Comemorações do Centenário de José Saramago - Legados Saramaguianos - Afonso Reis Cabral

Um encontro-debate com o escritor Afonso Reis Cabral sobre a ficção contemporânea em língua portuguesa no contexto da herança literária do Nobel da Literatura José Saramago realizou-se a 30 de abril, na Casa da Cultura.


A iniciativa, dinamizada no âmbito do ciclo de conversas Legados Saramaguianos, foi moderada pelo comissário para as Comemorações do Centenário de José Saramago, Carlos Reis, e contou com a presença do vereador da Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, e do presidente da Assembleia Municipal, Manuel Pisco.

Depois de sublinhar que a sessão tinha a ver “com a leitura de Saramago, com a releitura de Saramago, com a leitura que outros escritores da geração seguinte fizeram de José Saramago”, Carlos Reis questionou Afonso Reis Cabral sobre se sentiu que o Prémio Nobel era “uma ‘pedra’ no meio do caminho”, como por vezes acontece com escritores de gerações seguintes relativamente a autores de grade dimensão.

“Não se trata de erigir Saramago em referência inultrapassável, nem pensar que um escritor de outra geração é necessariamente imitador do que veio antes. Se fosse assim, não valia a pena escrever literatura”, acrescentou, no entanto, Carlos Reis, para quem “os modelos rígidos estão fora do horizonte”.

Vencedor do Prémio LeYa em 2014 com o seu primeiro romance, “O Meu Irmão”, e do Prémio Literário José Saramago em 2019, com o segundo, “Pão de Açúcar”, Afonso Reis Cabral, de 32 anos, garantiu que Saramago não foi para si uma pedra no meio do caminho, apesar de o considerar “uma referência fulcral na literatura portuguesa contemporânea”.

O trineto de Eça de Queirós afirmou que, por um lado, o seu tipo de literatura não é, de maneira nenhuma”, semelhante ao de José Saramago, pelo que tenta retirar “o que há de bom na influência e não o que há de angústia”.

Por outro, recordou que cresceu com o autor “já institucionalizado” e “de manual”, tendo feito “um esforço grande” para conhecer “o Saramago puro” aos 12 anos, quando leu o “Ensaio Sobre a Cegueira” “mais ou menos do nada, sem ter em consideração a ideia de Nobel, a ideia de grande intelectual público que foi Saramago”.

Carlos Reis considerou que “um escritor da dimensão de Saramago não deve ser rigidificado em torno de um título”, afirmando que de José Saramago “ficarão, provavelmente, daqui a cem anos três ou quatro livros”, sendo, na sua opinião, certos nessa lista “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “Ensaio Sobre a Cegueira”.

Por ocasião do centenário do seu nascimento, a 16 de novembro de 1922 em Azinhaga, Golegã, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1998 e do Prémio Camões em 1995 é este ano alvo de uma homenagem a nível nacional, sendo as comemorações em Setúbal resultado de uma parceria entre a Fundação Saramago e a Câmara Municipal.

Em Setúbal, o programa das comemorações inclui exposições, cinema, tertúlias, instalações artísticas, concertos, teatro e várias outras atividades evocativas de José Saramago, quer enquanto escritor, quer como cidadão com uma marca vincada na sociedade.

 

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