Conferência "Dos Tangíveis aos Intangíveis" - A Floresta

A importância da mudança dos paradigmas da sociedade como suporte à sustentabilidade ambiental esteve em destaque no dia 15, ao final da tarde, numa conferência realizada na Casa da Baía.


“Dos Tangíveis aos Intangíveis Florestais: um novo quadro conceptual de suporte à sustentabilidade” foi o tema do último encontro do ciclo de conferências dinamizadas no âmbito da exposição “A Floresta – muito mais do que madeira”, patente no Largo José Afonso.

A sessão, conduzida por Paulo Magalhães, comissário da exposição e responsável pela Casa Comum da Humanidade em Portugal, cujo trabalho desenvolvido passa pela ambição de um futuro onde as convenções jurídicas possam andar “de mãos dadas” com a preservação do sistema terrestre onde habitamos.

Na apresentação, focada nas interações entre as sociedades humanas e as florestas, o responsável começou pela necessidade de mudança dos paradigmas da sociedade ao nível do comportamento e da economia, em prol mudança ambiental.

“As pessoas falam em construir futuro quando percebem que temos um problema de sustentabilidade. Querem soluções, mas são incapazes de pensar fora do modelo atual. Sair desse modelo e pensar no futuro como um novo, em que existem novos valores, é uma utopia”, indicou.

Face à questão de que se “há utopias que se podem tornar realidade”, Paulo Magalhães deu o exemplo da realidade da vida atual que era uma utopia há cinquenta anos.

“Tenho a certeza de que essa utopia vai ser realidade, pela força dos factos. A questão é que ao contrário das outras utopias que a humanidade viveu ao longo da História, desta vez estamos a lutar contra a lei da física”, explicou. “A grande questão é saber se ainda vamos a tempo.” 

 Para este especialista o sistema terrestre deve ser definido por fenómenos globais intangíveis, “que não se restringem por fronteiras territoriais”, e que, por ser “um bem comum, não se consegue dividir juridicamente”.

Neste sentido, defende a pertinência de um organismo criado recentemente, denominado de Casa Comum da Humanidade, a funcionar junto da Organização das Nações Unidas.

Esta casa comum atua como “uma espécie de administrador de condomínio”, com partes privadas e estruturas comuns, em que se beneficia economicamente quem cria e mantém florestas.

“Falamos de uma casa comum cujo trabalho quer contribuir para a evolução da terra. Mas isso é atualmente zero para a economia, sabemos. E este paradigma também precisamos de mudar”, frisou.

No seguimento, Paulo Magalhães exemplificou o trabalho desenvolvido pela Casa Comum da Humanidade, com missão da construção de modelos de governação global que garantam uma gestão correta dos recursos comuns.

“Porque aquilo que não vemos é, na verdade, aquilo que vale mais”, afirmou Paulo Magalhães, em jeito de conclusão da apresentação.

A conferência “Dos Tangíveis aos Intangíveis Florestais”, a última de um ciclo de quatro dedicado à importância das florestas, foi aberta pela vereadora do Ambiente da Câmara Municipal de Setúbal, Carla Guerreiro.

“Temos, em Setúbal, um património vivo que damos como adquirido por fazer parte de nós. Só nos damos conta disso quando chega alguém de fora e o elogia. É um grande orgulho sabermos que temos este património ambiental, que são a serra e o rio, acessíveis a todos.”

A conferência “Dos Tangíveis aos Intangíveis Florestais: Um Novo Quadro Conceptual de Suporte à Sustentabilidade” fez parte de um ciclo de encontros organizado pelo Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra em parceria com a Fundação “la Caixa” e com apoio da Câmara Municipal de Setúbal.

O ciclo de conferências decorreu no âmbito da exposição “A Floresta – Muito mais do que madeira”, a primeira mostra itinerante em Portugal da Fundação “la Caixa”, numa organização conjunta com o BPI, em parceria com a autarquia de Setúbal.

A exposição pode ser visitada até dia 25, no Largo José Afonso, de segunda a sexta-feira das 12h00 às 14h00 e das 15h00 às 20h00 e aos sábados, domingos e feriados das 11h00 às 14h00 e das 15h00 às 20h00.

Inclui visitas guiadas para o público em geral, de segunda a sexta-feira às 18h00 e aos sábados, domingos e feriados às 12h00 e às 18h00, e a visitas de grupos escolares, de segunda a sexta-feira das 09h30 às 13h30 e das 15h00 às 17h00, com marcações pelo telefone 211 216 262.

O ciclo de conferências relacionado com esta mostra ambiental foi iniciado a 19 de março, numa sessão sobre “A Árvore e a Cidade”, conduzida por Raquel Pires Lopes, investigadora e estudante de doutoramento em Biologia no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Professores da Universidade de Aveiro.

Seguiu-se, a 4 de abril, um encontro com o tema “A Relevância do Bosque Ibérico na História Peninsular”, por Jorge Paiva, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

No dia 10 foi a vez da conferência “À Conversa sobre as Plantas Invasoras: o que são, onde estão e como as controlar”, por Elisabete Marchante, investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

O ciclo encerrou ontem com “Dos Tangíveis aos Intangíveis Florestais: Um Novo Quadro Conceptual de Suporte à Sustentabilidade”, por Paulo Magalhães.