O espaço museológico dedicado a José Miguel da Fonseca, falecido recentemente, inclui três secções distintas. Uma com a coleção de pintura naÏŠf, outra dedicada ao culto da vaca e do touro através do olhar do artista e a terceira com base num estudo documental realizado pela mulher, a investigadora francesa Noëlle Perez Christiaens, sobre as diferentes formas de transporte e descargas marítimas no mundo.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, presente na inauguração, enalteceu a iniciativa cultural que destaca “a vida de um setubalense humilde e complexo”, numa homenagem que simboliza, “acima de tudo, uma bela e extraordinária história de amor”.

A autarca sublinhou que José Miguel da Fonseca, através da “pintura naïf, construiu recordações de gentes e terras, de histórias e sentimentos”. Destacou, igualmente, a importância do espaço museológico que une Setúbal e Ferrara, o qual permite manter viva a memória de um setubalense.

O museu etnográfico, que conta a história de José Miguel da Fonseca e que promove a memória e identidade setubalenses, inclui também imagens fotográficas de Setúbal, algumas do acervo do conhecido fotógrafo sadino Américo Ribeiro, a par de cestos utilizados nas descargas de peixe.

Pela importância etnográfica e relevância cultural, a Câmara Municipal de Setúbal tem a intenção de tornar aquele espaço museológico criado a partir de um investimento conjunto dos municípios de Cento, Ferrara e Bolonha numa extensão do Museu do Trabalho Michel Giacometti, instalado na urbe sadina.   

José Miguel da Fonseca, nascido em Setúbal a 17 de março de 1932, analfabeto, exerceu a profissão de descarregador de peixe. No início dos anos 80, conheceu a investigadora parisiense Noëlle Perez Christiaens, que estudava a postura dos descarregadores de peixe.

Apaixonado pelo atividade tauromáquica, José Miguel da Fonseca casou com Noëlle Perez Christiaens, em 1984, na Praça de Touros de Alcochete. Foi em Paris, França, dois anos depois, que descobriu a pintura. Retratava o que conhecia, a doca de Setúbal, os descarregadores de peixe e as touradas.

Descrito por especialistas como “um puro naïf”, os trabalhos de José Miguel da Fonseca, quer as pinturas em tela, quer os apontamentos gráficos que realizava em variados crustáceos, já estiveram expostos em duas galerias de Paris e numa em Amesterdão, Holanda.

“Foi carregador de peixe, com orgulho. Foi o que podia ser, o que quis ser com a sua companheira improvável. Mas, afinal, é sempre das improbabilidades que nascem as grandes descobertas, as grandes conquistas, os grandes amores”, salientou Maria das Dores Meira.

José Miguel da Fonseca, agraciado pela Câmara Municipal de Setúbal com a Medalha da Cidade em 2011, faleceu a 31 de julho. “Recordo o homem que, com inteligência, se manteve fiel ao que sempre foi e que era feliz por ser quem era”, afirmou a presidente da autarquia sadina.

A inauguração do museu contou ainda com as presenças de Noëlle Perez Christiaens, dinamizadora deste projeto e diretora da Associação ISA, e de Lenzi Stefano, presidente da Associação ISA e responsável do Projeto Museale.

Marcaram igualmente presença na cerimónia Claudia Tassinari, assessora para a Cultura do Município de Cento, bem como Gianpaolo Borghi, diretor do Centro Etnográfico de Ferrara.