Bivalves do Sado

Especialistas da área das ciências do mar e do ambiente reuniram-se na tarde de dia 19 para partilhar conhecimentos e curiosidades sobre os bivalves do Estuário do Sado.


Das espécies de bivalves presentes no estuário ao valor nutricional, foram várias as questões em debate no webinar “Bivalves do Sado”, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal e pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, no âmbito do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si”.

Em relação a tipologias, o Estuário do Sado tem seis espécies exóticas invasoras com tendência crescente, revelou a investigadora Paula Chainho, na primeira intervenção do webinar, cuja moderação esteve a cargo de Ana Cristina Falcão, da Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo.

“São os casos da amêijoa-asiática, amêijoa-japonesa, ostra-portuguesa, clame-da-areia, ostra-do-pacífico e o mexilhão-pigmeu. Esta realidade é preocupante porque as espécies exóticas estão a ganhar dominância em relação às espécies nativas”, explicou a investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

A introdução da amêijoa-japonesa no Sado e noutros sistemas estuarinos europeus coincidiu com uma diminuição significativa da amêijoa-boa, uma vez que a “japonesa” ocupa o mesmo tipo de habitat e compete pelo mesmo espaço e alimento, assinalou a bióloga, apoiando-se em investigações realizadas nos últimos anos.

Outra curiosidade apontada por Paula Chainho é de que há “graves problemas” de regulamentação que afetam a gestão da pesca de bivalves. “No Estuário do Tejo, as amêijoas-japonesas são declaradas como tendo sido capturadas no Estuário do Sado, o que facilita a comercialização em Portugal.”

No entanto, “a exploração no Estuário do Tejo representa um risco para a saúde pública, já que os espécimes aí capturados possuem elevados níveis de contaminação microbiológica”.

No que diz respeito a abundância, Paula Chainho adiantou a dominância da ostra-portuguesa na biomassa dos bivalves da zona intermédia do estuário, enquanto a ostra-anã é a espécie mais abundante.

O webinar “Bivalves do Sado”, assistido por perto de quatro dezenas de pessoas, contou, na sessão de abertura, com um agradecimento às oradoras pela vereadora da com o pelouro da Saúde, Carla Guerreiro, e do arquiteto David Gonçalves, em representação do diretor regional do ICNF.

Participaram ainda responsáveis de diferentes áreas, com abordagens variadas em torno da temática dos bivalves do Sado.

Célia Rodrigues, da empresa de ostras Neptun Pearl, falou sobre o “enorme potencial” das macroalgas e das ervas marinhas, ricas em nutrientes e com diversos benefícios para a saúde, para lamentar a “ausência de um motor de arranque” para se começar a olhar para a produção deste tipo de plantas.

“No Estuário do Sado existem em grande abundância. Devia haver legislação para a comercialização de produtos à base destas macroalgas”, defendeu.

Sónia Pedro, investigadora do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, focou a intervenção na importância dos bivalves na saúde, sobretudo porque retêm os vírus existentes nas colunas de água.

“Os bivalves são animais com uma atividade fisiológica muito particular. Alimentam-se através da respiração e da alimentação, filtrando uma grande quantidade de água. Com esta capacidade de filtração, são capazes de reter e concentrar as várias partículas e microrganismos existentes na coluna de água, particularmente as bactérias e os vírus.”

Helena Lourenço, igualmente investigadora do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, analisou a monitorização de metais contaminantes.

“A única espécie de bivalves com proibição de captura é a ostra-portuguesa, devido aos teores do metal cádmio acima do limite permitido de 1 miligrama por quilo. Isto verifica-se no Estuário do Sado, mas apenas no canal de Alcácer do Sal. No resto do estuário, os níveis de metais pesados encontram-se abaixo dos limites da Comissão Europeia.”

O encontro, disponível aqui, destacou, ainda, o valor nutricional dos bivalves, numa alocução a cargo de Narcisa Bandarra, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Segundo a investigadora, os bivalves têm grande importância na dieta humana. “São um alimento de baixo valor calórico. Uma dose de 100 gramas de ácido eicosapentaenoico e ácido docosa-hexaenoico, importante na prevenção da doença cardiovascular.”

Por fim, Ângela Jardim, médica-veterinária, da Direção-Geral da Alimentação e Veterinária, analisou assuntos relacionados com segurança alimentar, concretamente sobre o Plano de Aprovação e Controlo de Estabelecimentos no âmbito dos centros de depuração e expedição de moluscos bivalves vivos.