A professora e investigadora Fátima Ribeiro de Medeiros e o presidente da Associação Cultural Sebastião da Gama, Lourenço de Morais, em conferência integrada nas comemorações do centenário do nascimento de Joana Luísa e Sebastião da Gama

A importância do poeta Sebastião da Gama para os direitos das crianças foi destacada pela professora e investigadora Fátima Ribeiro de Medeiros, numa conferência integrada no programa de comemorações do centenário do nascimento de Joana Luísa e Sebastião da Gama.


Integrada no ciclo “Ler Sebastião da Gama”, a conferência, realizada ao fim da tarde de 17 de novembro no Museu de Setúbal/Convento de Jesus, com organização da Câmara Municipal de Setúbal, Junta de Freguesia de Azeitão e Associação Cultural Sebastião da Gama, abordou “a presença da criança e do seu universo na poesia de Sebastião da Gama”, um tema que a oradora disse que “não tem sido trabalhado”.

Ao lado do presidente da Associação Cultural Sebastião da Gama, Lourenço de Morais, Fátima Ribeiro de Medeiros recordou que a aposta do Poeta da Arrábida na efetivação dos direitos da criança fez com que “vários autores de antologias poéticas para a infância tenham escolhido poemas seus para figurarem nas suas coletâneas”.

Sebastião da Gama gostava que as crianças “tivessem o direito à infância”, tendo a professora e investigadora citado uma carta do poeta para a mulher, Joana Luísa, na qual falava do Pastorzinho, “a quem decidiu ensinar a ler, procurando agir para atenuar a vida de infortúnio a que essa criança estava condenada” pela sua condição social.

“Encarava os meninos e as meninas como companheiros de caminhada, amava-os, procurava aprofundar a sua humanidade, pretendia que expandissem conhecimentos desde a infância, trabalhava contra a sua solidão e as relações de força que os enclausuravam”, afirmou.

A oradora lembrou que os poemas de Sebastião da Gama protagonizados por crianças ou com a sua presença foram escritos na década de 1940 e nos primeiros anos da década seguinte, muito antes de a Assembleia Geral das Nações Unidas adotar a Declaração dos Direitos da Criança, em 20 de novembro de 1959, mais de sete anos e meio depois da morte do poeta e pedagogo, em 6 de fevereiro de 1952.

Fátima Ribeiro de Medeiros notou que diversos autores construíram a partir das teorias sobre a criança de vários investigadores “os fundamentos que serviram de substrato ao seu trabalho literário no âmbito da infância, influenciando atitudes pedagógicas e criativas, mesmo que nem sempre essa relação tenha sido reconhecida”.

Na obra de Sebastião da Gama, como recordou, há textos “destinados a serem lidos por crianças”, outros “que acompanham gestos e atitudes de crianças”, outros “que apontam para o ler, o ouvir e o brincar”, outros “que referem uma infância magoada” e, finalmente, outros “que relacionam o sujeito poético e a infância”.

No final da apresentação, a vice-presidente da Câmara Municipal, Carla Guerreiro, sublinhou a “atualidade das palavras” de Fátima Ribeiro de Medeiros, destacando que hoje ainda continua a ser necessário “explicar que as crianças precisam de um tempo para brincar”, o que é “fonte de desenvolvimento”, e “ponderar as questões da saúde mental” nas crianças e nos jovens.

A autarca notou que Sebastião da Gama tinha “uma visão muito progressista”, numa altura em que “muitas vezes as crianças eram vistas, num Portugal fascista, como mais uma mão de obra para contribuir para o rendimento da família”, começando a trabalhar muito precocemente.

“E tudo isto que hoje nos fez aqui revisitar deveria ser entregue a muitas pessoas no nosso país que hoje têm responsabilidades na área da educação e que deviam levar também uma espécie de um banho daquilo que era, na altura, a visão de um homem”, afirmou.