A rota de peregrinação dos Caminhos de Santiago na península de Setúbal, com mais de noventa quilómetros de percursos e que integra, agora, o itinerário central português, está a ser valorizada com um novo projeto de promoção e de reforço de segurança.
A iniciativa, apresentada ontem, no âmbito das comemorações do Dia de Santiago, junta os municípios de Setúbal e Palmela na dinamização de um projeto que procura divulgar, promover e tornar mais confortável e segura a experiência dos peregrinos que atravessem estes dois concelhos ao percorrer a península de Setúbal na rota dos Caminhos de Santiago.
Para isso, é desenvolvido um conjunto de ações que passam por tornar esta rota mais apelativa, visível e acessível, desde logo com a instalação de sinalética identificativa em vários pontos estratégicos do percurso, para tornar a jornada dos caminhantes mais cómoda e segura.
Acresce o desenvolvimento de uma estratégia conjunta intermunicipal de comunicação e informação transversal a todos os concelhos por onde passa a rota da península de Setúbal dos Caminhos de Santiago, como a criação de condições de restauração e acolhimento em albergues instalados ao longo dos percursos e que totalizam, no conjunto de todos os territórios da região, 90,5 quilómetros.
A importância deste projeto para valorização e afirmação da península de Setúbal enquanto destino de excelência de manifestações religiosas, culturais e turísticas foi partilhada pela presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, e pelo vereador da Cultura e do Turismo do município de Palmela, Luís Calha.
Esta rota, que advém de um estudo neste território realizado pela Associação de Peregrinos Via Lusitana, tem por base evidências históricas e patrimoniais existentes na região e vai garantir, agora, melhores condições de segurança e de apoio, o que permite avançar para a sua certificação.
O presidente da direção da Associação de Peregrinos Via Lusitana, José Sanches, sublinhou que a rota da Península de Setúbal dos Caminhos de Santiago, à semelhança dos outros percursos de peregrinação, não é simplesmente um trajeto desportivo, mas sim um caminho feito de história, cultura e fé.
Já o responsável técnico da Associação de Peregrinos Via Lusitana, Paulo Fernandes, que coordenou o estudo realizado no território, destacou o facto de ter sido preenchido um vazio, uma vez que a península de Setúbal esteve, até 2020, fora da rede oficial dos Caminhos de Santiago.
O percurso dos Caminhos de Santiago pela península de Setúbal está dividido em quatro etapas, a primeira, e também mais longa, com um total de 31,5 quilómetros, une Casebres a Águas de Moura, a que se segue um percurso mais curto, com 24 quilómetros, entre Águas de Moura e Setúbal.
A terceira etapa é feita, em exclusivo, no concelho de Setúbal, com um trajeto de 18 quilómetros entre a cidade sadina e a aldeia de Vendas de Azeitão, no qual é possível apreciar, entre outros, edifícios de elevado valor patrimonial, como o Portal da Gafaria, o Convento de São João, a Casa do Corpo Santo e o Hospital João Palmeiro.
O Bispo de Setúbal, D. José Ornelas Carvalho, ao realçar o evidente peso histórico e religioso em matéria de referências ao apóstolo Santiago na região, partilhou uma mensagem de espiritualidade na qual afirmou que a viagem pelos Caminhos de Santiago favorece o autoconhecimento e a abertura ao mundo.
Já a presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, Célia Marques, em representação da Federação Portuguesa do Caminho de Santiago, explanou sobre a evolução desta entidade a nível europeu e nacional, e destacou a importância de trilhos e caminhos usados anualmente por milhares de peregrinos.
Em Setúbal, onde os principais pontos de interesse desta rota de peregrinação estão localizados na zona do centro histórico, os possíveis locais de alojamento, para já, são a Casa do Largo – Pousada da Juventude e a Casa das Quatro Cabeças.
A quarta e última etapa da rota da península de Setúbal dos Caminhos de Santiago, com 17 quilómetros, vai de Vendas de Azeitão ao Barreiro, cidade a partir da qual é possível realizar uma ligação fluvial até Lisboa, para, depois, retomar a peregrinação pelo trajeto central até Santiago de Compostela, em Espanha.
O apóstolo Santiago é o patrono da associação de monges guerreiros que viria a denominar-se Ordem Militar de Santiago de Espada, a qual esteve encarregue de combater inimigos e de proteger os territórios cristianizados na Península Ibérica.
O ramo português formou-se em 1172, tendo passado a governar, por doação régia, territórios a sul do Tejo, como Alcácer do Sal e Palmela, em cujo castelo viriam a ter residência oficial, nele construindo também a igreja conventual, agora designada de Igreja de Santiago, na qual decorreu a apresentação deste projeto.
Com o incremento, no século IX, das peregrinações à Catedral de Santiago de Compostela, Setúbal tornou-se, desde muito cedo, ponto de passagem tradicional e entreposto de apoio espiritual e físico dos romeiros, os quais podiam acolher-se no Hospital João Palmeiro.
O desenvolvimento do Caminho de Santiago é reconhecido pelo Turismo de Portugal, na Estratégia Nacional de Turismo 2027, como medida de valorização do território e das comunidades, com o objetivo de posicionar Portugal internacionalmente como destino espiritual e cultural.
Os municípios de Setúbal e Palmela, membros da Federação Portuguesa do Caminho de Santiago, dinamizaram, ontem, Dia de Santiago, um conjunto de iniciativas culturais de comemoração da efeméride, como um concerto de música medieval e renascentista, um passeio pedestre e o peddy-paper “Setúbal nos Caminhos da Peregrinação”.
No âmbito das comemorações, destaque ainda para a arte efémera que inspirou a elaboração, ao longo deste sábado, no Largo de Santa Maria, em Setúbal, do “Tapete do Mundo”, com dois metros de comprimento e dois metros de largura, composto por flores, sal, areia e serradura.
Ao mesmo tempo da iniciativa em Setúbal, a qual foi impulsionada por Isabel Curto Castan, artista apaixonada pela arte efémera, voluntários em 200 cidades de 30 países de todo o mundo produziram tapetes com um desenho igual, especialmente dedicado aos Caminhos de Santiago.
A ideia surgiu por iniciativa da Comissão Gestora de Entidades Alfombristas do Caminho de Santiago, no âmbito das comemorações do ano Jacobeu 2021, com o tema “Simbolicamente Unidos pelo Mesmo Caminho”.
