A imagem imponente, sobre a qual Sérgio Odeith esclareceu ter usado uma técnica mista de “pintura com rolo e de graffiti”, é uma reprodução, com apontamentos de interpretação artística, de uma fotografia com sensivelmente oitenta anos, em que o antigo fotógrafo da cidade Américo Ribeiro retratou um menino a vender pássaros na rua.

Esta é a quarta iniciativa do projeto “Arte em Toda a Parte”, desenvolvido pela Immochan, em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal, no âmbito da construção do centro comercial Alegro Setúbal.

Através do “Arte em Toda em Parte” várias obras de arte de rua criadas por artistas conceituados estão a beneficiar esteticamente diferentes locais da cidade.

A inauguração do mural “Rapaz dos Pássaros” contou com as presenças não apenas de Odeith, da presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, e do diretor-geral da Immochan, Mário Costa, mas também do menino retratado, Vicente Inácio Martins, atualmente com 91 anos.

Parco em palavras, Vicente Martins olha “com satisfação” para o mural que ocupa toda a empena sul daquele equipamento cultural de Setúbal.

A descoberta do menino da imagem deu-se por um acaso, com Sérgio Odeith a recordar que, dois dias depois do início do projeto, foi abordado por um homem. “Ele disse-me: ‘Esse é o meu tio e ainda está vivo!’ Quis logo falar com o senhor e foi o que aconteceu. O facto de o ter conhecido pessoalmente deu uma carga emocional ainda mais forte ao projeto, até porque, sendo os meus pais alentejanos, já tinha uma grande ligação com a imagem, pois cresci com pintassilgos e todo o género de pássaros.”

Vicente Martins ainda recordou ao público presente na inauguração o pregão com que corria as ruas na altura. “Quem meeerca pássaros?”, desafiava, então, o pequeno vendedor os transeuntes sadinos.

Maria das Dores Meira sublinhou no momento da inauguração o orgulho com que Setúbal ostenta agora a nova criação. “Obrigada, Sérgio [Odeith]. Olhe que há mais coisas para fazer na cidade.”

A autarca enfatizou igualmente a importância do trabalho desenvolvido por Américo Ribeiro, a quem o projeto presta também uma homenagem, realçando que a esta é “uma obra de arte que valoriza um equipamento da cidade”.

A presidente da Câmara Municipal salientou ainda a importância e originalidade do “Arte em Toda a Parte”. “Não conheço mais nenhum projeto em que uma empresa, que está a investir e a criar postos de trabalho com um projeto desta natureza e dimensão [Alegro Setúbal], também tenha tido a preocupação de enriquecer com obras artísticas a cidade em que está a apostar.”

Mário Costa, para quem o “Arte em Toda a Parte” teria “sido impossível sem o apoio que a Câmara Municipal está a dar”, realçou que o principal objetivo do projeto é, “através da arte, valorizar a cidade e a sua gente”.

O mural “Rapaz dos Pássaros”, que pode ser visto a várias centenas de metros de distância, é quase todo a preto e branco, com exceção das aves, coloridas a graffiti.

O primeiro comentário partilhado por Vicente Martins com os familiares quando viu o mural incidiu na ligadura que tinha, no momento da foto, em volta de um dos tornozelos dos pés descalços. O nonagenário já não se recorda, todavia, da causa da ferida.

À reprodução da fotografia original, tirada, a preto e branco, há cerca de 80 anos, Odeith acrescentou ainda adornos tridimensionais ou anamórficos, característica que o distingue como artista, presentes na pintura da moldura e da assinatura da obra, transmitindo a sensação de profundidade.

Sérgio Odeith levou nove dias a completar a obra, com um de paragem pelo meio, porque, explicou com humor, “o Benfica jogava nessa altura”.

Tal como as restantes obras do “Arte em Toda a Parte”, este mural vai ser usado como motivo decorativo, através de uma reprodução, no futuro Alegro Setúbal.