las em prática”.

O responsável frisou, todavia, que o “urbanismo azul [frentes ribeirinhas] tem um espaço de afirmação” no futuro das cidades e que o desenvolvimento da náutica de recreio “deve centrar-se na valorização dos recursos endógenos dos locais”.

Antes da intervenção de João Fonseca Ribeiro, o extreme kitesurfer Francisco Lufinha fez uma breve apresentação da aventura que o levou a bater, há um ano, o recorde do mundo da maior distância percorrida em kitesurf sem paragens.