Encontro Pela Paz 2021

A criação de uma sociedade mais justa e solidária, tolerante com as diferenças e inimiga das desigualdades, foi apontada, em encontro realizado no dia 5 de junho, no Fórum Municipal Luísa Todi,  como fundamental para garantia da paz entre os povos.


O Encontro pela Paz, promovido pelo CPPC – Conselho Português para a Paz e Cooperação juntamente com um conjunto de doze entidades e organismos, incluindo o município de Setúbal, partilhou contributos e reflexões para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica.

Na sessão de abertura da iniciativa, com o lema “Pela Paz Todos Não Somos Demais”, a presidente Maria das Dores Meira reafirmou o compromisso do município setubalense com a paz pelo desenvolvimento de um projeto que assenta na “valorização do território e das populações” e que motivou a participação no Movimento de Municípios pela Paz.

“Em Setúbal, trabalhamos incessantemente para assegurar uma vivência comum pacífica. Fazemo-lo acolhendo da melhor forma todos os que nos procuram, seja porque fogem da pobreza, seja porque é aqui que procuram encontrar melhor vida.”

A autarca sublinhou a necessidade de se combater o racismo e a xenofobia, “ou seja, os lugares ideológicos onde começam todos os fascismos”, e apelou à luta contra as “novas e modernas tentativas de recuperar velhas e mais do que antigas ideias”.

A autarca defende que ninguém se deve calar na defesa de “um futuro melhor para todos” porque “não é com o silêncio que se consegue combater os novos fascistas e inimigos da paz”, considerando necessário “falar deles para mostrar o disparate do que defendem, a estupidez do que afirmam, o absurdo das ideias que, uma vez mais, muitos deles querem impor violentamente”.

A sessão de abertura contou, igualmente, com a intervenção da presidente do CPPC, Ilda Figueiredo, que destacou o “elevado número de participantes, mais de três centenas, em representação de mais de 90 instituições e organizações”.

Ilda Figueiredo alertou para as consequências da crise pandémica, que “agravou desigualdades e proporcionou que forças xenófobas se tentem afirmar”, pelo que apelou à “importância da convergência no mundo atual”.

A responsável reafirmou, igualmente, o compromisso do CPPC com “a exigência do fim das armas de destruição massiva, o fim da corrida aos armamentos, a promoção dos valores de Abril, a amizade entre povos em todo o mundo e a instauração de uma ordem internacional capaz de assegurar a justiça”.

Estes e outros temas marcaram as intervenções dos oradores convidados nos três painéis do encontro, com destaque para a reflexão sobre o conflito entre Israel e a Palestina e o Tratado de Proibição de Armas Nucleares da ONU – Organização das Nações Unidas.

“Portugal deve aderir ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, até mesmo por imperativo constitucional”, defendeu o presidente da mesa da Assembleia da Paz da CPPC, Baptista Alves, no primeiro painel com o tema “Paz e Desarmamento”.

O responsável manifestou preocupação com o crescimento dos arsenais militares, o que “assume proporções assustadoras, constituindo um perigo de inimaginável catástrofe para a Humanidade”.

A mesma ideia foi partilhada pela dirigente do MDM – Movimento Democrático das Mulheres, Regina Marques, que destacou o aumento das despesas militares mundiais em 2020 em contraponto com a descida do PIB.

“A paz mundial está ameaçada por esta corrida ao armamento e pelo vertiginoso desequilíbrio dos recursos financeiros com gastos militares, face ao investimento em saúde e educação, por exemplo.”

Além das guerras militares, Regina Marques sublinhou o perigo das “guerras económicas com sanções unilaterais importas pelos Estados Unidos que impedem o abastecimento de produtos essenciais a determinados países e constituem armas modernas de destruição massiva”.

Já o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos, destacou o papel do Movimento de Municípios pela Paz, ao qual preside, que, constituído por 36 municípios portugueses, desenvolve um conjunto de iniciativas para “impulsionar a educação pela paz junto das populações”.

Joaquim Santos destacou uma visita à Palestina, em março de 2019, na qual o movimento “estabeleceu uma série de contactos com instituições locais que permitiram perceber as dificuldades para garantir as necessidades básicas das populações”.

O autarca seixalense sublinhou a resistência do povo palestino, que, “na luta incansável pelo direito a ter um país livre e independente, recebe como resposta por parte de Israel a morte de pessoas e a violação diária dos direitos humanos”.

Para a conselheira nacional da União de Resistentes Antifascistas Portugueses, Anabela Carlos, um dos perigos atuais é “o crescimento de ideias intolerantes e de regimes que usam outras roupagens para angariar adeptos através da mentira”.

A responsável da URAP sublinhou as conquistas permitidas pela revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, designadamente a Constituição da República Portuguesa que “é uma das mais progressistas do mundo”.

Nesse sentido, foi mais uma das vozes neste encontro a apelar à união de esforço para que o governo português “cumpra a Constituição e adira ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares”.

O encontro prosseguiu da parte da tarde com o painel “Cultura e Educação para a Paz”, no qual Isabel Graça, dirigente da CPCCRD – Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, destacou o trabalho desenvolvido pelo movimento associativo para “sensibilizar e mobilizar as populações para a defesa da paz”.

A responsável reiterou o esforço para reforçar a parceria entre o CPCCRD e o Conselho Português para a Paz e Cooperação “na luta por uma sociedade mais justa e solidária, sobretudo na atual conjuntura, em que a paz é tantas vezes colocada em causa”.

Também o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, sublinhou a importância da educação para a paz, na qual “a escola assume papel de destaque enquanto elemento fundamental na formação do indivíduo”, por isso, defende, “é decisivo apostar na escola pública”.

A cultura é outro fator importante, sendo que “a multiculturalidade deve constituir um fator de agregação com respeito por todos”, com a realização de iniciativas que abordem a cultura de forma integrada.

O papel da escola também foi destacado pelo membro do Secretariado Nacional da FENPROF José Costa que defendeu que “a educação para a paz deveria ser uma referência obrigatória no projeto educativo de todas as escolas”.

O sindicalista frisou, no entanto, que escola pública “para ser democrática e inclusiva e cumprir o papel fundamental de educar precisa de meios e investimento”.

Para o coordenador da Juventude Operária Católica, Gabriel Esteves, “a verdadeira paz passa por todas as áreas fulcrais da sociedade” e não pode haver verdadeira paz sem paz social.

“Enquanto os jovens viverem com um salário mínimo que não permite ter uma vida digna, como poderá haver paz?”, questionou.

O último painel do encontro, que analisou o tema “Solidariedade e Cooperação”, contou com a intervenção do vereador da Educação e Saúde da Câmara Municipal de Setúbal, Ricardo Oliveira, que destacou os valores que orientam o projeto autárquico em Setúbal.

“A construção de comunidades mais felizes é um elemento central do projeto autárquico que abraçamos. Os valores da participação e do respeito pela diferença, solidariedade e cooperação estão presentes em todas as dimensões deste projeto.”

Estes valores estão presentes, por exemplo, no “planeamento urbanístico do concelho, na promoção da cultura, desporto e associativismo e na promoção das atividades económicas e do emprego”.

O autarca destacou, igualmente, os projetos de requalificação do território através de programas como o Nosso Bairro, Nossa Cidade e o Programa de Intervenção no Território da Anunciada e as políticas de apoio à habitação como exemplos de que a autarquia setubalense “promove a defesa da paz em tudo o que faz”.

A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma, sublinhou a necessidade de “aprender a integrar e a dialogar com todos” no caminho para a construção de uma sociedade mais inclusiva.

A responsável realçou a necessidade de se “apostar na coesão social, designadamente em políticas e projetos que não deixem ninguém para trás” e “proteger os mais vulneráveis da exploração, através de políticas que promovam também uma mudança de mentalidades”.

As ameaças que se colocam à paz tendo em conta os “interesses do capital” preocupam a secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, para quem “separar a luta pela paz da luta pela melhoria das condições dos trabalhadores é impossível”.

A sindicalista defende que “não é livre, democrático ou desenvolvido o país que impõe a barbárie a outro” e que “a guerra, a hipocrisia e o cinismo são instrumentos para intensificar a exploração”.

Nesse sentido, destacou as iniciativas desenvolvidas pela CGTP-IN no apoio à autodeterminação dos povos, como ações de solidariedade realizadas em maio “pelo fim da agressão à Palestina”.

A situação na Palestina, que em maio, voltou a ser alvo de bombardeamentos, que causaram a morte a mais de 250 pessoas, marcou a intervenção do dirigente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente Jorge Cadima.

“É inadmissível que o Estado de Israel continue a gozar de impunidade total face aos inúmeros crimes que comete.”

O responsável considera, igualmente, “inaceitável que o Governo português continue a não reconhecer o Estado da Palestina” e que “a comunidade internacional assista impávida aos bombardeamentos de Israel à Palestina e à Síria”.

O Encontro pela Paz terminou com a leitura de um apelo pela paz, pelo coordenador da Juventude Operária Católica, Gabriel Esteves, a que se seguiu um momento de dança pelo Estúdio de Dança Kelly Nakamura.

A iniciativa continuou no exterior do Fórum Municipal Luísa Todi com um desfile que terminou junto do Monumento à Resistência, na placa central da Avenida Luísa Todi, que contou com a participação do Executivo municipal e do presidente da Assembleia Municipal de Setúbal, André Martins.

O Conselho Português para a Paz e Cooperação, os municípios de Setúbal e de Loures, a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional, a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto e a Federação Nacional de Professores foram algumas as entidades que aderiram ao Encontro pela Paz.

As restantes são Juventude Operária Católica, o Movimento Democrático de Mulheres, o Movimento Municípios pela Paz, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, a Obra Católica Portuguesa de Migrações e a União de Resistentes Antifascistas Portugueses.